Uma alternativa
Primeiro passo: capturar duas pombas. Já as tenho em mira,
pois freqüentam o jardim do meu prédio. Uma é, na realidade, um. Machão
despudorado que passa o dia comendo e correndo atrás das meninas pombas.
Dei-lhe o nome de Pablo (estava vendo um filme da Guerra Civil Espanhola). É grandão, arrogante, mas bonitão. Acaba
conseguindo o que quer, depois de hipócritas fugas das meninas pombas. Já a
outra, a moça que escolhi dei-lhe o nome de Carmem. Era tão feminina como uma
pombinha pode ser. Uma graça.
Depois de uma semana de suborno desavergonhado, indo da crosta
de pão aos restos de croissant e torta, consegui que o casal me seguisse até a
jaula. Jaula, não. Trata-se de enorme
gaiola, situada na cobertura, que, em futuro breve estará povoada por um monte
de pombinhos.
Mas porque tudo isso? Muito simples; meu plano é o de adotar
o mais auto-sustentável, mais orgânico e
mais ecológico sistema de comunicação. Um sistema longe dos olhos eletrônicos que de tanto ler nossas mensagens terminarão por
ler as nossas mentes. No uso dos meus pombos enviarei pequenos papeis contendo
meus escritos aos amigos. Divulgarei minhas opiniões, sobre o cinema, a
política, e as barbaridades que assolam o mundo sem que as ubíquas siglas, DAS,
CIA, FBI, MI5 e 6, NKVD, GPU, MOSSAD possam atropelar a intimidade de meu pensamento. Se meu exemplo
frutificar, teremos os céus do Rio repleto de mensageiros, pousando nas mais diversas
janelas, trazendo em suas frágeis pernas
o nosso carinho, a nossa indagação, a nossa opinião.
Sim, Pablo e Carmen, e sua futura prole, longe das antenas e
cabos da vigilância digital, devolver-me-ão o luxo do pensamento livre, livre
da intrusão alheia.
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