terça-feira, 18 de junho de 2013

Uma alternativa

Primeiro passo: capturar duas pombas. Já as tenho em mira, pois freqüentam o jardim do meu prédio. Uma é, na realidade, um. Machão despudorado que passa o dia comendo e correndo atrás das meninas pombas. Dei-lhe o nome de Pablo (estava vendo um filme da Guerra Civil Espanhola). É  grandão, arrogante, mas bonitão. Acaba conseguindo o que quer, depois de hipócritas fugas das meninas pombas. Já a outra, a moça que escolhi dei-lhe o nome de Carmem. Era tão feminina como uma pombinha pode ser. Uma graça.

Depois de uma semana de suborno desavergonhado, indo da   crosta de pão aos restos de croissant e torta, consegui que o casal me seguisse até a jaula.  Jaula, não. Trata-se de enorme gaiola, situada na cobertura, que, em futuro breve estará povoada por um monte de pombinhos.

Mas porque tudo isso? Muito simples; meu plano é o de adotar o  mais auto-sustentável, mais orgânico e mais ecológico sistema de comunicação. Um sistema longe dos olhos eletrônicos que de tanto ler nossas mensagens terminarão por ler as nossas mentes. No uso dos meus pombos enviarei pequenos papeis contendo meus escritos aos amigos. Divulgarei minhas opiniões, sobre o cinema, a política, e as barbaridades que assolam o mundo sem que as ubíquas siglas, DAS, CIA, FBI, MI5 e 6, NKVD, GPU, MOSSAD possam atropelar  a intimidade de meu pensamento. Se meu exemplo frutificar, teremos os céus do Rio repleto de mensageiros, pousando nas mais diversas janelas, trazendo em suas frágeis  pernas o nosso carinho, a nossa indagação, a nossa opinião. 


Sim, Pablo e Carmen, e sua futura prole, longe das antenas e cabos da vigilância digital, devolver-me-ão o luxo do pensamento livre, livre da intrusão alheia.  

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