As inundações que afogaram Nova Iguassu refletem o estado
calamitoso de nossa política urbana. Não é a primeira, nem a última, que aquele
município sofre os efeitos dos temporais, levando miséria aos já empobrecidos,
destruindo seus haveres, suas moradias.
Não resta dúvida que o temporal que assolou a região foi de
singular intensidade. Choveu num só dia mais do que choveria em todo um mês de
chuvas sazonais. No momento do acontecimento pouco poderia ser feito para
conter a fúria do vento, o alagamento das vias, a inundação das casas, a
interrupção do transporte. No entanto, tudo que aconteceu era previsível. Era
só esperar a tempestade.
Todos comentam a imundice que entope os bueiros, o lixo que veda a
vazão das águas, o rio Pavuna transformado em lixeira. Não é justo exonerar a
responsabilidade daqueles habitantes despidos de sentido cívico, de responsabilidade
comunitária, de comportamento civilizado, ignorando as mais comezinhas regras
que se impõem aos homens que vivem em sociedade. A esta minoria cabe, também, a
culpa.
Porém, mais importa tornar a atenção para aqueles que, por
beneficio do voto, e responsabilidade por ele imposta, têm a obrigação de
prever e agir.
A eles cabe a culpa maior, o crime culposo. Aos prefeitos e
vereadores, anteriores e atuais, por não tomarem as medidas preventivas,
essenciais à segurança da população sob sua guarda. Uma coleta de lixo mais
intensa e eficaz, identificação e vigilância das áreas de excesso de acumulo, fiscalização
permanente dos bueiros e das galerias pluviais, instalação de controle
eletrônico nas margens do rio, dragagem dos pontos de oclusão, levantamento de
barreira nas margens mais vulneráveis, e multas severas para pessoas jurídicas
e físicas que desrespeitem as posturas municipais deve ser contemplado. Ainda,
o lançamento de uma campanha de educação e motivação, no rádio e televisão, buscando
o comportamento cívico compatível com o interesse da cidade.
Não se diga que faltam verbas. As verbas existem, porém desviadas
pelo apadrinhamento, pela cumplicidade, pela corrupção e pela incompetência na opção
de prioridades corretas.
O que se viu em Nova Iguassu aplica-se, substancialmente, a todo o
Brasil. A administração pública reflete uma característica nacional: a de
desprezar a necessidade de prevenção e manutenção. Infelizmente o brasileiro,
de forma geral, está centrado no novo, no por fazer, descurando da proteção ao
já feito.
A conseqüência de tal descaso tem contornos trágicos, onde vida e
patrimônio pagam alto preço econômico e social. O custo decorrente deste
descaso é imenso, obrigando estado e particulares a reconstruírem o que, por prudência, teria resistido às intempéries.
Os governos, em todas suas instâncias, têm por obrigação, urgente
e inadiável, rever suas prioridades, antecipando a proteção a seus cidadãos e
patrimônio.
3 comentários:
Excelente como sempre Tio Pedro.
Perfeita a sua análise. Apoio totalmente a sugestão da campanha de educação e motivação. Bj Tania
Desprezar a necessidade de prevenção e manutenção, é exatamente isso. Em janeiro, a tragédia da boate Kiss fará um ano. Nunca mais se falou no assunto, que voltará às manchetes para cumprir o rito jornalístico de encher páginas relembrando episódios em seus "aniversários".
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