segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A radicalização


Hoje, fala-se de Esquerda e Direita não mais como duas opções político-econômicas intelectualmente respeitáveis, mas, sim, como raivoso conflito ideológico, onde a demonização está sempre presente. Longe estão os tempos quando Churchill e Attlee, civilizadamente, debatiam, ganhavam e perdiam, sem que por isso antevissem a destruição da Grã Bretanha.

A própria alternância de Conservadores e Trabalhistas serviu para a construção de um país mais moderno e consensual. Ironicamente, a ruína do Império Britânico ocorreu sob a guarda do Trabalhista Lloyd George, e, a seguir, do Conservador Winston Chrchill, durante as duas Guerras Mundiais, vitórias pirricas,  que se sucederam.

Já a Alemanha, ameaçada pelo Comunismo, obteve do Plano Marshall e da Social Democracia as condições econômicas e políticas que garantiram sua liberdade e subseqüente prosperidade. Derrotada nos dois conflitos, é hoje a Alemanha o mais poderoso país Europeu e a quarta economia mundial.

Naqueles tempos, Socialistas não eram tachados de Comunistas, nem Capitalistas de Fascistas. Já no Brasil, o Socialista é descrito, erroneamente, como se Comunista fosse; já ao Capitalista dão-lhe a forma de desvairado Gargantua, dono de insaciável apetite.

Ora, os Socialistas de hoje, da linhagem Fabiana,  não defendem a propriedade estatal de todos os meios de produção, não aspiram à ditadura do Proletariado, e acreditam nos benefícios de um Mercado Livre, ainda que regulado. Apóiam a inclusão dos excluídos. Já os Capitalistas do nosso Brasil, se rejeitam a propriedade Estatal, convivem com suas manifestações, e delas derivam prósperos negócios e benefícios. Valorizam a méritocracia como fundamento, mas que só tem valor quando conquistada dentro dos limites da ética. Compreendem que o Mercado deve ser regulado (vide CVM e Cade) para que sobreviva. Coerentes, acreditam na Mão Invisível de Adam Smith, bem como nas suas recomendações de prudente supervisão.

Se bem é verdade que, em ambos os lados, vislumbra-se extremistas merecedores de vigorosa repulsa, existe também o enorme e majoritário Centro. Seus seguidores ignorados no calor da batalha pouco são ouvidos. Estes, despidos de obrigações doutrinárias, vislumbram e propõem partes daqui, partes de lá, que possam compor um modelo eclético e equilibrado para uma Nação tão imensa e diversa econômica, geográfica e culturalmente. Acreditam que ambos os campos tem a oferecer, crêem que na atual febril e surda discórdia quem perde é o país.

Aí está. Não existem monstros e ogros, quando afastada a cortina do sectarismo tribal

O que cabe é a luta política para determinar se este ou aquele partido deve governar. O partido hoje no poder não é Socialista nem Capitalista; é um mecanismo político que tem por objetivo sua perpetuação, a qualquer preço (novamente o desrespeito à ética) no ápice da pirâmide. Tem se revelado impotente para atender as exigências de modernização, eficiência e probidade que se demanda de país civilizado. O que presenciamos é uma clara demonstração de oportunismo, demagogia e engodo. A atual   estrutura política de poder é sustentada por partidos tanto burgueses como proletários, numa aliança que desafia qualquer definição e coerência programática, embaralhando rumos e prioridades.

Razoável é concluir-se que neste ano eleitoral que desperta amanhã, tanto Socialistas como Capitalistas de boa fé, devem unir-se com os modestos Centristas em busca de um Brasil melhor.



domingo, 22 de dezembro de 2013

A mais nova Nação



Quem conhecerá Juba? Capital de que país? Estas e outras perguntas encontrarão o olhar esgazeado do questionado, turvado pelo mais profundo desconhecimento. Onde fica?

GeoBlog-GeoBlog: Sudão do SulSe a esmagadora maioria da população mundial ignora a resposta a estas constrangedoras indagações, poderá o leitor ter certeza que as potencias Ocidentais conhecem-na com riqueza de detalhes. O Sudão do Sul, independente  a partir de 8 de julho de 2011, o foi graças as manobras lideradas pelos Estados Unidos e Inglaterra. Moveu-lhes o espirito solidário a um povo em busca de sua própria identidade? Seria o enfraquecimento do Islâmico Sudão um fator? Provavelmente. Contudo tal empatia terá sido fortalecida pela substancial produção de petróleo que jorra no longínquo e jovem Sudão do Sul? Que acha o leitor?

Estimulados pela hostilidade, por vezes compreensível, ao Sudão Islâmico, onde a maioria Muçulmana de origem Negra e Árabe determinava com mão de ferro suas políticas, Washington e Londres partiram para efetivar a recém independência. Esta, surpreendentemente, a partir de determinado momento, contou com a ativa concordância do presidente Sudanês, al-Bashir, concluindo, sabiamente, que o domínio daqueles súditos não valia o esforço.

E hoje temos uma nação feliz, dona de seus destinos, unida pelos laços da fraternidade? Não, infelizmente não. Reina a mais profunda discórdia, a mais cruel violência dentre os novos cidadãos, nas entranhas da nova pátria. Divididos por várias tribos, dentre as quais se destacam os Nuer e os Dinqua, a cizânia reina, em frenética busca por poder e hegemonia. Busca pelo domínio do petróleo que o Ocidente já considerava seu.

Que importância terá aquele pobre país? Muito pouca. Porém, relevante é a constatação da inépcia da política externa do "mundo livre". A interferência de Washington e seu habitual cúmplice desequilibrou a tênue estabilidade do status quo ante, o qual, ainda que por vezes cruel, mantinha aquela sociedade organizada. De pouco serve, pelo visto, a avassaladora competência da ubíqua espionagem, de telefones, e-mails e até (questão de tempo) cérebros.

Apesar de desta pouco inteligente inteligência, nota-se que o fio da navalha tornou-se excessivamente fino e cortante, negando condições ao novo equilíbrio. Repete-se, assim, a sequência de intervenções, diplomáticas ou militares do "mundo civilizado", que ignorando os meandros culturais, étnicos e históricos de suas cobaias, engendram conflito, confusão e destruição.

Ontem, avião norte-americano foi recebido a tiros por aqueles que lhe devia gratidão. Alguns mortos e feridos. Enquanto corre o tempo, centenas de milhares de refugiados brotam como grãos em malvada colheita.

Nota do New York Times: South Sudan was born in the summer of 2011 with great hope and optimism, cheered on by global powers like the United States that helped shepherd it into existence. 






Comentário sobre "Do otimismo à decepção" *
*(Título de autor designado no artigo)


Muito bom Pedro! Desde que me conheço por gente, esses povos estão em conflito. Será que um dia surgirá algum político por lá que terá a sensatez de reconhecer o Estado palestino? Talvez seja necessário, além de sensatez, muita coragem para ir contra esse status quo.
Luiz 

É claro que concordo com seu artigo sobre Israel e a Palestina.  A atitude do atual governo israelense impede que se pense em paz naquela região.  Não fosse a influência que ele exerce sobre o governo americano.

Maria Luiza
Comentários sobre o crime de Nova Iguassu


Desprezar a necessidade de prevenção e manutenção, é exatamente isso. Em janeiro, a tragédia da boate Kiss fará um ano. Nunca mais se falou no assunto, que voltará às manchetes para cumprir o rito jornalístico de encher páginas relembrando episódios em seus "aniversários".  Luis 


Perfeita a sua análise. Apoio totalmente a sugestão da campanha de educação e motivação.  Tania 


Excelente como sempre 
Anônimo

sábado, 21 de dezembro de 2013

Do otimismo à decepção*


O título não é nosso*. É copiado de jornalista colaborador do maior jornal do Rio de Janeiro. É, também,  Cônsul Honorário de Israel. Em extenso e bem escrito artigo esposa a tese, já tão desgastada, que a todos cabe a culpa pelo incendiado Oriente Médio, menos ao governo Israelense. Alega ser o Oriente Médio “uma selva de mata fechada” onde somente Israel conhece seus meandros. Desqualifica, assim, os demais “amadores”.

Refere-se, especialmente, ao Irã e à Palestina como fulcros responsáveis pela  instabilidade. Rejeita as tentativas de acordo como Irã, e condiciona a negociação Palestina. Esta última depende do reconhecimento de Israel, não apenas como nação, pois já merece  reconhecimento da Autoridade Palestina, mas como um “Estado Judeu”.

Ora, a modernidade política, abraçada pela esmagadora maioria das nações Ocidentais da qual Israel  considera-se parte, adota o formato laico, separando o Estado da Religião. Assim,  obedece  e assegura o princípio da tolerância e igualdade para todos os seus cidadãos, protegidos que devem ser da imposição ideológica.

A contra sensu  da prática de governança internacional, a exigência ora formulada pelo governo Netanyahu, e defendida pelo articulista, torna-se condição sine qua non, para Tel Aviv re-encetar as negociações para o reconhecimento da  nação Palestina. Ameaça que, sem esta submissão ao imposto reconhecimento teocrático, não haverá paz nem libertação.

Assim, a exigência do governo Israelense  descarta, ou despreza  ser 25% de sua população composta de Árabes, do credo  Muçulmano. São eles cidadãos, no mínimo,  mal absorvidos,  e sua deslegitimização será mais acentuada uma vez cumprida a demanda de  Tel Aviv.  É lícito presumir-se que, com a oficialização de “Estado Judeu”, os direitos dos gentios também sofrerão  constrangimento.


Este quadro provoca, sim, a  frustração mencionada no título do artigo, mas para aqueles que respeitam Israel e lamentam seu crescente afastamento da comunidade internacional. É difícil  compreender a miopia, ou malicia, que leva seus atuais dirigentes a descartar os princípios de reconciliação defendidos pelo notável  Yitzhak Rabin. Cabe a dúvida se a persistência na recusa do reconhecimento do Estado Palestino revela estratagemas em série para a contínua e definitiva absorção, ilegal e imoral, das terras da Cisjordânia. 

sábado, 14 de dezembro de 2013

O crime de Nova Iguassu

As inundações que afogaram Nova Iguassu refletem o estado calamitoso de nossa política urbana. Não é a primeira, nem a última, que aquele município sofre os efeitos dos temporais, levando miséria aos já empobrecidos, destruindo seus haveres, suas moradias.

Não resta dúvida que o temporal que assolou a região foi de singular intensidade. Choveu num só dia mais do que choveria em todo um mês de chuvas sazonais. No momento do acontecimento pouco poderia ser feito para conter a fúria do vento, o alagamento das vias, a inundação das casas, a interrupção do transporte. No entanto, tudo que aconteceu era previsível. Era só esperar a tempestade.

Todos comentam a imundice que entope os bueiros, o lixo que veda a vazão das águas, o rio Pavuna transformado em lixeira. Não é justo exonerar a responsabilidade daqueles habitantes despidos de sentido cívico, de responsabilidade comunitária, de comportamento civilizado, ignorando as mais comezinhas regras que se impõem aos homens que vivem em sociedade. A esta minoria cabe, também, a culpa.

Porém, mais importa tornar a atenção para aqueles que, por beneficio do voto, e responsabilidade por ele imposta, têm a obrigação de prever e agir. 

A eles cabe a culpa maior, o crime culposo. Aos prefeitos e vereadores, anteriores e atuais, por não tomarem as medidas preventivas, essenciais à segurança da população sob sua guarda. Uma coleta de lixo mais intensa e eficaz, identificação e vigilância das áreas de excesso de acumulo, fiscalização permanente dos bueiros e das galerias pluviais, instalação de controle eletrônico nas margens do rio, dragagem dos pontos de oclusão, levantamento de barreira nas margens mais vulneráveis, e multas severas para pessoas jurídicas e físicas que desrespeitem as posturas municipais deve ser contemplado. Ainda, o lançamento de uma campanha de educação e motivação, no rádio e televisão, buscando o comportamento cívico compatível com o interesse da cidade.

Não se diga que faltam verbas. As verbas existem, porém desviadas pelo apadrinhamento, pela cumplicidade, pela corrupção e pela incompetência na opção de prioridades corretas. 

O que se viu em Nova Iguassu aplica-se, substancialmente, a todo o Brasil. A administração pública reflete uma característica nacional: a de desprezar a necessidade de prevenção e manutenção. Infelizmente o brasileiro, de forma geral, está centrado no novo, no por fazer, descurando da proteção ao já feito.

A conseqüência de tal descaso tem contornos trágicos, onde vida e patrimônio pagam alto preço econômico e social. O custo decorrente deste descaso é imenso, obrigando estado e particulares a reconstruírem o que, por  prudência, teria resistido às intempéries.

Os governos, em todas suas instâncias, têm por obrigação, urgente e inadiável, rever suas prioridades, antecipando a proteção a seus cidadãos e patrimônio.


quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Comentários sobre "Um aperto de mão"


E o isso se deu no enterro de Mandela, líder que como Gandhi brilha pela vitória conquistada sem sangue ou violência, no sangrento e brutal século XX. Enquanto se confrontaram na raiva e na violência os países perderam, e milhões sofreram os sacrifícios do que fizeram... Quem sabe agora sob a sombra de Mandela, também essa situação melhora? 
Edgar

Realmente, está na hora dos EEUU empregarem uma nova estratégia e acho q o Obama é um presidente capaz de fazer isso.
Carmo

Concordo totalmente e subscrevo o que o Pedro recomenda. Forte abraço Roberto

Bravo pour tes idées nettes et saines,
 Jean-Pierre


Comentários sobre Uma singular oportunidade

Pedro, Desculpe,Pedro, mas a proposta do Brasil/Turquia não tinha nada a ver.Versava apenas sobre o estoque de urânio enriquecido que iria para fora do país.Não falava em fechamento da usina de plutônio de Arak, nem no congelamento das centrífugas ,nem no enriquecimento militado a 5% nem em suspensão de sanções ao Irã.Era outro animal e por isso foi recusado terminantemente por todas as grandes potências embora saudado pelo Irã,pois mantinha seu programa militar intacto. abraços Luiz Felipe

NR: Porém ambas visavam a interrupção da construção da Bomba Nuclear, ambas restringiam a disponibilidade de urânio enriquecido, ambas acentuavam  a presença dos inspetores da AIEA, e, finalmente, ambas abririam porta para um diálogo construtivo entre as partes. Então, como agora, tudo depende da boa fé Iraniana e da boa vontade do Ocidente em atingir uma solução pacífica.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Um aperto de mão


                                             


Culpe-se o misterioso labirinto do inconsciente. Ao ver a fotografia de Barack Obama (seria o espírito de Mandela?) estender a mão a Raul Castro, que a recebeu com indisfarçável prazer (seria emoção?), veio-me à mente o colapso da represa de Fréjus.

Já lá vão muitos e muitos anos; a represa continha o rio que atravessava a pequena cidade francesa, situada na Occitânia, terra de perfumes, bosques  e montanhas. Em tenebroso dia rompeu-se a barragem, as águas descendo em ondas contínuas, ignorando ou contornando obstáculos, ceifando vidas em seu rumo ao Mediterrâneo. Nada as continha.

Ao contemplar as fisionomias dos dois chefes de Estado imaginei, também,  o rompimento da barragem denominada “Embargo”. Aquela que, por um lado fere Cuba, e por outro dá ao ditador Fidel Castro o pretexto “patriótico” de manter o poder e o rumo destrutivo de sua economia marxista.

Assim como poderosa corrente d’água, impelida e incontida, fluida, procurando sempre o caminho de menor resistência, derrubando obstáculos quando necessário,  assim vejo a força econômica que jorrando, poderosa, contornará, minará os alicerces  do passado e afogará os que se lhe opuserem.

A abertura  das oportunidades, a explosão do comércio, os investimentos incontáveis e o retorno da diáspora Cubana serão as armas mais eficazes para derrubar teorias fracassadas, conceitos ultrapassados e estruturas corroídas. O povo Cubano, dono de razoável educação, de boa saúde, de reconhecida inteligência e operosidade, saberá reinventar-se. Será o retorno do filho pródigo à família hemisférica. Será a redenção econômica e política de um povo sofrido.

A manter-se o Embargo, repete-se, ad infinitum, estratagema inoperante, que nenhum benefício traz a quem o impõe. Inevitável reconhecer que tal bloqueio, iniciado há 53 anos,  não atingiu seu objetivo, o de dobrar Cuba, o de derrubar Fidél Castro, o de repudiar o comunismo. Parece estar na hora de alterar o rumo, de abrir a comportas.


sábado, 7 de dezembro de 2013

Tributo a Nelson Mandela


                                                    


Como não pensar em Mandela! Não vou repetir os elogios que merece; já foram proclamados  nos quatro cantos do mundo.

O que Mandela sofreu, sofreu com toda a população negra da Africa do Sul desde o domínio Holandês, seguido pelos vitoriosos Britânicos após as guerras contra os Bôers. Considerados bichos pelos Holandeses, sem alma, sem direitos, melhorou sua condição com a chegada dos Britânicos, porém mantidos distantes da liberdade, da equidade e do direito que a todo povo cabe.

Seu sofrimento deste povo durou mais de 350 anos, ou seja de 15 a 20 gerações. Foi um Holocausto profundo e contínuo, perpetrado contra uma raça cuja cor era porta trancada, era fosso intransponível, era esperança frustra.

No entanto, Mandela soube vencer, soube  perdoar. O Holocausto imposto à sua gente foi esquecido para que o futuro recebesse a luz da concórdia e da fraternidade. O acre ácido da vingança foi diluído e descartado para que novo país fosse construído sob a generosa sombra daquele inigualável homem, Nelson Mandela.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Uma singular oportunidade

Os Estados Unidos tornou-se o país mais desenvolvido e rico do planeta não somente pela expansão territorial através do dinheiro (foram comprados a Flórida, Alaska, Louisiana), do fuzil (os territórios Mexicanos e Porto Rico), e da infiltração emigratória (Texas e Havaí). A enorme riqueza mineral, as terras extensas,  férteis e planas do Meio Oeste, deram-lhe prosperidade incalculável. A situação geográfica, debruçando-se sobre dois oceanos e ainda o Golfo do México  protegeu a  Nação qual fosso de imensa fortaleza, contra a cobiça do Velho Continente; abriu-lhe, ainda, as portas para o comércio com os quatro cantos do mundo. Porém  sua grandeza atual deve-se, também, à maciça imigração, contribuindo os recursos humanos essenciais para as universidades, as fábricas e o campo.

A oportunidade repete-se hoje, ainda que em escala bem menor,  em benefício do Brasil. É inegável o gargalo qualitativo da mão de obra brasileira. Tal óbice limita a expansão e a exploração das incontáveis avenidas que podem levar à aceleração e consolidação da economia nacional. O atual déficit educacional é notório, impondo lenta expansão da oferta qualificada.

Este é o momento de aproveitar-se, não somente da baixa taxa de desemprego brasileira, mas também do alto desemprego na Europa Mediterrânea (26% na Espanha, 11% na França, 12,5% na Itália).  O ingresso qualitativo deste contingente, distribuído dentre as mais diversas disciplinas,  deveria  merecer a atenção coordenada  dos setores responsáveis,  facilitando e estimulando a imigração. Pari passu,  a iniciativa privada deve, com urgência, lançar-se a procura dos quadros que tanto lhe faltam, assim acelerando a modestíssima taxa de crescimento do PIB nacional.

Entretanto, não será fácil. Aos olhos do Europeu, sua transferência para o Brasil representa singular desafio. Para derrubar barreiras, burocráticas e culturais, os dois setores, governamental e privado, deveriam entrosar-se de forma a priorizar a demanda e reduzir drasticamente o emaranhado administrativo que poderia ameaçar o projeto. Ainda, incentivo fiscal deveria ser concedido ao imigrante qualificado, quanto ao rendimento e ingresso de seu patrimônio, durante seu período de adaptação e fixação no Brasil. Assim, uma vez interiorizados, estes cientistas,  engenheiros, físicos, químicos,  soldadores e outros técnicos enriqueceriam o tecido  da força de trabalho, essencial ao desenvolvimento sustentável.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

COMENTARIOS SOBRE "Le Cafard"


Lina escreveu: "Este cafard é comum a muitos dentre nós !!!!"

Anna Maria escreveu: "Ainda bem que temos o Joaquim Barbosa . Isto e ser feliz.Precisamos n dele."

Lucia Beatriz escreveu: "Mandei um comentario p/ Google, mas acho q. não recebeu! no momento, acho q o cafard esta presente em todos os brasileiros lucidos e honestos!"

Maria Cecilia escreveu: "Cafard é intraduzível, gostei muito, Pedro de sua análise. Como escreveu Lucia Beatriz aí acima, este Brasil de hoje nos dá um cafard incomensurável."

Alice escreveu: "O que fazer para mudar?"


Carlo escreveu: "Tout a fait !!! Malgré tout, il faut combattre ces voiyous de toutes sortes, d'ailleurs, comme tu le fais, avec tes articles !!!"

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Le Cafard

Por vezes encontramos em idiomas longínquos a palavra que nos falta para denotar a angustia que nos assalta. Achei no "cafard" francês aquele sentimento de desânimo, tristeza que submerge, tanto o físico quanto o mental. É aquele sentimento de mergulho nas profundezas da lassitude, angustia e decepção, de onde a libertação torna-se lenta e sofrida. Por hábito, aplica-se à relação d'um homem e uma mulher; por vezes envolve o cidadão e sua Pátria.

A ele aplica-se hoje, pois por onde olhe poucos sinais de esperança lhe resta. Afora o Supremo Tribunal Federal, onde a lisura é preponderante, pouco respeito evocam as demais instituições.

O Executivo parece ter perdido o rumo que o bem estar da nação exige. O imediatismo eleitoral atropela a noção do dever, deturpando a missão de bem governar. Inflação, gastos do governo (desperdício) em constante alta, impostos leoninos sem contrapartida, aumento da dívida pública, perda de competitividade internacional, infraestrutura sem manutenção ou inexistente e muitas outras deficiências ferem fundo a Nação.

O exemplo da Petrobrás é emblemático do desnorteamento que assalta as autoridades. Prejudica-se a maior empresa brasileira como se fora mero instrumento de política eleitoral. Vê-se ameaçada na  sua integridade a troco de falso combate à inflação. Pagam o preço os acionistas, grandes e pequenos,  os trabalhadores, pelas imensas perdas nos mais diversos fundos de pensão e previdência, o cidadão, ao constatar e sofrer os prejuízos patrimoniais da Nação.

No Congresso impera o auto-interesse, onde a  Nação parece ser relegada a segundo plano. As notícias infindáveis de falcatruas e fraudes, salários e benesses parecem deixar em modesta minoria aqueles representantes honestos e responsáveis. A presença na crônica policial é intensa e degradante.

As notícias que envolvem a atividade empresarial, em muitas vezes, acompanham a fragilização ética que se observa no Governo. Não é rara a cumplicidade que envolve os dois setores, público e privado. Por vezes, a propina é condição do negócio, em outras, ela é o estimulo.

Constata-se, no Brasil de hoje, a disseminação dos padrões amorais, onde a ganância domina, e a ostentação é o seu prêmio. Defende-se a busca do lucro e do dinheiro a qualquer preço como virtude. Mas não pensem, tais iluminados, que a ganancia seja estanque. Pelo contrário, derrama-se sociedade afora, afogando os princípios éticos. Tem por filha bastarda a corrupção do próprio ser.




Comentários recebidos sobre o Ministro contraditório:



Boa!!!          
Cândida

Gostei muito deste seu blog.
O Ministro Marco Aurélio Mello não podia de forma alguma justificar a fuga de presos.
Sergio

É...
A ordem esta mudando... minha previsão... aumento do confronto... e do roubo...

Theodoro

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Uma nova ordem no Oriente Médio?


Irã


O caminho da Paz parece ter sido aberto. Europeus, Iranianos e, sobretudo norte-americanos chegam a acordo sobre os passos a trilhar em direção à concórdia. Essencialmente, as exigências Ocidentais foram aceitas por Teerã, onde a suspensão de enriquecimento do urânio fica estabelecida, salvo o limite permitido para fins pacíficos. Mediante inspeções internacionais satisfatórias, a cada seis meses novas etapas do acordo serão cumpridas, com a correspondente redução das sanções econômicas ora impostas ao Irã. Mas vale ressaltar; foi apenas um primeiro passo, a ser seguido por várias reuniões onde, pouco a pouco, na medida em que se estabeleça um clima de confiança mútua, as partes chegarão a bom fim.

Desta vez, prevaleceu a política externa de Barack Obama, que, com sucesso,  buscou no estrangulamento econômico a arma que fez dobrar o regime dos Aiatolás. Parafraseando Winston Churchill, não é o fim do começo, mas,  o começo do começo.

Porém, a satisfação com este estado de coisas está longe de ser unânime, especialmente no Oriente Médio.  Preliminarmente,  Israel repudia qualquer espécie de acordo, afirmando que somente a solução militar interromperá a escalada nuclear Iraniana.  Tem por aliados os emirados Sunitas do Golo Pérsico, estes liderados pela Arábia Saudita. Depois de visita a líderes Europeus, onde sua tese bélica foi rechaçada, o Premiê Israelense,  volta-se para os Estados Unidos. Exercendo  surpreendente, porém explicável, domínio sobre o Congresso norte-americano, obtem seu apoio contra a iniciativa diplomática de Obama. Insufla o parlamento yankee  para o  aumento das sanções econômicas justo no momento em que o Irã parece ceder.  Evidencia-se, assim, constrangedora interferência de Estado  estrangeiro nos assuntos internos e determinações políticas do governo Americano.

Não surpreende, portanto, que nova visão estratégica esteja tomando forma na Casa Branca, onde as influências externas no Oriente Médio sejam re-arrumadas. Busca o governo maior liberdade de atuação naquela região, desvencilhando-se da camisa de força a que vem sendo submetido por Tel Aviv. O desenrolar pacífico deste contencioso poderá trazer a Washington consideráveis benefícios estratégicos:
1.       
           Colaborar para a  solução do conflito Afegão, onde Teerã  exerce forte influencia no  Oeste de seu vizinho,
2.                 Ajudar na solução da guerra civil Síria pela redução do apoio armado em troca de acordo pacífico que neutralize a Al Qaeda,
3.            Atenuar a hostilidade mútua entre Israel e o Sul do Líbano, dominado pelo Hezbollah,
4.                 Contrapor a influência Xiita à preponderância Sunita, berço  do terrorismo Islãmico internacional,
5.                  Liberar a produção e comercialização petrolífera Iraniana (quarto produtor mundial) reduzindo preços e influências excessivas dos reinos da península Arábica.
6.                  Desarmar o Golfo Pérsico  e o estreito de Ormuz, permitindo a realocação de consideráveis recursos militares (sobretudo da Marinha norte-americana) para o teatro asiático.


N.R.  Difícil é ignorar-se  a proposta conjunta de Turquia e Brasil para solução deste contencioso, que em pouco difere do recém Acordo de  Genebra.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Contraditório





O ser humano apreende pelos acertos e erros que observa ou comete. No caso em questão, nada mais exemplar (no mau sentido) do que o surpreendente comentário do Ministro Marco Aurélio Mello. Tendo condenado o criminoso, em seguida justifica sua fuga. Condena mas não pune. Revela, assim, um tortuoso raciocínio que torna a qualidade de seu voto numa espécie de roleta, onde as chances de acerto e erro são entregues ao labirinto lógico que comanda  o acaso e não à interpretação judiciosa dos compêndios jurídicos

Ao declarar que compreende a fuga do condenado Henrique Pizzolato disse algumas outras coisas de suma importância. Ainda que não tenham sido verbalizadas,  estão implícitas, com a clareza de anúncio luminoso em noite escura.

O preclaro Ministro disse, sem que o dissesse, que todo criminoso tem o direito de fugir ao merecido castigo, pois as más condições das prisões brasileiras validam a fuga. Ainda, ofereceu um poderoso argumento para  dificultar, e talvez impedir que qualquer outro país, conceda a extradição de criminosos foragidos, tendo por base a tese do castigo desumano. Permitiu ainda, o nobre Magister, que todo preso em território nacional questione a validade de seu encarceramento, levantando a justa indagação do porque se aplica somente aos poderosos e não aos humildes?

Apesar da inoportunidade de tal declaração, justo será reconhecer o calamitoso estado de nossas prisões, escolas de crime para todos que la chegam. O atual sistema parece ser uma fábrica de criminosos. De maneira inesperada e talvez imprópria o Ministro Marco Aurélio Mello trouxe a tona questão de relevante importância.

É calamitosa a opacidade estatística da população carcerária, que impede a análise e aprimoramento do processo penal e de sua execução. Quantos ladrões de galinha, ou de pedaços de pão lotam a prisões? Quantos já cumpriram pena e continuam presos? Quantos são de alta periculosidade? Quantos são primários, condenados a pequenas penas? Qual o resultado desta promiscuidade?

Com a palavra o ministro da Justiça.