Nós não somos assim.
Não foram
poucas as afirmativas deste gênero que já li na imprensa norte-americana.
Vieram de pessoas de projeção, políticos e jornalistas. Nós não somos assim:
mas como somos, perguntam-se eles?
O medo gera
surpreendentes reações, que raramente são admiráveis. Somente um arraigado
sentimento de justiça, calcado em profundos alicerces institucionais podem
evitar o malefício que o medo sabe construir. Nos países mais relevantes da
Europa Continental, vitimas que já foram do terrorismo, o procedimento judicial
não sofreu alterações substanciais. Capturado o suspeito, este é investigado,
indiciado, julgado e, eventualmente,
condenado.Por vezes o encarceramento por vários meses sem direito a advogado
precede o inicio do procedimento judicial, mas, vale levar-se em consideração, o
suspeito acaba por ser julgado por tribunal apropriado.
Já, os Estados
Unidos, ao longo de sua “guerra ao terrorismo” inovou de forma dramática.
Lançando-se em guerras, declaradas ou não, procedeu à captura dos inimigos, fossem eles combatentes ou não,
fossem eles culpados ou não. Colocaram-nos na base naval de Guantánamo, situada
em Cuba, portanto, graças à cortina da exegese jurídica, fora da jurisdição
constitucional americana. Em outras palavras, ali tudo vale, da tortura à
displicência legal de negar-lhas o status de ser humano.
Neste
momento, Guantánamo abriga 166 prisioneiros, que jamais foram acusados de crime
nem, portanto, condenados. Lá estão há mais
de dez anos, sem perspectiva de liberdade, pois, na realidade, não
existem. Como não existem, cem dentre eles querem acabar, formalmente, com sua
existência, através da greve de fome. Porém, por raciocínio labiríntico, não se
lhes permite a morte. O general comandante, daquele campo de vivos semi mortos pela desesperança, impõe-lhes a alimentação forçada que se adiciona à tortura psicológica que hoje
sofrem. Tubos enfiados a força pelas narinas e gargantas tornam mais aguda a
busca da libertação definitiva, do negro deixar de ser.
Mas nós não
somos assim! Apesar da esmagadora maioria do Capitólio aprovar explicita ou
implicitamente o que ocorre na distante baía cubana. Apesar do liberal presidente,
face à resistência parlamentar, abandonar suas promessas de campanha, de dar
fim a esta mancha que macula toda uma
história do bem contra o mal. Não, não somos assim! Mas como somos, afinal?
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