Os países
poderosos estabelecem sua política externa, e os países subsidiários se alinham
a eles afim de garantir os benefícios do comércio e, não raro, de proteção.
Obedecendo este
procedimento, o Brasil, como os demais nações, tem se alinhando historicamente com os Estados Unidos. Porém, a queda do Muro de Berlim minou esta equação, onde os interesses se
equilibravam. O término do perigo representado pela União Soviética retirou à América do Norte o maior de seus trunfos,
por apagar-se o fantasma que só a ela cabia o exorcismo.
Restou-lhes, contudo, o poder da maior economia mundial, de onde decorre a
sua capacidade de influência e
conquista de mercados comerciais e financeiros, valendo-se da ubiqüidade do
dólar como moeda-reserva. Não podem, também, ser desprezadas as posições de
mando que detêm em organizações tais como o Fundo Monetário Internacional, o
Banco Mundial, e seu poder de arregimentação e veto no Conselho de Segurança da
ONU. No campo dos conflitos, destaca-se, também, a eficácia de sua política de
Sanções Econômicas. Quanto às opções militares, estas têm se revelado
desastradas, apesar de comandar o mais poderoso exército do planeta
Acompanhando as novas limitações do “Hard Power”, mantido pela
dormente doutrina do MAD (Mutually Assured Destruction) mas de duvidosa valia
na Guerra Assimétrica, observa-se,
ainda, a redução continua de seus programas de apoio financeiro a países
em desenvolvimento. Reduz-se, assim, a queda
de seu “Soft Power”, fragilizado pelas prioridades conflitantes de uma economia
desarrumada e de conflitos armados no Oriente Médio e adjacências.
A partir destas
mudanças, mudaram as políticas externas dos países marginais ao núcleo de
poder, adaptando-se às novas realidades e novos interesses. O Brasil antigo,
com dependência aguda do mercado norte americano e ávido por produtos de consumo e investimentos,
transformou-se, gradualmente, num gigante nos campos agro pecuário e de mineração, bem como em destino atrativo
de capitais industriais americanos, europeus, japoneses e chineses. Esta diversificação
crescente e multilateral levou o país a reduzir, naturalmente, o grau de
subordinação amigável que até então determinava suas relações com os Estados
Unidos.
Por conseqüência, no campo da
diplomacia o Brasil vem ampliando sua presença num ambiente de crescente multilateralidade,
atraindo novos parceiros, poderosos ou modestos, para os foros internacionais
onde se decidem questões de interesse nacional. Não tendo a força necessária de
inserir-se no âmbito do Conselho de Segurança
das Nações Unidas, projeta o Brasil crescente influência na Assembléia Geral
daquela organização. Valoriza, também, sua presença em instituições vitais como
a Organização Internacional do Comércio, hoje presidida por diplomata
brasileiro.
Esta
diversificação não deveria ser interpretada, o que acontece com freqüência, como sendo uma política anti-norte-americana.
Razoável será o Brasil compensar, com novas iniciativas, os obstáculos
identificados na política externa e comercial de Washington, tais como o veto à
participação brasileira no Conselho de Segurança das Nações Unidas, política
contrária à aquisição de tecnologia espacial e nuclear, política agrícola
contrária aos nossos interesses, limitação de voto no Fundo Monetário
Internacional, etc... No entanto,
sendo os Estados Unidos o segundo parceiro comercial do Brasil, e
exercendo forte influência política, econômica e financeira sobre as maiores
nações do planeta, não parece ser de nosso interesse hostilizá-los, nem, tão pouco, desrespeitar seus interesses internacionais.
É da conveniência brasileira oferecer-lhes colaboração e solidariedade,
sem, contudo, inibir a expansão de nossa influência internacional, seja ela
bilateral, seja multilateral.
O que vai acima,
contudo, não justifica submeter a política externa brasileira às prioridades
passageiras de interesse exclusivamente ideológico. Preferenciar as relações com a Venezuela e Cuba, declarados inimigos dos Estados Unidos, sem mantê-las dentro dos
limites do bom senso, em nada beneficiam o Brasil. São países cujo comercio e finanças não compensam o ônus do relacionamento. Pelo contrário, o apoio
explícito à forma não democrática de seus governos permite ao observador concluir pela preferência de
Brasília por aquele formato político. Tal percepção fere a confiabilidade
internacional no Brasil. Não é a trilha que a Nação deve seguir.
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