Hoje, fala-se de Esquerda e Direita não mais como duas
opções político-econômicas intelectualmente respeitáveis, mas, sim, como
raivoso conflito ideológico, onde a demonização está sempre presente. Longe
estão os tempos quando Churchill e Attlee, civilizadamente, debatiam, ganhavam
e perdiam, sem que por isso antevissem a destruição da Grã Bretanha.
A própria alternância de Conservadores e Trabalhistas serviu
para a construção de um país mais moderno e consensual. Ironicamente, a ruína
do Império Britânico ocorreu sob a guarda do Trabalhista Lloyd George, e, a
seguir, do Conservador Winston Chrchill, durante as duas Guerras Mundiais,
vitórias pirricas, que se sucederam.
Já a Alemanha, ameaçada pelo Comunismo, obteve do Plano
Marshall e da Social Democracia as condições econômicas e políticas que
garantiram sua liberdade e subseqüente prosperidade. Derrotada nos dois
conflitos, é hoje a Alemanha o mais poderoso país Europeu e a quarta economia
mundial.
Naqueles tempos, Socialistas não eram tachados de
Comunistas, nem Capitalistas de Fascistas. Já no Brasil, o Socialista é
descrito, erroneamente, como se Comunista fosse; já ao Capitalista dão-lhe a
forma de desvairado Gargantua, dono de insaciável apetite.
Ora, os Socialistas de hoje, da linhagem Fabiana, não defendem a propriedade estatal de todos
os meios de produção, não aspiram à ditadura do Proletariado, e acreditam nos
benefícios de um Mercado Livre, ainda que regulado. Apóiam a inclusão dos excluídos.
Já os Capitalistas do nosso Brasil, se rejeitam a propriedade Estatal, convivem
com suas manifestações, e delas derivam prósperos negócios e benefícios.
Valorizam a méritocracia como fundamento, mas que só tem valor quando
conquistada dentro dos limites da ética. Compreendem que o Mercado deve ser
regulado (vide CVM e Cade) para que sobreviva. Coerentes, acreditam na Mão
Invisível de Adam Smith, bem como nas suas recomendações de prudente
supervisão.
Se bem é verdade que, em ambos os lados, vislumbra-se
extremistas merecedores de vigorosa repulsa, existe também o enorme e
majoritário Centro. Seus seguidores ignorados no calor da batalha pouco são
ouvidos. Estes, despidos de obrigações doutrinárias, vislumbram e propõem
partes daqui, partes de lá, que possam compor um modelo eclético e equilibrado
para uma Nação tão imensa e diversa econômica, geográfica e culturalmente.
Acreditam que ambos os campos tem a oferecer, crêem que na atual febril e surda
discórdia quem perde é o país.
Aí está. Não existem monstros e ogros, quando afastada a cortina
do sectarismo tribal
O que cabe é a luta política para determinar se este ou
aquele partido deve governar. O partido hoje no poder não é Socialista nem
Capitalista; é um mecanismo político que tem por objetivo sua perpetuação, a
qualquer preço (novamente o desrespeito à ética) no ápice da pirâmide. Tem se
revelado impotente para atender as exigências de modernização, eficiência e
probidade que se demanda de país civilizado. O que presenciamos é uma clara
demonstração de oportunismo, demagogia e engodo. A atual estrutura política de poder é sustentada
por partidos tanto burgueses como proletários, numa aliança que desafia
qualquer definição e coerência programática, embaralhando rumos e prioridades.
Razoável é concluir-se que neste ano eleitoral que desperta
amanhã, tanto Socialistas como Capitalistas de boa fé, devem unir-se com os
modestos Centristas em busca de um Brasil melhor.
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