Franklin D. Roosevelt |
Este artigo submete o leitor à dúvida quanto a política econômica perseguida por um país. Trata-se de provocação, em busca de debate, auto-crítica, ou até mesmo de liminar repúdio.
Contrariando a impressão de muitos, o simples aumento de riqueza de um indivíduo, ou de uma nação, conforme medida pelo acréscimo do PIB, está longe de descrever, seja o bem estar da condição humana, seja a satisfação de um povo.
Se o enriquecimento é acompanhado de declinio na saúde, dissídia na família, conflitos permanentes, pouco beneficio real terá tido o indivíduo. O mesmo conceito parece aplicar-se à países. A mensuração do PIB conta pouco, quando constatada isoladamente, na radiografia de uma nação. Que avaliação merece um país cujo PIB cresce 4% em um ano, porém verifica-se que 80% deste acréscimo se aplica a somente a 5% da sua população? O observador pouco atento poderia concluir que a nação vai bem, que seu rumo é saudavel, que seu povo está satisfeito. Deve a política econômica e social desta nação, que promove riqueza tão desigual, servir de modelo para si e outros países? Talvez não.
Pode-se argumentar, ainda, que o aumento do PIB como objetivo prioritário, como meta máxima de politica governamental, favorece um movimento auto alimentador de concentração de renda, acentuando, no tempo a intensidade do desequilibrio social.
O desequilibrio extremado que assim resulta na perversa distribuição de renda, confere às classes do topo da piramide condições de perpetuação no poder, através mecanismos pseudo-democráticos, mediante a influência desmedida tanto sobre os parlamentos (contribuição financeira ilimitada para os candidatos) como nas côrtes de justiça (juizes selecionados, nas suas renovações, por mecanismo político). A concentração de poder econômico terá também efeito perverso, levando impacto negativo à expansão e melhoria de serviços sociais e de infraestrutura nos segmentos e regiões mais carentes, privilegiando legislação pro-business. Ainda, a concentração extrema de riqueza, coopta tanto a mídia como os serviços de segurança, os quais, por sua vez, neutralizam a mobilização de movimentos contestatários. Vide o movimento “dos 1%” (Occupy Wall Street) nos Estados Unidos, cuja duração foi efêmera face à robusta contenção imposta pelas “forças da ordem” e o inexistente apoio da imprensa.
Assim, acentua-se o circulo vicioso que, ao concentrar-se a renda concentra-se a atividade econômica e reduzem-se as oportunidades de emprego e de ascensão. Ainda, reduz-se a contribuição fiscal necessária à politica de amparo social. Perde-se, portanto, o essencial mecanismo que favorece a igualdade de oportunidades. Segundo novos estudos, ao distanciar-se o rendimento do capital da taxa de crescimento do PIB, a crescente concentração de riqueza no topo da pirâmide favorece o investimento em maquinária e tecnologia, desclassificando a mão de obra. Agrava-se, assim, a disparidade na distribuição de renda e reduzem-se os programas de apoio ao contingente desempregado, este condenado a preparo inadequado. O rígido índice de desemprego nos Estados Unidos e em partes da Europa parece favorecer esta argumentação.
As diferenças em padrão de vida tornam-se cada vez mais explícitas, criando crescente mal estar social com provável consequencia política, senão pelo voto, este cada vez mais controlado pelo segmento mais favorecido, mas pelas manifestações cívis cuja violência se potencializa na medida em que se acentua a frustração. A prosseguir a política que leva à concentração de renda e não havendo mecanismo de correção e escape para as crescentes pressões socio-políticas advindas da base da piramide social, caminha-se para alternativa de expressão violenta das classes desconsideradas, na busca e conquista de benefícios subtraidos pelo privilégio concedido ao segmento superior.
Se, por um lado a tecnologia favorece a atividade economica, seja ela tendente ao equitativo ou não, ela também revela ao público e, ainda, acentua as distorções existentes, através da mídia e sobretudo pela televisão e a internet.
A descrição acima, que parece hipotética, na realidade se processa, efetivamente, nas economias que perseguem o crescimento do PIB como prioritário, bem como favorecem a acumulação de riqueza a qualquer preço. Parece razoável prever-se que somente políticas publicas que determinem o impacto desejado, formal e equilibradamente, nos índices tais com o de Gini (distribuição de renda) e de Desenvolvimento Humano (distribuição de serviços e infraestrutura à população), permitirão condições simultâneas de prosperidade e estabilidade política, assim validando o Contrato Social. Indo além, todo projeto governamental, quando pertinente, deveria tornar obrigatória a explicitação de seu impacto nos índices referidos.
Encerrando, vale lembrar que o milionário Franklin D. Roosevelt, apesar de acusado de comunista pelos conservadores de seu tempo, veio salvar o Capitalismo ao reconhecer que sem a base o ápice da pirâmide não se sustenta.
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