domingo, 30 de dezembro de 2018

Juros e política


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O Brasil não é para principiantes; e, por vezes, nem para profissionais. Há poucos dias, os jornais das grandes capitais estampavam matéria paga, ocupando páginas duplas, onde a mensagem da Febraban, associação dos bancos brasileiros, reconhecia a necessidade de baixar as atuais taxas de juros.

Afinal, o altíssimo custo dos empréstimos pessoais, combinado com os efeitos recessivos da economia post Dilma geraram um exército de inadimplentes, estimados em 60% do total de atuais devedores. Estes se inserem nos 12 milhões de desempregados com ínfima capacidade de consumo tornando evidente o peso que inibe a retomada da economia nacional.

Esta situação depressiva se espelha na baixa participação do consumo da famílias na formação do PIB nacional.

Parece claro? Não, não é. Na semana seguinte ao "mea culpa" estampada nos jornais nacionais, o sistema bancário, em surpreendente reviravolta,  anuncia o aumento dos juros. Desprezando o fato de serem estes juros brasileiros campeões internacionais, a imprensa e outros meios de comunicação agem como se fossem eles "normais", assim impedindo que a sociedade se aprofunde nas suas causas e vislumbre correção possível.

Tudo indica que, sob o governo Bolsonaro, a economia deverá retomar o rumo positivo. O modesto índice de investimento deverá melhorar substancialmente, tendo em vista o ambiente "pro-business" do governo que se inicia. No entanto, o efeito recessivo das exorbitantes taxas de juros não deve ser ignorado. A manter-se, deverá adiar a recuperação da capacidade de compra de enorme contingente anteriormente consumidor, hoje exaurido.

Tanto governo, através do Banco Central, quanto os bancos, por intermédio de sua  Febrabam, devem unir esforços para repensar a atual equação creditícia, cuja permanência manterá o ritmo da  retomada aquém de sua potencialidade. O custo político da inação, ao adiar-se a cooptação da massa trabalhadora para o campo do capitalismo esclarecido, servirá para engrossar as fileiras do PT e congeneres. Neste século XXI, onde reina a comunicação instantânea, os desnivelamento sócio-econômicos assumem crescente dimensão política. Ignorá-los representa alto risco.


domingo, 23 de dezembro de 2018

De ferida à câncer


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Fabrício Queiroz


Dentro do recente quadro ético brasileiro, onde os mais execráveis crimes de corrupção ocorrem, o "affair" Flavio Bolsonaro e Fabrício Queiroz seria irrelevante. Afinal, que importância tem os 1,2 milhões de reais citados pela COAF quando comparados com as dezenas de bilhões que ornam os mal feitos descobertos ao longo dos anos?

Mas na política a lógica se curva perante a psicologia de massa. O "caso" acima citado ocorre em momento onde um dos pilares que sustenta a eleição de Jair Bolsonaro é o repúdio e o combate à Corrupção.

O COAF, órgão da  Receita Federal, recém constatou e existência  de movimentação atípica nas contas de Fabrício Queiroz, onde pagamentos teriam sido feitos à pessoas ligadas ao Senador Flávio Bolsonaro. Em condições normais, caberia, então, aos dois, patrão e empregado, oferecer os esclarecimentos necessários às autoridades fazendárias. Contudo, contrariando as expectativas dos que apoiam o campo vitorioso na recém finda eleição, até o momento nada foi feito para apurar-se o que de fato aconteceu, deixando este vazio profunda consternação.

Como tal não aconteceu, torna-se possível, senão provável, que irregularidades existam. Ora tal silêncio só seria possível com a anuência, passiva ou ativa, do pai do Senador, o presidente recém eleito. Ainda no terreno das hipóteses, se tal conversa ocorreu, dela decorreria duas alternativas:

  • A primeira,  reconhecer o erro e pagar as multas e outras penalidades devidas., assim aceitando o dano politico imediato, desobstruindo o caminho para recuperação do capital político hoje esgarçado. Penoso, porém superável no tempo e no exemplo. 
  • A segunda,  negar tudo, impedir ou adiar o depoimento do Sr. Queiroz para depois da posse do Senador, então protegido pelo Foro Especial.
A primeira hipótese causaria um ferida dolorosa, porém curável. A segunda, mais parecerá um câncer cujo tempo agrava, causando grave dano.

O Presidente Jair Bolsonaro só poderá combater o colapso ético que a Nação enfrenta dando seu exemplo, elemento essencial e insubstituível. Sua imagem não pode associar-se à mensagem dos cínicos, onde "tudo continua na mesma", onde "muda-se os bandidos e permanece a corrupção". Sem expiar o crime, se houver, o Presidente será perseguido ao longo se seu mandato, sem que a ferida sare.

São poucos os dias que nos separam da posse do novo Presidente, são poucos os dias para fazer a coisa certa.

             






terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Lá se vai o ano...

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2018 não foi fácil para Gaia, a Mãe Terra. Sobretudo no Ocidente, a Farsa de mãos dadas à Tragédia. O sofrimento espalhou-se, venezuelanos esfomeados pela promessa do distributivismo, árabes explodidos por crenças e contra-crenças, negros sob estado de sítio no louro paraíso, africanos famintos em terra ressecada, europeus enraivecidos pelas imigrações auto-infligidas,  ingleses (não são europeus) sem saber a que terra pertencer. Enfim, o Ocidente não parece ir bem.

No entanto, o Oriente parece ignorar as nuvens negras do outro hemisfério. Economias pujantes, populações enriquecendo, políticas estáveis. Será a sua vez, estará chegando àqueles olhos fendados o vislumbre dourado?

Pouco provável. Donald Trump, cada vez mais assertivo, descartando como supérfluas as realidades que o cercam,  exerce o  que acredita ser sua infalibilidade. Da arrogante ignorância busca ressuscitar o finado  Mercantilismo  como base para o enriquecimento solitário de sua pátria excepcional. Busca enriquecer empobrecendo os demais. Transforma a complexidade dos fluxos financeiros e comerciais que regem o globo, azeitados pelos estímulos diplomáticos e pelas agências multinacionais, em simples paródia aritmética.

O mundo empresarial já percebeu que vai dar ..., bem, problema. Wall Street, the City, la Bourse  todos  nervosos; os juros em gangorra, Big Business em dúvida.

Enquanto a trama procede, o Brasil, mais uma vez, inova! Viva a jabuticaba! O presidente-eleito, rompendo as tradições de nossa competente política externa (com exceção do breve amadorismo esquerdista onde a ideologia tomou precedência, e não os permanentes interesses do Brasil) parece seguir caminho que lembra os erros do PT, porém com sinal trocado.

O amadorismo aí está, quando confunde como hostil e inevitável o choque entre culturas quando  apenas revelam um mundo em mutação e não o confronto entre as civilizações Ocidental e Oriental. Propõe o alinhamento do Brasil à uma das facções em vez de confraternizar com todos os players internacionais. Como estratégia busca, ainda, a subordinação (não tendo estatura para ser aliado) aos Estados  Unidos, cujos objetivos estratégicos de manutenção de sua liderança mundial pouco têm em comum com os do Brasil. Ao optar por unir seu destino político aos arroubos de um magnata-político de duvidoso equilíbrio e jejuno em questões internacionais arrisca provocar represália daqueles países cujos interesses, até o momento,  coincidem com os do Brasil.

Tem solução? Sim, tem. Jair Bolsonaro é inteligente e instruído. Nos primeiros meses de seu governo dar-se-á conta dos erros cometidos nos primeiros passos de seu mandato.  Com o auxílio de seus colaboradores, sobretudo de "seus" generais livres da corrosão ético-política, poderá construir uma base sólida para reformar a Nação.


domingo, 9 de dezembro de 2018

A Nova Ordem


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Há poucos dias, o Secretário de Estado norte-americano, Michael Pompeu, declarou perante seus aliados da OTAN o estabelecimento de uma “Nova Ordem” para o planeta sob a liderança do presidente Trump. Segundo sua entrevista, este reordenamento decorreria da busca pela paz e pela prosperidade internacional.

Não é a primeira vez que esta expressão é utilizada no cenário internacional. No início da Segunda Guerra Mundial, Hitler assim denominou sua conquista do mundo Ocidental, causando um dos mais sangrentos e destruidores cenários do mundo civilizado. A “Neuordnung”, o a Nova Ordem, tornou-se o bordão para o domínio das demais nações.

Neste quadro, onde já ocorrem profundas mudanças no campo internacional, nada mais relevante do que a personalidade de Donald Trump, cujos impulsos se traduzem pelo tom impositivo de seu slogan: “America First”. Sustentado pela maior economia e o maior poderio militar, tem em seu arsenal seu desprezo pela assinatura aposta em tratados celebrados. Desta forma, o presidente altera o equilíbrio até então vigente no comércio internacional.

Ao fazê-lo, pretende alterar, também, o status-quo político. Declara-se hostil às organizações multilaterais, a começar pelas Nações Unidas, instituição que tem evitado, ao longo dos últimos setenta anos, a eclosão da guerra entre as grandes potências internacionais. Pouco mérito confere Mr. Trump a este forum internacional. Como exemplo de seu desprezo pela instituição, acaba de indicar para embaixadora junto à ONU uma “âncora” de programa da Fox News, canal de televisão americano, jejuna nas lides da política externa.

No campo econômico, a unilateral revisão do tratado que engloba o México e o Canadá, e, ainda, a imposição, também unilateral, de novas e maiores tarifas sobre o comércio com seus parceiros destrói a confiabilidade necessária ao ordenamento do fluxo de bens, serviços e capitais dentre as nações.

No campo político, esta Nova Ordem representa sério perigo no relacionamento internacional. O rompimento unilateral de tratados como os de Paris (ecologia) e de Teerã (nuclear), ambos contrariando seus aliados Europeus e Asiáticos. Nos dois casos, aumenta-se, de forma relevante, o perigo de degradação e conflagração no planeta.

Uma especial menção às relações entre Washington e Pequim torna-se conveniente. Já parece claro que a manter-se as tendências de crescimento econômico, político e militar das duas nações, a China deverá superar os Estados Unidos nas próximas quatro ou cinco décadas. Tal projeção, conforme indica seu comportamento, torna-se inaceitável para Donald Trump. Para reverter a tendência os Estados Unidos parecem dispostos a usar todas as armas econômicas a seu dispor. O aumento draconiano das tarifas impostas sobre produtos chineses direcionados à América do Norte reflete esta nova política de contenção. Assim, do ponto de vista das relações entre estas duas potências, tanto mais graves serão os efeitos quanto mais eficaz for esta política.

Uma alteração abrupta do equilíbrio reinante na geo-política internacional dificilmente ocorre sem que haja reações estremadas. A China de hoje deve sua estabilidade interna não apenas ao aparato político-policial do partido comunista, mas, também, ao continuo avanço na prosperidade de seus habitantes. Uma inversão relevante deste cenário reduziria o apoio popular ao atual governo, alterando, assim, as prioridades políticas do país. Por consequência, pode-se presumir que à uma reversão relevante da trajetória econômica chinesa sobreponha-se a prioridade no reforço da segurança nacional, tanto interna quanto externa. Aumentar-se-ia, assim, o risco de conflito.

Ainda, como irritante adicional à um quadro em deterioração, o uso cada vez mais amplo e frequente da nova arma no arsenal norte-americano, a Sanção Econômica, abre um novo formato no conflito entre nações. Esta, na sua conformação draconiana, tem um imenso poder destrutivo; sem sequer derrubar um prédio, pode levar a nação adversária à ruína. Em seu formato mais agudo, abrange a captura de indivíduos em seu emaranhado, como acaba de ocorrer com a chinesa Meng Wanzhou, vice presidente de importante empresa chinesa. Trata-se de uma transgressão da Lei Internacional, por colocar a jurisdição norte-americana acima de nações independentes. Matéria para o Tribunal Internacional.

É verdade que 1914 já vai longe, porém, vale a lembrança que por causa de um indivíduo, o assassinato do Príncipe Herdeiro do Império Austro-Húngaro, teve inicio a mais sangrentas das guerras até então. Haverá retaliação chinesa? Qual será?






domingo, 25 de novembro de 2018

Assassinato?..e daí?


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Assassinatos autorizados pelo Estado  ocorrem regularmente nos países que compõem o Oriente Médio. O assassinato decorre da natureza das ditaduras, políticas ou ideológicas, e sua frequência se constata na história daqueles países.

Porém, a morte de Mohammed Adnar  Khassogy no consulado Saudita em Istambul chocou a comunidade internacional por razões específicas: um  pacífico jornalista, residente nos Estados Unidos, foi vítima de bárbara morte, não por oferecer perigo à integridade da Arábia Saudita, mas por criticar o governo do  Príncipe Herdeiro Mohammed Bin Salman. As provas colhidas pelo governo turco e compartilhadas com seus aliados Ocidentais, onde a barbárie do estrangulamento da vítima e seu  posterior desmembramento revelam a responsabilidade pessoal e intransferível do dirigente Saudita.

Em desdobramento surpreendente, este crime deverá ser seguido por seis outros assassinatos. O próprio mandante do crime, em operação de queima de arquivo, condenou à morte seus seis agentes, algozes escolhidos para a execução de Khassogy.

Este episódio se soma aos ventos contrários que ora vêem sacudindo a Tríade criada sob a proteção e participação dos Estados Unidos, tendo Israel e Arábia Saudita como participantes, em  aliança visando o domínio da região. Explorando a coincidência de objetivos teológicos e geo políticos, o Estado Judeu uniu-se ao Estado Wahabita (1), em nítida conformação teocrática, com o objetivo de destruir a teocracia adversária, o Irã.

Como se ofendesse a ira de alguns Deuses, o projeto parece não estar dando certo. A par com o assassinato acima descrito, retirando ao príncipe assassino a imagem que pretendia  de homem moderno e inovador, tem-se Bibi Netanyahu às voltas com a polícia por malfeitos financeiros. Completando um  quadro pouco respeitável, o presidente Donald Trump vem a publico declarar que aos Estados Unidos mais importa vender armas, relevando o comportamento pessoal, criminal,  de seu aliado.

Na esteira de tal declaração, vale a pergunta: como se posicionarão Senado e Câmara  em Washington. Qual será a reação da Comissão para Direitos Humanos do parlamento norte-americano?  Até onde as imensas contribuições financeiras Sauditas, multipartidárias e pessoais, atenuarão a indignação? Até que ponto a liturgia moral nas relações entre estados sera submersa pelos interesses financeiros?

No entanto, nem Trump nem seus assessores parecem entender a extensão do grave dano que sua decisão pode causar à sua politica externa. O respeito ostensivo (senão real)(2)à ética deve prevalecer nas relações internacionais. Por ética entende-se a soma de comportamentos que favoreçam o relacionamento construtivo entre Estados ou pessoas.  Assim como os tratados entre os países devem ser respeitados, para que haja no conjunto de relações internacionais condição de estabilidade e segurança jurídica, o comportamento dos governos deve se ater à lei consensualmente prevalente. Já a aceitação do assassinato como ato de governo, conforme  neste caso se observa, retira validade à assinatura do perpetrante, à sua credibilidade,  por ser quebra explícita da Ética entre as nações.

Ora, confrontado com inegáveis provas e instado a revelar qual a atitude que caberia a seu governo, Donald Trump optou pela prevalência do interesse econômico que une as duas nações. Segundo o Presidente norte-americano, as vendas de armas e a imperiosa necessidade de estabilizar-se o mercado do petróleo, colocam considerações éticas em segundo plano. Enfatizou a prioridade: "America First" e ao fazê-lo deu à frase um novo significado. A supremacia norte americana deve ser obtida a qualquer preço, dentro ou fora da lei. Tal desprezo aos limites éticos também já se manifestaram no rompimento unilateral de tratados ratificados pelo Congresso americano. Ao assim declarar-se, Donald Trump fere, novamente, o Soft Power da nação.


1. Variante radical da religião Muçulmana-Sunita estreitamente ligada à criação da Arábia Saudita.
2. Ditado francês: A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude.






sexta-feira, 16 de novembro de 2018

O novo Chanceler



De hoje à posse do novo presidente, muita coisa acontecerá, seja seguindo a atual tendência que se observa, seja revertendo-a face à obstáculos insuspeitos.

No memento, contudo, a evolução do processo de transmissão da Presidência parece bem encaminhado. Jair Bolsonaro, contrariando expectativas de muitos, não mais parece tão dogmático. Pelo contrário vem dando sinais de flexibilidade, reconhecendo que muitas das idéias que nortearam sua campanha, merecem revisão.

Tratando-se de política externa, parece ter recuado quanto ao reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel. Recebeu um choque de realidade ao conhecer a reação negativa do Egito que, em companhia dos demais países árabes, respondem por quantidade importante das exportações brasileiras. Também, deve ter sido aconselhado pelos profissionais do ramo que ao Brasil não interessa ignorar a lei internacional, conforme estabelecida pelas Nações Unidas, uma vez que nela terá o país guarida quando confrontado por estados que lhe superem política e economicamente.

As boas relações com Israel devem prevalecer, como ora ocorre. O reconhecimento de Jerusalém como capital não é exigência para que assim continue. Ainda, a mesma relação construtiva deve se aplicar aos países árabes, mantendo e aprimorando as condições atuais.

Quanto ao Mercosul, o novo governo não deve desprezar os benefícios políticos e econômicos que propicia ao Brasil, ainda que muito deva ser feito para aprimorara e ampliar o alcance potencial desta aliança. Tudo indica que o presidente eleito pretende adotar uma política construtiva.

Agora resta à Bolsonaro a escolha de um ministro que possua a experiência, a maturidade e o profundo conhecimento do que seja a mais conveniente política externa brasileira.

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As linhas acima escritas o foram na véspera da designação do futuro Chanceler, o diplomata Ernesto Araújo.

Embasado nas informações obtidas em entrevistas concedidas e textos por ele publicados, algumas observações tornam-se convenientes.

Sem dúvida o currículo do futuro ministro revela um carreira de sucesso, atuando em nações de primeira grandeza e, ainda, aperfeiçoada por posto nas Nações Unidas. O fato de ainda não ter comandado missões e, portanto, não ter alcançado o posto de embaixador não impede que venha exercer com competência o comando do Itamaraty.

Já, suas declarações à imprensa ou os textos de sua publicação revelam uma predisposição ao pensamento enfático, senão radical.

Sua divisão do mundo entre um Ocidente a ser protegido contra as ameaças que parecem advir das regiões euro-asiáticas, suscita indagação quanto à sua razoabilidade, uma vez que da Ásia provém fluxos comerciais e financeiros essenciais à prosperidade do Brasil. Tanto a China quanto a Rússia hoje representam dois polos de poder político-econômico que não devem ser ignorados nem hostilizados.

Sua declarada admiração pelo presidente Trump (que acaba de impor, unilateralmente, tarifas ao Brasil) e pelo filósofo (auto didata segundo o próprio) Olavo de Carvalho, talvez o melhor expoente da visão maniqueísta, sugere uma visão impositiva que, se implantada no âmbito das relações internacionais, pareceria negar a bem sucedida tradição da diplomacia brasileira.

Sua declaração ”O projeto meta-político significa, essencialmente, abrir-se para a presença de Deus na política e na história” e sua exumação da obra de Samuel Huntington alertando para o Choque de Civilizações remete ao período das Cruzadas. O escudo que preconiza em seus escritos, portando a Cruz e a Espada, se traduz em conflito, mais adequado ao Ministério da Defesa do que ao Itamaraty. Ora, a razão de ser da diplomacia é, justamente, evitar-se o conflito.

O diálogo é o mais eficaz antídoto ao conflito, e o conflito moderno pode tornar-se nuclear. Não parece ser a hora de experimentos exóticos.

O que o novo Chanceler defende se reveste, possivelmente, das melhores intenções ainda que revele um “que” de pre-modernidade. O retorno ao “nós e eles” e o abandono da globalização no alvorecer do Século XXI parece um passo atrás.



quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Divórcio?



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Fará pouco mais de um ano iniciou-se um conto de fadas. Mão na mão, olhares penetrantes, corridinhas impetuosas pelos corredores da Casa Branca, o recém empossado Donald Trump conheceu Emmanuel Macron, presidente da França.

O namoro continuou. Macron convida Trump, ex aluno de Academia Militar com aração por uniformes, para assistir, como hóspede preferencial, ao desfile militar comemorando o nascimento da república francesa. Novamente, juras de amor foram confirmadas. Os Estados Unidos da América do Norte tinha encontrado sua alma irmã no outro lado do Atlântico. Nem mesmo Theresa May, líder dos primos britânicos, soube superar o francês.

Mas o passar do tempo é inclemente. Decisões intempestivas, voluntariosas, emotivas, fruto de uma visão simplista e incompleta do que sejam as relações internacionais e até mesmo os interesses dos Estados Unidos, desnudaram o verdadeiro Donald Trump.

O abandono do acordo climático de Paris, a retirada unilateral do tratado anti-nuclear com o Irã, a ameaça de reduzir os aportes à OTAN, a imposição de maiores tarifas sobre produtos Europeus transformaram o cordial amigo em temido adversário.

Nesta semana, convidado por Macron para integrar as solenidades celebrando o término da Primeira Guerra Mundial, Trump teve que ouvir a resposta da União Européia. Macron, porta-voz do Velho Continente, trouxe ao plenário a visão que deveria reger o mundo moderno. Em crítica indireta ao hóspede, o presidente francês demonstrou que as guerras, tal como aquela cujo fim estava sendo celebrado, são fruto do nacionalismo exacerbado, do desprezo às demais nações.

Seguiram-se mal-entendidos e malcriações, envolvendo chuvas e cemitério, que serviram para acentuar o azedume criado. Usando sua arma favorita, “the” Donald recorreu ao Twitter. Em mensagem fulminante lembrou ao ex-favorito que, não fosse os Estados Unidos, estariam os franceses ainda falando alemão. Gesto inédito nos anais da diplomacia.

Perdeu Emmanuel uma boa oportunidade de retrucar, lembrando à Trump que, não fosse a França com seu exército sob o general e Conde Rochambeau e sua marinha sob o Marques de Grasse, George Washington e seus descendentes estariam, ainda, reverenciando a corôa inglesa.


domingo, 4 de novembro de 2018

Bolsonaro e Trump



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Os brasileiros bem fizeram ao votar no jovem capitão. O retorno do PT ao comando da nação traria um retrocesso inaceitável. Porém, votar em Jair Bolsonaro não significa apoiá-lo quando se desvia do bom caminho. Pelo contrário, alertá-lo para erros e distorções significa, em última análise, não só um dever republicano como, também, uma colaboração para o sucesso de sua presidência.

Dizem ter o presidente eleito escolhido Donald Trump para seu "role model". Se assim for, não parece ser possível que Jair Bolsonaro esteja realmente familiarizado com a personalidade do líder norte americano. A não ser que tenha por objeto desrespeitar tratados, ignorar a lei internacional, abandonar alianças, acuar as nações mais fracas, e proclamar que apenas um país conta no mundo; o seu.

Mas para seguir estes passos existe um problema sério a resolver: como pode o líder de uma nação ainda capitulada como emergente emular o líder da nação mais poderosa do planeta. Que elementos de poder dispõe ele para impor, interna e externamente, a sua vontade? Terá uma moeda de aceitação mundial, terá uma economia cuja dimensão torna subsidiarias as demais, terá forças armadas que intimidem amigos e inimigos, terá uma capacidade de consumo interno que o torne insubstituível?

Onde, em que dimensão poderá Jair Bolsonaro emular Donald Trump? Estará disposto à tornar-se a ele obediente e subsidiário?

Sim, poderá seguir seus passos, afastando a China, a maior compradora de commodities brasileiras, a maior geradora de divisas, fator crucial na geração da confiança internacional no país. Poderá voltar aos tempos medíocres em que investimentos estrangeiros eram rejeitados por ameaçar a soberania nacional. Poderá também rejeitar o Mercosul, associação que traz ao país um saldo relevante e positivo em suas transações. Poderá intimidar os países sul-americanos, destruindo o magistral e hercúleo feito do Barão do Rio Branco, assim reavivando no seio das nações vizinhas o temor e a hostilidade? Poderá, tendo por único apoio sua crença em  versículo da Bíblia, apoiar Israel, hoje teocrático, em seu continuo desrespeito à lei internacional assim colocando em risco as relevantes exportações ao Oriente Médio? E rejeitará  a associação com os BRICS, reunindo países a quem exportamos? 

Se possível fosse, no túnel do tempo, retroceder aos tempos das invasões mongóis é bem possível que o perfil selecionado como exemplar atingisse grande sucesso no confronto com outros bárbaros. Mas no Século XXI? Neste mundo globalizado e multipolar? Um mundo onde a informação tornou-se instantânea e as mentiras desvendadas?

Quanto durará o fenômeno Trump? A Europa, o berço cultural do Brasil,  já dele se afasta. México e Canada, parceiros do NAFTA, já perderam a confiança nos Estados Unidos. Do outro lado do planeta, na Ásia, a região é pouco a pouco atraída pela força gravitacional chinesa. São problemas de imensa dimensão, dos quais o Brasil não deve participar.

Pelo contrário, esqueça o controvertido Donald Trump, presidente Bolsonaro. Conduza este Brasil continental e internacional, abençoado por imensas riquezas, guardando os limites do bom senso e da boa moral. Mantenha uma política externa diversificada, livre de ideologias, laica e, sobretudo, multilateral. Não precisamos de maus exemplos.




segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Habemus Papam


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Senão um novo Papa, sim, um novo presidente. Jair Bolsonaro, impulsionado pelos crassos erros na política econômica e da corrupção institucionalizada pelo estamento político, onde o PT e outros partidos interagem,  pela anemia leucêmica dos governos estaduais e municipais na luta contra o crime, pela constatação de que a atual constituição ao cidadão parece  só oferecer Direitos, sendo parca na cobrança das Obrigações cívicas, pois este recém eleito presidente surfou com sucesso a crescente onda de indignação que se apossou da classe média brasileira.

Sim, Habemus Jair. Inteligente, patriota, ativo, agressivo e... com muito a aprender. Reconhece (boa qualidade) que é jejuno em matéria econômica e assim escolhe um bem preparado ministro. Talvez entenda de infraestrutura e logística às quais matérias foi exposto na faculdade de Agulhas Negras.

Mas pode-se avaliar que não se aprofundou nas complexas correntes que regem a política externa. Suas declarações públicas em prol deste ou daquele governo as faz sem qualquer "quid pro quo". Promete alianças sem que dele tenham sido cobradas, desvalorizando o capital que dispõe para negociações futuras.

Ainda, num mundo hesitante, onde as novas formulações geopolíticas emergem em busca de preponderância, ao Brasil torna-se essencial administrar seu capital político e comercial em busca de vantagens táticas ou estratégicas. Ignorar o bem administrar dos interesses brasileiros nada mais é do que pretendia a política externa brasileira sob o comando Petista. Oferecia muito por pouco ou nada em troca.

Para que se preserve e negocie bem o capital diplomático brasileiro
não cabe mostrar-se as cartas sem a segurança de que as fichas compensem. Assim tem o Brasil caminhado no passado, excluindo-se os desmandos acima mencionados, criando invejável Soft Power, qual seja, a capacidade de com todos dialogar sem que seus argumentos sofram de represálias por atores antagônicos.   

A forma de dialogar com nações concorrentes, sejam no que tange interesses geopolíticos ou comerciais será, necessariamente, distinta da forma de dialogar com aqueles países cujos interesses o comerciais e financeiros sejam convergentes.

Por exemplo têm-se os Estados Unidos onde a convergência geo-política tem sido geralmente positiva. O mesmo se aplica no âmbito financeiro, ainda que em escala decrescente. Já, no campo comercial, nem tanto, como espelham as substanciais tarifas que afetam nossas exportações. Para manter aberto o canal de suas exportações, impõe-se ao Brasil negociar continuamente para que tais obstáculos não se tornem por demais onerosos, e se amplie o fluxo comercial.

Já no lado da convergência comercial tem-se a China, sendo ela a maior importadora de produtos brasileiros. Em adição, são substanciais e crescentes os investimentos de capitais chineses na infraestrutura do país. Assim sendo, torna-se evidente que a diplomacia brasileira deve manter e ampliar o diálogo com Pequim.

Assim, não cabe anunciar-se preferências para este ou aquele país. A preferência deve pautar-se pelas reciprocidades concedidas pelos parceiros internacionais.

Outro ponto merece reflexão. Ao Brasil, por conta de seu status de país emergente, longe de dispôr de elementos que garantam sua segurança em caso de conflito, seja ele armado ou econômico, interessa sua permanência prioritária no âmbito multilateral instituído pelas Nações Unidas. A multilateralidade pressupõe a prevalência da Lei Internacional, inibidora de arroubos geopolíticos advindos desta ou daquela grande potência. As agências internacionais, tais como a Organização Mundial do Comércio, permite negociações e acordos entre países de potencia díspares, obedecendo regras já estabelecidas; já no dialogo bilateral,  prevalecerá o interesse do mais forte.

Noutra dimensão, cabe ao Brasil manter boas relações com seus vizinhos. Canais de diálogo permanente acentuam a convergência de políticas e reduz as divergências ocasionais. A crítica ao governo ditatorial venezuelano é correta, porém sem que o diálogo seja interrompido. Muito menos deve ser cogitada qualquer ação armada contra tais países.

São estes alguns aspectos de, por vezes, complexa execução, que devem ser apresentados ao futuro presidente. A política externa não pode e não deve sofrer influência que não seja à do estrito interesse nacional. Considerações subjetivas, como aquelas pautadas em ideologia ou crenças  religiosas, se incorporadas à esta política, trarão sérias dificuldades aos interesses do Brasil. 

Não são poucos os brasileiros que conhecem o xadrez internacional. Que o presidente Jair Bolsonaro se valha desta experiência e conhecimento para que o sucesso de sua administração se faça sentir além fronteiras.