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“Ah! Essa não! Jamais
tal coisa acontecerá.” Esta exclamação seguiu-se à uma afirmativa que a espionagem
interna de um país terminará por atropelar os direitos fundamentais do cidadão.
Nos países democráticos, os governos traçam rumos, legislam,
impõem impostos, e legitimamente usam a força policial e militar, para fins
internos ou além-fronteiras. É o poder legítimo, controlado pela assimetria dos
poderes; Congresso, Justiça e Executivo,
onde um interage com o outro, e a imprensa livre acentua a transparência.
Porém, por vezes, mesmo nestes sistemas tidos como livres, e por circunstâncias enganadoras, abrem-se as portas à corrupção do poder. Circunstâncias como o medo e a auto preservação podem contaminar os princípios basilares de uma democracia, trazendo ao consciente coletivo a aceitação, a justificativa até então injustificável.
A traumática experiência do atentado às torres de Nova York,
gerou, coerente com as interpretações Freudianas, a neurose da proteção total.
Contrariando as reações de outros países europeus, também vítimas de violentos
atos terroristas, a amplitude das defesas adotadas pelos Estados Unidos não
encontram paralelo no Ocidente. Desde detalhes tais, como acesso à carteira de
motorista, ao embarque em aeroporto, ao controle do livro comprado, à
ubiqüidade da espionagem pelas agências de inteligência sobre cidadãos, é visível o crescente tributo pago ao Deus da
Total Segurança. Ao envolvente cerceamento
à plena liberdade, o povo parece ter-se
acostumado e, afora os protestos de segmentos mais intelectualizados, o
processo constritor segue seu curso.
O acaso fez surgir novo fato, que revela quão insidiosa é a
progressão do poder oculto concedido às agências de segurança. O Senado da república
mais poderosa do planeta, descobre estar
sendo espionado. Preocupado com o
comportamento ilegal e inconstitucional da Agência Central de Inteligência, o
Senado norte americano, através de sua Comissão de Inteligência, iniciou
inquérito quanto a extensão e veracidade das suspeitas. Ao longo de sua
averiguação, o staff do Comitê constatou estarem seus computadores invadidos
pela CIA, em missão de sabotagem. A reação da Senadora Dianne Feinstein,
presidente do Comitê, foi imediata e severa: exigiu a verdade. Por resultado,
confirmou-se a suspeita; o crime fora cometido.
Mais surpreendente , ainda, foram as conseqüências destas
revelações. O Diretor Geral da CIA, o Sr. John Brennan, permanece no cargo do qual deveria ter sido
destituído. Promete desenterrar os culpados. Porém o Sr. Brenan é prisioneiro
de um dilema. Ou bem estava ciente do crime perpetrado sob seu comando , ou bem
o desconhecia; ambos os casos exigiriam
sua demissão. A falta de punição exemplar neste assunto seminal para a
democracia, revela o real poder da confraria da Segurança. Revela um Executivo
incapaz ou sem a vontade de conter o
avanço de um sistema de espionagem e manipulação interna.
Quão influentes são as agências de inteligência no processo
legislativo da nação? Qual a amplidão da sonegação de informação, qual a
fidelidade das informações oferecidas, qual a extensão da desinformação,
qual o desvio deste poder para o
proveito dos que dominam a “Comunidade de informação” ? Terá o presidente Barack
Obama suficiente poder para destituir seus comandos?
A influência político-cultural dos Estados Unidos da América
do Norte é inevitável. Até pouco mais de uma década, de lá chegava o aperfeiçoamento democrático.
Depois de nine eleven observa-se uma
preocupante subordinação dos valores democráticos ao princípio de Segurança Total.
Quantas nações seguirão este exemplo?
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