segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Considerações sobre política exterior


Os países poderosos estabelecem sua política externa, e os países subsidiários se alinham a eles afim de garantir os benefícios do comércio e, não raro, de proteção.

Obedecendo este procedimento, o Brasil, como os demais nações, tem se alinhando historicamente com os Estados Unidos. Porém, a queda do Muro de Berlim minou esta equação, onde os interesses se equilibravam. O término do perigo representado pela União Soviética retirou à América do Norte o maior de seus trunfos, por apagar-se o fantasma que só a ela cabia o exorcismo. 

Restou-lhes, contudo, o poder da maior economia mundial, de onde decorre a sua  capacidade de influência e conquista de mercados comerciais e financeiros, valendo-se da ubiqüidade do dólar como moeda-reserva. Não podem, também, ser desprezadas as posições de mando que detêm em organizações tais como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, e seu poder de arregimentação e veto no Conselho de Segurança da ONU. No campo dos conflitos, destaca-se, também, a eficácia de sua política de Sanções Econômicas. Quanto às opções militares, estas têm se revelado desastradas, apesar de comandar o mais poderoso exército do planeta

Acompanhando as novas limitações do “Hard Power”,  mantido pela dormente doutrina do MAD (Mutually Assured Destruction) mas de duvidosa valia na Guerra Assimétrica,  observa-se, ainda, a redução continua de seus programas de apoio financeiro a países em  desenvolvimento. Reduz-se, assim, a queda de seu “Soft Power”, fragilizado pelas prioridades conflitantes de uma economia desarrumada e de conflitos armados no Oriente Médio e adjacências.

A partir destas mudanças, mudaram as políticas externas dos países marginais ao núcleo de poder, adaptando-se às novas realidades e novos interesses. O Brasil antigo, com dependência aguda do mercado norte americano e ávido por produtos de consumo e investimentos, transformou-se, gradualmente, num gigante nos campos agro pecuário e de mineração,  bem como em destino atrativo de capitais industriais americanos, europeus, japoneses e chineses. Esta diversificação crescente e multilateral levou o país a reduzir, naturalmente, o grau de subordinação amigável que até então determinava suas relações com os Estados Unidos.

Por conseqüência, no campo da diplomacia o Brasil vem ampliando sua presença num ambiente de crescente multilateralidade, atraindo novos parceiros, poderosos ou modestos, para os foros internacionais onde se decidem questões de interesse nacional. Não tendo a força necessária de inserir-se  no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas, projeta o Brasil crescente influência na Assembléia Geral daquela organização. Valoriza, também, sua presença em instituições vitais como a Organização Internacional do Comércio, hoje presidida por diplomata brasileiro.

Esta diversificação não deveria ser interpretada, o que acontece com freqüência, como sendo uma política anti-norte-americana.  Razoável será o Brasil compensar, com novas iniciativas, os obstáculos identificados na política externa e comercial de Washington, tais como o veto à participação brasileira no Conselho de Segurança das Nações Unidas, política contrária à aquisição de tecnologia espacial e nuclear, política agrícola contrária aos nossos interesses, limitação de voto no Fundo Monetário Internacional,  etc...  No entanto,  sendo os Estados Unidos o segundo parceiro comercial do Brasil, e exercendo forte influência política, econômica e financeira sobre as maiores nações do planeta, não parece ser de nosso interesse hostilizá-los, nem, tão pouco, desrespeitar seus interesses internacionais.  É da conveniência brasileira oferecer-lhes colaboração e solidariedade, sem, contudo, inibir a expansão de nossa influência internacional, seja ela bilateral, seja multilateral.

O que vai acima, contudo, não justifica submeter a política externa brasileira às prioridades passageiras de interesse exclusivamente ideológico.  Preferenciar as relações com a Venezuela e Cuba, declarados inimigos dos Estados Unidos, sem mantê-las dentro dos limites do bom senso, em nada beneficiam o Brasil. São países cujo comercio e finanças não compensam o ônus do relacionamento.  Pelo contrário, o apoio explícito  à  forma não democrática de seus governos permite ao observador concluir pela preferência de Brasília por aquele formato político. Tal percepção fere a confiabilidade internacional no Brasil. Não é a trilha que a Nação deve seguir.




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