segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

A radicalização


Hoje, fala-se de Esquerda e Direita não mais como duas opções político-econômicas intelectualmente respeitáveis, mas, sim, como raivoso conflito ideológico, onde a demonização está sempre presente. Longe estão os tempos quando Churchill e Attlee, civilizadamente, debatiam, ganhavam e perdiam, sem que por isso antevissem a destruição da Grã Bretanha.

A própria alternância de Conservadores e Trabalhistas serviu para a construção de um país mais moderno e consensual. Ironicamente, a ruína do Império Britânico ocorreu sob a guarda do Trabalhista Lloyd George, e, a seguir, do Conservador Winston Chrchill, durante as duas Guerras Mundiais, vitórias pirricas,  que se sucederam.

Já a Alemanha, ameaçada pelo Comunismo, obteve do Plano Marshall e da Social Democracia as condições econômicas e políticas que garantiram sua liberdade e subseqüente prosperidade. Derrotada nos dois conflitos, é hoje a Alemanha o mais poderoso país Europeu e a quarta economia mundial.

Naqueles tempos, Socialistas não eram tachados de Comunistas, nem Capitalistas de Fascistas. Já no Brasil, o Socialista é descrito, erroneamente, como se Comunista fosse; já ao Capitalista dão-lhe a forma de desvairado Gargantua, dono de insaciável apetite.

Ora, os Socialistas de hoje, da linhagem Fabiana,  não defendem a propriedade estatal de todos os meios de produção, não aspiram à ditadura do Proletariado, e acreditam nos benefícios de um Mercado Livre, ainda que regulado. Apóiam a inclusão dos excluídos. Já os Capitalistas do nosso Brasil, se rejeitam a propriedade Estatal, convivem com suas manifestações, e delas derivam prósperos negócios e benefícios. Valorizam a méritocracia como fundamento, mas que só tem valor quando conquistada dentro dos limites da ética. Compreendem que o Mercado deve ser regulado (vide CVM e Cade) para que sobreviva. Coerentes, acreditam na Mão Invisível de Adam Smith, bem como nas suas recomendações de prudente supervisão.

Se bem é verdade que, em ambos os lados, vislumbra-se extremistas merecedores de vigorosa repulsa, existe também o enorme e majoritário Centro. Seus seguidores ignorados no calor da batalha pouco são ouvidos. Estes, despidos de obrigações doutrinárias, vislumbram e propõem partes daqui, partes de lá, que possam compor um modelo eclético e equilibrado para uma Nação tão imensa e diversa econômica, geográfica e culturalmente. Acreditam que ambos os campos tem a oferecer, crêem que na atual febril e surda discórdia quem perde é o país.

Aí está. Não existem monstros e ogros, quando afastada a cortina do sectarismo tribal

O que cabe é a luta política para determinar se este ou aquele partido deve governar. O partido hoje no poder não é Socialista nem Capitalista; é um mecanismo político que tem por objetivo sua perpetuação, a qualquer preço (novamente o desrespeito à ética) no ápice da pirâmide. Tem se revelado impotente para atender as exigências de modernização, eficiência e probidade que se demanda de país civilizado. O que presenciamos é uma clara demonstração de oportunismo, demagogia e engodo. A atual   estrutura política de poder é sustentada por partidos tanto burgueses como proletários, numa aliança que desafia qualquer definição e coerência programática, embaralhando rumos e prioridades.

Razoável é concluir-se que neste ano eleitoral que desperta amanhã, tanto Socialistas como Capitalistas de boa fé, devem unir-se com os modestos Centristas em busca de um Brasil melhor.



Nenhum comentário: