sábado, 2 de agosto de 2014

À sombra da democracia


espiãovirtual.blogspot







“Ah! Essa não! Jamais tal coisa acontecerá.” Esta exclamação seguiu-se à uma afirmativa que a espionagem interna de um país terminará por atropelar os direitos fundamentais do cidadão.

Nos países democráticos, os governos traçam rumos, legislam, impõem impostos, e legitimamente usam a força policial e militar, para fins internos ou além-fronteiras. É o poder legítimo, controlado pela assimetria dos poderes;  Congresso, Justiça e Executivo, onde um interage com o outro, e a imprensa livre acentua a transparência.

Porém, por vezes, mesmo nestes sistemas tidos como livres, e por circunstâncias enganadoras, abrem-se as portas à corrupção do poder. Circunstâncias como o medo e a auto preservação podem  contaminar os princípios basilares de uma democracia, trazendo ao consciente coletivo a aceitação, a justificativa até então injustificável.

A traumática experiência do atentado às torres de Nova York, gerou, coerente com as interpretações Freudianas, a neurose da proteção total. Contrariando as reações de outros países europeus, também vítimas de violentos atos terroristas, a amplitude das defesas adotadas pelos Estados Unidos não encontram paralelo no Ocidente. Desde detalhes tais, como acesso à carteira de motorista, ao embarque em aeroporto, ao controle do livro comprado, à ubiqüidade da espionagem pelas agências de inteligência sobre cidadãos,  é visível o crescente tributo pago ao Deus da Total Segurança.  Ao envolvente cerceamento à plena liberdade,  o povo parece ter-se acostumado e, afora os protestos de segmentos mais intelectualizados, o processo constritor segue seu curso.

O acaso fez surgir novo fato, que revela quão insidiosa é a progressão do poder oculto concedido às agências de segurança. O Senado da república mais poderosa do planeta, descobre  estar sendo espionado.  Preocupado com o comportamento ilegal e inconstitucional da Agência Central de Inteligência, o Senado norte americano, através de sua Comissão de Inteligência, iniciou inquérito quanto a extensão e veracidade das suspeitas. Ao longo de sua averiguação, o staff do Comitê constatou estarem seus computadores invadidos pela CIA, em missão de sabotagem. A reação da Senadora Dianne Feinstein, presidente do Comitê, foi imediata e severa: exigiu a verdade. Por resultado, confirmou-se a suspeita; o crime fora cometido.

Mais surpreendente , ainda, foram as conseqüências destas revelações. O Diretor Geral da CIA, o Sr. John Brennan,  permanece no cargo do qual deveria ter sido destituído. Promete desenterrar os culpados. Porém o Sr. Brenan é prisioneiro de um dilema. Ou bem estava ciente do crime perpetrado sob seu comando , ou bem o desconhecia;  ambos os casos exigiriam sua demissão. A falta de punição exemplar neste assunto seminal para a democracia, revela o real poder da confraria da Segurança. Revela um Executivo incapaz ou sem a vontade de conter  o avanço de um sistema de espionagem e manipulação interna.

Quão influentes são as agências de inteligência no processo legislativo da nação? Qual a amplidão da sonegação de informação, qual a fidelidade das informações oferecidas, qual a extensão da desinformação,   qual o desvio deste poder para o proveito dos que dominam a “Comunidade de informação” ? Terá o presidente Barack Obama  suficiente  poder para destituir seus comandos?

A influência político-cultural dos Estados Unidos da América do Norte é inevitável. Até pouco mais de uma década,  de lá chegava o aperfeiçoamento democrático. Depois de nine eleven observa-se uma preocupante subordinação dos valores democráticos ao princípio de Segurança Total. Quantas nações seguirão este exemplo?


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