segunda-feira, 3 de junho de 2013

Nós não somos assim.

Não foram poucas as afirmativas deste gênero que já li na imprensa norte-americana. Vieram de pessoas de projeção, políticos e jornalistas. Nós não somos assim: mas como somos, perguntam-se eles?

O medo gera surpreendentes reações, que raramente são admiráveis. Somente um arraigado sentimento de justiça, calcado em profundos alicerces institucionais podem evitar o malefício que o medo sabe construir. Nos países mais relevantes da Europa Continental, vitimas que já foram do terrorismo, o procedimento judicial não sofreu alterações substanciais. Capturado o suspeito, este é investigado, indiciado, julgado e, eventualmente,  condenado.Por vezes o encarceramento por vários meses sem direito a advogado precede o inicio do procedimento judicial, mas, vale levar-se em consideração, o suspeito acaba por ser julgado por tribunal apropriado.

Já, os Estados Unidos, ao longo de sua “guerra ao terrorismo” inovou de forma dramática. Lançando-se em guerras, declaradas ou não, procedeu à captura dos  inimigos, fossem eles combatentes ou não, fossem eles culpados ou não. Colocaram-nos na base naval de Guantánamo, situada em Cuba, portanto, graças à cortina da exegese jurídica, fora da jurisdição constitucional americana. Em outras palavras, ali tudo vale, da tortura à displicência legal de negar-lhas o status de ser humano.

Neste momento, Guantánamo abriga 166 prisioneiros, que jamais foram acusados de crime nem, portanto, condenados. Lá estão há mais  de dez anos, sem perspectiva de liberdade, pois, na realidade, não existem. Como não existem, cem dentre eles querem acabar, formalmente, com sua existência, através da greve de fome. Porém, por raciocínio labiríntico, não se lhes permite a morte. O general comandante, daquele campo de vivos semi mortos pela desesperança, impõe-lhes a alimentação forçada que se adiciona à tortura psicológica que hoje sofrem. Tubos enfiados a força pelas narinas e gargantas tornam mais aguda a busca da libertação definitiva, do negro deixar de ser.

Mas nós não somos assim! Apesar da esmagadora maioria do Capitólio aprovar explicita ou implicitamente o que ocorre na distante baía cubana. Apesar do liberal presidente, face à resistência parlamentar, abandonar suas promessas de campanha, de dar fim a esta  mancha que macula toda uma história do bem contra o mal. Não, não somos assim! Mas como somos, afinal?


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