Cada vez mais, debate-se se o mundo esta perdendo seu líder,
os Estados Unidos. O debate ainda não tratou das vantagens ou desvantagens de
não ter o planeta um líder. Eventualmente, chegaremos lá.
De fato, não são disprezíveis os fatores que levam a tal indagação.
Deve-se realçar que os cidadãos norte-americanos entendem que o conteúdo armado
é fundamental para o exercício da
liderança. Portanto, fatores econômicos e militares e, ainda, culturais, se juntam para questionar seu eficaz exercício.
Mas quais os obstáculos?
No campo econômico, o substancial déficit fiscal que ainda
pesa, impulsionando a divida publica para alem do PIB, age como desestimulante
para o uso da carta militar. O orçamento
da “defesa”, perto de 650 bilhões de dólares, representando mais de 4% do PIB,
e ainda ampliado em 200 a 400 bilhões de dólares anuais quando em guerra
anti-terror, revela a enorme dificuldade de compatibilizar o controle
orçamentário com a política de intervenção militar. Tais empecilhos estão
claramente demonstrados no livro “Duty” de Robert Gates, ex Secretário de
Defesa.
Sendo o conflito anti-terror de natureza fluida, não se
limitando a um, senão a muitos territórios simultaneamente, demandando,
conforme as imposições geográficas, logística complexa bem como armamento variado, o ônus, não
apenas financeiro mas também psicológico, pesa tanto sobre a sociedade civil
como sobre o estamento militar. Sete mil soldados mortos e mais de quarenta mil
feridos, muitos com desordens psicológicas causadas pela natureza do combate,
derramam sobre a sociedade sofrimento e angústia acentuados por conflito hoje despido
do apoio público.
Sob a sombra do desastre Vietnamita, (temporariamente
iluminada pela vitória na primeira guerra do Iraque), as empreitadas mal
sucedidas no Iraque e agora, aparentemente, no Afeganistão, levam a opinião
pública a rejeitar a guerra como opção.
O afastamento dos aliados por razões políticas e econômicas,
não mais com firme propósito solidário, vem esgarçando o tecido das alianças.
Hoje, a “guerra ao terror” não provê a aglutinação que o enfrentamento anti
Soviético outrora motivava. Vê-se os Estados Unidos entregues à guerra essencialmente
solitária, nem mais contando, no que tange à soldadesca, com seu natural
aliado, a Grã Bretanha.
Ainda, o advento da globalização, ao gerar crescente
interdependência econômica dentre países, onde os pólos poderosos se diluem, assim
é reduzido o poder impositivo de qualquer nação. O exemplo do recente conflito Ucraniano
demonstrou a dificuldade da imposição de sanções sem causar sérios danos econômicos
à ambas as partes do conflito.
Ainda, o surgimento da China, tanto no campo econômico
quanto no militar, obriga o Pentágono á uma crescente dispersão de recursos, à
constatação que não mais tem condições de enfrentar duas guerras simultâneas. A
doutrina anterior, que permitia esta opção, não mais conta com o enorme
contingente decorrente da conscrição geral, estando hoje limitada aos modestos
números do modelo voluntário.
Contrariamente à demanda de ativos militares relativamente
simples pela “guerra ao terror”, um possível conflito com a China demandaria
investimentos infinitamente maiores em decorrência da corrida tecnológica
exigida. Obrigados a enfrentar esta contingência, o Pentágono e a Casa Branca
constatam a inviabilidade de meios que sustentem uma guerra em duas frentes,
Oriente Médio e Ásia.
Assim, melhor compreende-se o recente discurso de Barack
Obama, onde privilegia a diplomacia no trato das disputas no Ocidente e seus
arredores. Justifica uma maior passividade militar face a Rússia Européia e o
Oriente Médio, deixando, apenas implícita, o “pivot to the East”, ou seja, a
“virada” para a China.
Tal será a demanda de recursos para manter uma superioridade
tática e estratégica face a Pequim (e talvez Moscou), que muitos estimam que os
Estados Unidos, mantendo-se dentro dos limites que seu orçamento e recuperação
econômica exigem, tornará branda sua liderança global, em busca de uma
ascendência no Mar Amarelo. É de se esperar que no Ocidente, Washington adotará
a política de co-optação de seus aliados Europeus, Israelenses e Árabes (e
talvez Persas), limitando suas ações às fronteiras do possível.
Quanto à América do Sul, arrisca-se a previsão de um mínimo
de esforço diplomático, a não ser que uma provocação destemperada dos
Bolivarianos ou preenchimento do vácuo pelo avanço econômico e político de Xi
Jinping, ensejem reação.
Uma coisa é certa, o custo da liderança está subindo
exponencialmente, o que nos remete à pertinente obra de Paul Kennedy, “The Rise
and Fall of the Great Powers”.
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