sábado, 31 de maio de 2014

O custo da liderança



Cada vez mais, debate-se se o mundo esta perdendo seu líder, os Estados Unidos. O debate ainda não tratou das vantagens ou desvantagens de não ter o planeta um líder. Eventualmente, chegaremos lá.

De fato, não são disprezíveis os fatores que levam a tal indagação. Deve-se realçar que os cidadãos norte-americanos entendem que o conteúdo armado é fundamental para o  exercício da liderança. Portanto, fatores econômicos e militares e, ainda, culturais,  se juntam para questionar seu eficaz exercício. Mas quais os obstáculos?

No campo econômico, o substancial déficit fiscal que ainda pesa, impulsionando a divida publica para alem do PIB, age como desestimulante para o uso da carta militar. O  orçamento da “defesa”, perto de 650 bilhões de dólares, representando mais de 4% do PIB, e ainda ampliado em 200 a 400 bilhões de dólares anuais quando em guerra anti-terror, revela a enorme dificuldade de compatibilizar o controle orçamentário com a política de intervenção militar. Tais empecilhos estão claramente demonstrados no livro “Duty” de Robert Gates, ex Secretário de Defesa.

Sendo o conflito anti-terror de natureza fluida, não se limitando a um, senão a muitos territórios simultaneamente, demandando, conforme as imposições geográficas, logística complexa  bem como armamento variado, o ônus, não apenas financeiro mas também psicológico, pesa tanto sobre a sociedade civil como sobre o estamento militar. Sete mil soldados mortos e mais de quarenta mil feridos, muitos com desordens psicológicas causadas pela natureza do combate, derramam sobre a sociedade sofrimento e angústia acentuados por conflito hoje despido do apoio público.

Sob a sombra do desastre Vietnamita, (temporariamente iluminada pela vitória na primeira guerra do Iraque), as empreitadas mal sucedidas no Iraque e agora, aparentemente, no Afeganistão, levam a opinião pública a rejeitar a guerra como opção.

O afastamento dos aliados por razões políticas e econômicas, não mais com firme propósito solidário, vem esgarçando o tecido das alianças. Hoje, a “guerra ao terror” não provê a aglutinação que o enfrentamento anti Soviético outrora motivava. Vê-se os Estados Unidos entregues à guerra essencialmente solitária, nem mais contando, no que tange à soldadesca, com seu natural aliado, a Grã Bretanha.

Ainda, o advento da globalização, ao gerar crescente interdependência econômica dentre países, onde os pólos poderosos se diluem, assim é reduzido o poder impositivo de qualquer nação. O  exemplo do recente conflito Ucraniano demonstrou a dificuldade da imposição de sanções sem causar sérios danos econômicos à ambas as partes do conflito.

Ainda, o surgimento da China, tanto no campo econômico quanto no militar, obriga o Pentágono á uma crescente dispersão de recursos, à constatação que não mais tem condições de enfrentar duas guerras simultâneas. A doutrina anterior, que permitia esta opção, não mais conta com o enorme contingente decorrente da conscrição geral, estando hoje limitada aos modestos números do modelo voluntário.

Contrariamente à demanda de ativos militares relativamente simples pela “guerra ao terror”, um possível conflito com a China demandaria investimentos infinitamente maiores em decorrência da corrida tecnológica exigida. Obrigados a enfrentar esta contingência, o Pentágono e a Casa Branca constatam a inviabilidade de meios que sustentem uma guerra em duas frentes, Oriente Médio e Ásia.

Assim, melhor compreende-se o recente discurso de Barack Obama, onde privilegia a diplomacia no trato das disputas no Ocidente e seus arredores. Justifica uma maior passividade militar face a Rússia Européia e o Oriente Médio, deixando, apenas implícita, o “pivot to the East”, ou seja, a “virada” para a China.

Tal será a demanda de recursos para manter uma superioridade tática e estratégica face a Pequim (e talvez Moscou), que muitos estimam que os Estados Unidos, mantendo-se dentro dos limites que seu orçamento e recuperação econômica exigem,  tornará branda  sua liderança global, em busca de uma ascendência no Mar Amarelo. É de se esperar que no Ocidente, Washington adotará a política de co-optação de seus aliados Europeus, Israelenses e Árabes (e talvez Persas), limitando suas ações às fronteiras do possível.

Quanto à América do Sul, arrisca-se a previsão de um mínimo de esforço diplomático, a não ser que uma provocação destemperada dos Bolivarianos ou preenchimento do vácuo pelo avanço econômico e político de Xi Jinping, ensejem reação.


Uma coisa é certa, o custo da liderança está subindo exponencialmente, o que nos remete à pertinente obra de Paul Kennedy, “The Rise and Fall of the Great Powers”.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Eleições Europeias




Falta juízo, falta razão onde falta pão. A crise econômica que se abateu sobre a Europa, que já adentra seu nono ano, fez estragos na qualidade de vida e na qualidade dos pensamentos. Conceitos que, em tempo de prosperidade seriam rejeitados, tornam-se aceitáveis e razoáveis quando o homem perde o emprego, o pão torna-se escasso, e o futuro sombrio.

Exemplo inesquecível, que melhor seria esquecido para sempre, nos deu a República de Weimar desaguando no vendaval Nazista. Não, os alemães não eram loucos ou ignorantes, os alemães estava aterrorizados pela desorganização perversa de sua sociedade, e, em busca de salvação. Encontrou Hitler. O que se seguiu tornou-se inexorável, as circunstâncias, como diria Ortega y Gasset, moldando o homem de então. Deu no que deu.

Vemos uma reprise, ainda que modesta, deste mesmo ciclo nefasto, onde partidos radicais buscam o apoio das massas frustradas e desesperançadas. Buscam no passsado a formula de incutir o medo do externo, seja de pessoas seja de conceitos. Marine Le Pen e Nigel Farage, líderes há pouco desconsiderados, hoje se apresentam como nova e relevante força em seus países. Buscam a reversão do tempo, ao tempo da Europa fracionada, bélica, xenófoba.


Foi um aviso para o ainda dominante facção pró Europa Unida. Um aviso para  Mister Cameron que defende regras especiais para a Grã Bretanha, assim flertando com a cisão, para  Monsieur Sarkozy e seu bloco que busca uma “França Forte” de dúbia definição. Tais sutilezas legitimam as forças radicais anti-europeias, como se constata pelo expressivo ganho eleitoral. Importante, também, é a revisão da política de contenção de gastos e liquidez financeira, bem como o excesso fiscal, permitindo a criação de bolsões opositores à União Européia.

Bygmalion




O Mensalão faz escola. Seguindo a trilha do dinheiro, o observador encontra, a alguns milhares de quilômetros, comportamento que evoca a ganância dos políticos. Bygmalion é o nome dado ao escândalo onde dinheiro de campanha parece ter percorrido caminhos ilegais, e a chama da indignação se propaga irresistivelmente pela base do maior partido de Centro-Direita da França, o UMP.  Jean François Copé, presidente do partido, companheiro leal do ex presidente Nicholas Sarkozy,  não resistiu às pressões de seus correligionários e anuncia sua demissão.

O jogo político é cruel e, por vezes irônico; M. Copé, que conquistou a presidência de seu partido de forma considerada, por muitos de seus correligionários, como ilícita, vê-se defenestrado por acusação (não comprovada neste momento) de comportamento aético. Durou pouco.

Duas felizes conclusões se apresentam; a primeira revela que “o crime não compensa”, se crime houve; a segunda, que a correção de rumo e a extirpação do político sob suspeição deu-se por iniciativa partidária, sem pressão dos partidos opositores ou da mídia. Se o início do embróglio lembra o Brasil, sua conclusão em nada se parece com a nossa prática política. 

Que faça-se escola, vinda da admirável França, como corrigir desvios inaceitáveis perpetrado por líder partidário. O UMP não cogitou abrir mão da ética, que fosse para solidarizar-se ou proteger membro destacado de sua agremiação. Na nossa terra, o político faltoso receberia unânime solidariedade de seus colegas, estes inatentos para a degradação que a impunidade impõe ao partido.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Os argumentos de Bibi


Benjamim (Bibi) Netanyahu
É digna de nota a entrevista hoje concedida por Benjamin (Bibi) Netanyahu em jornal de grande circulação. .
Deposita aos pés dos Ocupados a culpa pela continuada Ocupação. Com dialética Orwelliana insiste em argumentos que os fatos não parecem comprovar. O fracasso das negociações de Paz é atribuído pelo Premier ao Presidente Abu Abbas, presidente da Autoridade Palestina, apesar de John Kerry, enviado de Washington, afirmar o contrário.

A entrevista, habilmente concedida por Netanyahu, coloca Israel como vítima dos Palestinos e da incompreensão de parte da comunidade internacional, desprezando o fato de que o segundo está sob ocupação militar do primeiro durante os últimos sessenta anos. Não se intimida com a frágil lógica de sua colocação.

As razões elencadas pelo Premier israelense são:
1.      
      Palestina tem que abandonar a cultura de ódio e genocídio (sic) contra Israel.

Obs: O ódio provavelmente existirá enquanto perdurar a ocupação militar. Quanto ao “genocídio” o número de Palestinos mortos ultrapassa, exponencialmente, o número de vítimas israelenses. Ainda, é conhecida a aguda hostilidade que domina ambos os lados.
2.      
      A reconciliação entre a ANP* (Cisjordânia) e Hamas** (Gaza) objetiva a destruição de Israel.

Obs: Há pouco Netanyahu afirmava só negociar uma vez unidos os Palestinos. Quanto a negociar a Paz, está se faz, necessariamente, com inimigos.
3.      
      Palestina deve, além de reconhecer o Estado de Israel, deve reconhecê-lo como Estado Judaico.

Obs: O Estado de Israel já é  reconhecido pela ANP há décadas; o Hamas declara que o reconhecimento Israel-Palestina deverá ser recíproco. Já o reconhecimento do Estado Judeu, recente condição levantada por Tel Aviv,  degradará a cidadania dos Árabes Muçulmanos, cidadãos de Israel, representando 25% da população e apenas 5% do Knesset (parlamento). Inviabilizará, também, o retorno de civis Palestinos expulsos de Israel quando da sua Guerra de Independência. Em última análise, a definição pretendida é assunto interno do país; o Irã não pediu concordância para auto definir-se como República Muçulmana.
4.     
      Israel respeitou, durante um ano inteiro, o congelamento da construção de novos  assentamentos, condição demandada pelos Estados Unidos e a ANP.

Obs: Tanto os norte-americanos como os palestinos exigira, como pré condição, a interrupção dos assentamentos israelenses em terra Palestina. Ainda durante as negociações, Israel reiniciou a construção. Segundo a Agência Reuters, em 14 de março último,  novas construções foram autorizadas, sendo  que as negociações foram, conseqüentemente,  encerradas  em abril 2014.
5.      
A   ANP buscou reconhecimento por parte de quinze organizações internacionais 

Obs: Esta iniciativa se deu depois de abortadas as negociações, estas inviabilizadas pelo re-inicio dos assentamentos e a recusa de Israel cumprir a libertação acordada dos últimos 400 palestinos encarcerados.

Encerrando esta análise, vale observar os comentários de Netanyahu, que colocam Israel em risco, como refém de uma possível Palestina independente. Ora, esta visão ignora o fato de ser Israel, militarmente, o país mais poderoso do Oriente Médio. Esmagaria com facilidade qualquer tentativa de causar-lhe dano. O argumento avançado pelo Primeiro Ministro se insere no leitmotif da vitimisação.
Esta coluna procura seguir os fatos conforme relatados pela imprensa internacional, prestando especial atenção à cronologia dos eventos. Esta, se deturpada oculta o nexo de causa e efeito, assim inviabilizando a compreensão de tão complexo contencioso.

Ainda que não esconda sua simpatia por um povo sob ocupação estrangeira que sabemos ser de grande severidade, também anima este artigo a preocupação em ver o Estado de Israel perder, em boa parte, a grande admiração que se seguiu à sua independência. Quem não terá lido, com sincera admiração, Êxodo ou Mila 18. Longe do anti-semitismo, que por vezes se atribui a críticas que, por comparação, seriam válidas a qualquer outro país, pelo contrário defende esta coluna a integridade do Estado de Israel, ora exposto ao futuro incerto que se desenha.

·         ANP: Autoridade Nacional Palestina, governa o território Palestina da Cisjordânia.

·         HAMAS: Partido religioso dominando a Faixa de Gaza

terça-feira, 20 de maio de 2014

CURTAS





O codinome Lava-Jato revela imaginação da nossa Policia Federal. Diretor do Banco do Brasil, doleiros e parlamentares estariam, segundo a polícia, agindo em uníssono para fraudar o fisco, empresas estatais e, como tiro de misericórdia, tungar o cidadão contribuinte.  Mas eis que surge o Ministro Teori Zavascki e traz a si o processo, deixando os laboriosos policiais a ver navios. Resta agora a pergunta que insiste em gritar: manobra ou tecnicalidade jurídica? Ou ambas? Novamente o STF estará sob exame; passo a frente ou retrocesso? Novamente o espectro da Corrupção Impune paira sobre  a Nação.




A Casa Branca finalmente reconhece o dano causado. Tendo autorizado e divulgado o uso simulado de vacinação para identificar os moradores no esconderijo de Bin Laden, os Talibans declararam guerra aos médicos vacinadores. Constata agora que epidemia de Paralisia Infantil grassa no Paquistão, onde não se encontram médicos valentes o bastante  para enfrentar a ira dos fanáticos. Ontem a Casa Branca informou ter vedado à CIA repetir no futuro a artimanha do uso de vacinas na “Guerra ao Terror”. 





Na União Européia elegem-se, nos próximos dias,  os representantes para o Parlamento Europeu. Na França teremos, provavelmente, o fortalecimento de forças anti-Européias, lideradas por Marine le Pen do Front National.  Na Grã Bretanha estima-se marcante votação para  Nigel Farage, líder do UKIP (United Kingdom Independence Party) e inimigo do projeto Europeu. Vemos, assim, uma rara e azeda aliança de dois partidos de extrema direita  nos dois lados do Canal da Mancha.  Contudo, espera-se que não será desta vez a demise da União Européia.



sábado, 17 de maio de 2014

Em busca da saida do túnel




Há dias, um jornal defendia a continuidade do financiamento empresarial para os candidatos e agremiações políticas. Como argumento alegava que, caso proibida, a avalanche de dinheiro das empresas continuaria sob forma de Caixa 2. A atual leniência para com este tipo de financiamento eleitoral é uma das principais causas da epidemia corruptora que grassa no país. Ora, as leis existem para serem respeitadas, e seu descumprimento punido. A preferência pela distorção tendo por base a dificuldade de correção espelha, até certo ponto, o contraditório que o Brasil enfrenta em sua luta pelo restabelecimento da ética pública. 

O Executivo, apesar da preocupação que possa ter pela manutenção da moralidade no seu ápice, vê membros de sua equipe próximos a desmandos e desvios, onde a retidão cede às sutis curvas que o interesse próprio e partidário recomenda.

A prosseguir o ciclo pernicioso, onde a intimidade une, quase carnalmente, político e relevante grupo de empresários, o processo democrático estará irremediavelmente comprometido, inevitavelmente desmoralizado.  Apesar de existirem muitos parlamentares corretos, a constatação objetiva  é a de que o Congresso não mais comanda respeito. Pouco dele a sociedade espera quanto à  dedicação e sacrifícios em prol da Nação.

As instituições parecem ruir, sendo a mais importante delas, a Justiça.  Encontra-se submetida ao anedotário mais cruel, onde o peso da moeda esmaga a o dever e a consciência. Sem Justiça não há Estado Democrático, nem mesmo Estado. A probidade da Justiça, na menor das causas, ou na maior delas, garante não apenas o presente;  dá, também,  substância ao futuro. Sente-se que a grande quantidade de magistrados probos parece soterrada pelos colegas motivados por razões estranhas ao cumprimento da letra e do espírito da lei. Sem ela, nem ato nem transação tem estabilidade ou confiabilidade, tornando o cidadão, ou empresa,  mera folha levada pelos ventos dos interesses estranhos. A moralidade recém evidenciada no Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento do Mensalão, já parece revelar fadiga, evidenciada por motivações políticas.

Restam as Forças Armadas, o ultimo bastião de patriotismo e respeito público. Sem defender movimentos golpista, sua inação não é mais recomendável. Necessária e premente se torna uma iniciativa que alerte o Poder Civil, que seja levada aos mais altos escalões  da pirâmide política e jurídica, dentro dos limites da discreção, assim evitando a propagação de expectativas anti-democráticas.

Caso a reação das estâncias tolerantes à prática corruptora seja impeditiva de qualquer movimento saneador do comportamento hoje disseminado que comprometa o futuro da Nação, caberia às Forças Armadas propor, encaminhar e realizar plebiscito popular, onde a questão colocada perante a Nação seria:

“Eleitor brasileiro, deve o arcabouço legal e constitucional ser alterado de forma a assegurar a punição de todas as formas de corrupção econômico-financeira que tragam prejuízo à Nação, processo a ser comandado pelas Forças Armadas?”


Que a resposta seja um clamoroso SIM.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Perda de respeito

Estádio de Manaus


Até bem pouco tempo, o Brasil encantava as manchetes da imprensa internacional. Era o país que célere rumava para o pleno desenvolvimento. Porém algo mudou. Para pior. Hoje as manchetes são outras, com pesadas críticas às trapalhadas do outrora pujante e admirado Brasil. Inflação em alta, PIB anêmico, a maior empresa brasileira em séria crise econômica e ética, infraestrutura cambaleante, escolas que não ensinam, constitui-se num rosário de problemas cuja solução Brasília não parece alcançar.

Vítima de seu impensado ufanismo, de deturpada confiança nos quadros de seu PT, o presidente Lula conquistou dois galardões de primeira grandeza, a Copa e as Olimpíadas. De fato, tivesse este governo competência e seriedade, a tarefa chegaria a bom termo. Afinal, sete anos de prazo para sua realização era generoso. Passado este teste de competência, hoje tão distante da realidade, a imagem nacional tomaria novo impulso, com os enormes benefícios que dela decorreriam.

Mas a audácia revelou-se irresponsável, e sem  menosprezar os benefícios eleitorais o presidente lançou o Brasil nisto que revelou-se uma aventura. Não esperava que trouxesse à  tona, de maneira tão explícita,  a falência administrativa e moral que atinge Brasília. Rasgou-se a fantasia que tanto encantara nossos amigos mundo afora.

O descalabro administrativo, contaminado por epidemia corruptora, impediu que, apesar do  prazo concedido, este governo não conseguisse realizar as obras a tempo e hora. Exibiu, despudoradamente, quão profunda é a incúria e a incompetência dos quadros governamentais, incapazes de planejar e executar obras dentro dos cronogramas necessários. Aliados que são na societas sceleris que hoje comanda a grande empreitada, os funcionários dos mais altos níveis conspiraram com os executores das obras, para atrasá-las a ponto de impor o imperativo liberatório da urgência. Adeus compromissos, limites, compostura.

Assim, libertos dos controles e métodos que normalmente norteiam qualquer projeto, partiram em alegre e irresponsável “pas de deux”, funcionário e empreiteiro, certos de que o objetivo era bem mais o ganho, e bem menos a obra.

Com apenas um mês para o início da Copa do Mundo, não existe a menor possibilidade para a finalização dos projetos demandados pela FIFA. Quanto às Olimpíadas, dificilmente teremos as obras terminadas, no padrão qualitativo imposto. Os jogos acontecerão, as torcidas chegarão ao êxtase, mas o gosto amargo do embuste não será esquecido. Quanto ao custo deste megalômano projeto que desafia qualquer comparação e qualquer semelhança aos padrões internacionalmente aceitos, este já pesa na opinião pública, e pesará, por muito tempo, sobre os ombros do Partido dos Trabalhadores Enganados.

Contrariando o hábito de culpar-se as elites pela crítica, neste caso culpe-se tambem os manifestantes nas ruas, os técnicos da FIFA e do Comitê Olímpico, e, a reboque, a imprensa internacional.


terça-feira, 6 de maio de 2014

Haverá guerra?

Se a lógica prevalecer, não haverá guerra. Mas, infelizmente, as guerras por vezes eclodem por eventos impensados, emocionais, causados por atores menores que incendeiam as emoções e a hostilidade mal disfarçada. A guerra também é causada pela cobiça, a vontade de ampliar o poder, o território sob domínio. E, por vezes, o medo a provoca, levando o que se julga mais fraco ao risco, à audácia na esperança de intimidar o adversário.

Desta vez, as potências Ocidentais se colocam no primeiro grupo. Desprezando ser a Ucrânia país sob a órbita Russa, por razões históricas milenares, não hesitaram entrometer-se nos assuntos internos daquele país, ativamente estimulando a derrubada de presidente democraticamente eleito. O bloco Ocidental, sob comando de Washington, em vez de pressionar pelo impeachment do  Sr Yanukovitch, preferiu reconhecer a tomada de poder de Kiev por elementos radicais, desrespeitando o rito constitucional.

Esta circunstância é tão insólita que a enorme maioria da opinião pública Ocidental recusa-se a reconhecer o desenrolar de um fato inconteste. Ainda, dificultando uma visão objetiva, ao referir-se à Rússia, faz-se a simbiose mental da União Soviética, comunista, e da Rússia de hoje, capitalista e cristã.

Já a Rússia se coloca na segunda categoria. O temor, o medo do cerco que lhe faz a OTAN, o braço armado do Ocidente, levou o Kremlin à reação de extrema audácia. Se a incorporação da Criméia obedeceu a impositivo interesse estratégico-militar, uma vez que sua base naval em Sebastopol poderia ter sua concessão anulada de forma extemporânea, ela também se entrosa com a desestabilização da região russófona do Leste ucraniano.

O que nos reserva o futuro imediato? Se houver juizo, o caminho é a mesa de negociações. Sem adaptação do satus quo que leve em conta o conflito ideológico que resultou desta imprudência, Kiev dificilmente poderá deglutir pacificamente a zona contestada, onde se concentra a industria e a mineração do país. Não tão somente será necessário equacionar a politica, mas também a economia. Ambas se encontram em frangalhos. Empréstimos do Ocidente e energia da Rússia será a solução, porém os dois lados deverão aceitar a neutralização do país. Nem de um nem de outro, com apoio de ambos. Sem OTAN e sem Kremlin.

A alternativa lembra a mais negras das noites, onde a opção nuclear passa a existir.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Capitalismo, hoje e amanhã

Franklin D. Roosevelt


Este artigo submete o leitor à dúvida quanto a política econômica perseguida por um país. Trata-se de provocação, em busca de debate, auto-crítica, ou até mesmo de liminar repúdio.


Contrariando a impressão de muitos, o simples aumento de riqueza de um indivíduo, ou de uma nação, conforme medida pelo acréscimo do PIB, está longe de descrever, seja o bem estar da condição humana, seja a satisfação de um povo.


Se o enriquecimento é acompanhado de declinio na saúde, dissídia na família, conflitos permanentes, pouco beneficio real terá tido o indivíduo. O mesmo conceito parece aplicar-se à países. A mensuração do PIB conta pouco, quando constatada isoladamente, na radiografia de uma nação. Que avaliação merece um país cujo PIB cresce 4% em um ano, porém verifica-se que 80% deste acréscimo se aplica a somente a 5% da sua população? O observador pouco atento poderia concluir que a nação vai bem, que seu rumo é saudavel, que seu povo está satisfeito. Deve a política econômica e social desta nação, que promove riqueza tão desigual, servir de modelo para si e outros países? Talvez não.


Pode-se argumentar, ainda, que o aumento do PIB como objetivo prioritário, como meta máxima de politica governamental, favorece um movimento auto alimentador de concentração de renda, acentuando, no tempo a intensidade do desequilibrio social.


O desequilibrio extremado que assim resulta na perversa distribuição de renda, confere às classes do topo da piramide condições de perpetuação no poder, através mecanismos pseudo-democráticos, mediante a influência desmedida tanto sobre os parlamentos (contribuição financeira ilimitada para os candidatos) como nas côrtes de justiça (juizes selecionados, nas suas renovações, por mecanismo político). A concentração de poder econômico terá também efeito perverso, levando impacto negativo à expansão e melhoria de serviços sociais e de infraestrutura nos segmentos e regiões mais carentes, privilegiando legislação pro-business. Ainda, a concentração extrema de riqueza, coopta tanto a mídia como os serviços de segurança, os quais, por sua vez, neutralizam a mobilização de movimentos contestatários. Vide o movimento “dos 1%” (Occupy Wall Street) nos Estados Unidos, cuja duração foi efêmera face à robusta contenção imposta pelas “forças da ordem” e o inexistente apoio da imprensa.


Assim, acentua-se o circulo vicioso que, ao concentrar-se a renda concentra-se a atividade econômica e reduzem-se as oportunidades de emprego e de ascensão. Ainda, reduz-se a contribuição fiscal necessária à politica de amparo social. Perde-se, portanto, o essencial mecanismo que favorece a igualdade de oportunidades. Segundo novos estudos, ao distanciar-se o rendimento do capital da taxa de crescimento do PIB, a crescente concentração de riqueza no topo da pirâmide favorece o investimento em maquinária e tecnologia, desclassificando a mão de obra. Agrava-se, assim, a disparidade na distribuição de renda e reduzem-se os programas de apoio ao contingente desempregado, este condenado a preparo inadequado. O rígido índice de desemprego nos Estados Unidos e em partes da Europa parece favorecer esta argumentação.


As diferenças em padrão de vida tornam-se cada vez mais explícitas, criando crescente mal estar social com provável consequencia política, senão pelo voto, este cada vez mais controlado pelo segmento mais favorecido, mas pelas manifestações cívis cuja violência se potencializa na medida em que se acentua a frustração. A prosseguir a política que leva à concentração de renda e não havendo mecanismo de correção e escape para as crescentes pressões socio-políticas advindas da base da piramide social, caminha-se para alternativa de expressão violenta das classes desconsideradas, na busca e conquista de benefícios subtraidos pelo privilégio concedido ao segmento superior.


Se, por um lado a tecnologia favorece a atividade economica, seja ela tendente ao equitativo ou não, ela também revela ao público e, ainda, acentua as distorções existentes, através da mídia e sobretudo pela televisão e a internet.


A descrição acima, que parece hipotética, na realidade se processa, efetivamente, nas economias que perseguem o crescimento do PIB como prioritário, bem como favorecem a acumulação de riqueza a qualquer preço. Parece razoável prever-se que somente políticas publicas que determinem o impacto desejado, formal e equilibradamente, nos índices tais com o de Gini (distribuição de renda) e de Desenvolvimento Humano (distribuição de serviços e infraestrutura à população), permitirão condições simultâneas de prosperidade e estabilidade política, assim validando o Contrato Social. Indo além, todo projeto governamental, quando pertinente, deveria tornar obrigatória a explicitação de seu impacto nos índices referidos.


Encerrando, vale lembrar que o milionário  Franklin D. Roosevelt, apesar de acusado de comunista pelos conservadores de seu tempo, veio salvar o Capitalismo ao reconhecer que sem a base o ápice da pirâmide não se sustenta.