A
degradação da liberdade
A história da humanidade se entrelaça com movimentos
positivos, ou civilizatórios, e tendências negativas onde as conquistas do
primeiro são anuladas pelo segundo. Com as significantes contribuições de
pensadores franceses e britânicos a prática política evoluiu para a crescente
representatividade do povo, em detrimento das oligarquias. Montesquieu instruiu
muito do pensamento criador dos Estados Unidos, influindo na separação dos
poderes que permitissem a sua auto-limitação, daí, sua perenidade. Já a Revolução Francesa
inovou, sobretudo, no conceito de
igualdade dentre os cidadãos, incutindo no seu povo o principio de equidade no
trato do cidadão. A seguir os povos no Velho e no Novo Mundo seguiram o rumo da
maior liberdade, ainda que com intensidade bem variável e, por vezes, com penosas
distorções.
Já do lado das tendências maléficas, vemos o
comportamento das nações, que em muito diferem dos balizamentos que norteiam
seus cidadãos. Temos a ação dos Impérios e das Grandes Nações, que guiados pela necessidade de ampliar seu
poder econômico, lastreado em crescente poder militar, impõem sua vontade sobre
as nações mais fracas, assim carreando vantagens comerciais, buscando consolidar,
expandir e perpetuar seu poder e prosperidade doméstica. Não que buscam a guerra, mais guerra haverá se
necessário.
Enquanto o homem ostensivamente se civiliza, as
nações conservam os impulsos primários na busca do poder. Esta dicotomia talvez
se explique pelo conceito de nacionalismo. Se o respeito mútuo é
reconhecidamente necessário no trato entre indivíduos que se freqüentam, esta
solidariedade raramente ultrapassa as fronteiras. O cidadão, pacífico dentre seus
limites, regride à condição tribal sob a égide do “interesse nacional ameaçado”.
Transformam-se ao confrontar povos e culturas diferentes e tornam-se defensivos
e inflexíveis quando não hostis, no trato com os “outros”.
Se até os anos oitenta do Século passado estas
transgressões internacionais davam-se com impunidade para com os transgressores,
tal já não mais ocorre no nosso Século XXI. A imensa migração dos pobres do
mundo em direção aos países ricos ao longo do Século XX alterou a solidez monolítica
das nações “puras”. A internet e a continua adição de instrumentos de
comunicação social, embasada na transferência de idéias, conceitos, esperanças
e decepções, de solidariedade e revolta, rompeu as barreiras do Nacionalismo
tradicional, protegidas que foram pela força física, material, táctil. Tal
nitidez não mais ocorre, e esta internacionalização, anárquica e livre pensante
atua como antídoto contra o onipotente
Leviatã. A agressão em país distante,
não mais é desapercebida; gera conseqüência no âmago do agressor, seja de
origem externa, seja de interna. Estas, conscientização e reação, assumem mutações
onde o protesto político se estende desde o whistle blower, às manifestações, até o condenável
terrorismo.
Mas o Estado luta para conservar seu poder. O
presidente mais democrático do país mais democrático não hesita em declarar que
a o preço da segurança é a perda parcial de sua privacidade. Nem cabos, nem
ondas, nem redes estarão livres da incansável curiosidade das “agências de
informação”. Pois é na privacidade que
reside a liberdade; sua perda resulta em intervenção na vida intima do cidadão.
Quantas listas estão sendo criadas, quantos
cidadãos inocentes são capturados pelos algoritmos do maniqueísmo digital? Que
conseqüências trarão estas listas. Hoje será por combate ao terrorismo, amanhã
por razões fiscais e administrativas, e por fim, infiltrar-se-ão os objetivos políticos sem que o cidadão se
aperceba.
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