quinta-feira, 13 de junho de 2013

A degradação da liberdade

A história da humanidade se entrelaça com movimentos positivos, ou civilizatórios, e tendências negativas onde as conquistas do primeiro são anuladas pelo segundo. Com as significantes contribuições de pensadores franceses e britânicos a prática política evoluiu para a crescente representatividade do povo, em detrimento das oligarquias. Montesquieu instruiu muito do pensamento criador dos Estados Unidos, influindo na separação dos poderes que permitissem a sua auto-limitação,  daí, sua perenidade. Já a Revolução Francesa inovou, sobretudo,  no conceito de igualdade dentre os cidadãos, incutindo no seu povo o principio de equidade no trato do cidadão. A seguir os povos no Velho e no Novo Mundo seguiram o rumo da maior liberdade, ainda que com intensidade bem variável e, por vezes, com penosas distorções.

Já do lado das tendências maléficas, vemos o comportamento das nações, que em muito diferem dos balizamentos que norteiam seus cidadãos. Temos a ação dos Impérios e das Grandes Nações,  que guiados pela necessidade de ampliar seu poder econômico, lastreado em crescente poder militar, impõem sua vontade sobre as nações mais fracas, assim carreando vantagens comerciais, buscando consolidar, expandir e perpetuar seu poder e prosperidade doméstica.  Não que buscam a guerra, mais guerra haverá se necessário.

Enquanto o homem ostensivamente se civiliza, as nações conservam os impulsos primários na busca do poder. Esta dicotomia talvez se explique pelo conceito de nacionalismo. Se o respeito mútuo é reconhecidamente necessário no trato entre indivíduos que se freqüentam, esta solidariedade raramente ultrapassa as fronteiras. O cidadão, pacífico dentre seus limites, regride à condição tribal sob a égide do “interesse nacional ameaçado”. Transformam-se ao confrontar povos e culturas diferentes e tornam-se defensivos e inflexíveis quando não hostis, no trato com os “outros”.

Se até os anos oitenta do Século passado estas transgressões internacionais davam-se com impunidade para com os transgressores, tal já não mais ocorre no nosso Século XXI. A imensa migração dos pobres do mundo em direção aos países ricos ao longo do Século XX alterou a solidez monolítica das nações “puras”. A internet e a continua adição de instrumentos de comunicação social, embasada na transferência de idéias, conceitos, esperanças e decepções, de solidariedade e revolta, rompeu as barreiras do Nacionalismo tradicional, protegidas que foram pela força física, material, táctil. Tal nitidez não mais ocorre, e esta internacionalização, anárquica e livre pensante atua como antídoto contra  o onipotente Leviatã.  A agressão em país distante, não mais é desapercebida; gera conseqüência no âmago do agressor, seja de origem externa, seja de interna. Estas, conscientização e reação, assumem mutações onde o protesto político se estende desde o  whistle blower, às manifestações, até o condenável terrorismo.


Mas o Estado luta para conservar seu poder. O presidente mais democrático do país mais democrático não hesita em declarar que a o preço da segurança é a perda parcial de sua privacidade. Nem cabos, nem ondas, nem redes estarão livres da incansável curiosidade das “agências de informação”.  Pois é na privacidade que reside a liberdade; sua perda resulta em intervenção na vida intima do cidadão. Quantas listas estão sendo criadas,  quantos cidadãos inocentes são capturados pelos algoritmos do maniqueísmo digital? Que conseqüências trarão estas listas. Hoje será por combate ao terrorismo, amanhã por razões fiscais e administrativas, e por fim, infiltrar-se-ão os  objetivos políticos sem que o cidadão se aperceba.

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