sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Racismo, armas e tecnologia


Resultado de imagem para fotos assassinato jornalistasO recente episódio envolvendo um assassino negro e vítimas brancas parece refletir o crescente conflito racista que contamina, sorrateiramente, os Estados Unidos. Não menos de três fatores contribuem para o agravamento da hostilidade subterrânea que afasta a minoria negra norte americana do projeto nacional do país.

A clivagem entre ricos e pobres, aguçada pela Grande Recessão de 2007, jogou enorme contingente de negros na extrema pobreza. As medidas de saneamento empresarial levaram a excepcional desemprego e desabrigo. Este agudo empobrecimento, aliado à falta de perspectivas de melhoria, vem gerando profunda insatisfação, disseminada pela mídia, acentuada pela comunicação social do Internet. 

Os três participantes desta tragédia eram colegas no setor de jornalismo de uma empresa de televisão no estado sulista de Virginia. Os protagonistas inverteram, desta vez, a natural ordem dos crimes de motivação racial. As vítimas,  Allison Parker, âncora, e Adam Ward, câmera,  eram brancos; já o assassino, Vester Lee Flanagan II, era negro,   ex colega que guardava forte rancor pelo que estimava ser comportamento racista de suas vítimas.

Todos mortos, não se sabe muito mais sobre os escuros sentimentos que levaram Vester ao precipício; sabe-se que tinha comportamento instável e agressivo. Mas sua foto, estampada na mídia, revela uma fisionomia risonha, simpática. Talvez um indício de personalidade ciclotímica, oscilando entre o cordial e o assassino. É provável que os próximos dias trarão mais luz sobre quais seriam as trevas de seu psique.

Ainda que de teor especulativo, parece razoável estimar-se que a sequência de mortes de negros desarmados e as seguidas e violentas manifestações de protesto e de repressão (vide Ferguson)  tiveram impacto desestabilizador na instável mente de Vester Flanagan. Este quadro é agravado pela enxurrada de armas que é fornecida à população norte americana, numa  pretensa manifestação de liberdade. Hoje, os argumentos da National Rifle Association e de seus seguidores libertários, pregam o direito dos cidadãos de defenderem-se contra os criminosos; já, nos idos de 1790, o direito de portar armas,  concedido aos cidadãos pela Constituição, buscava a criação de milícias que impedissem a emergência do poder totalitário.

O culto ao homem armado, executor da própria lei, deu-se, não no Leste norte americano, urbano e policiado, berço da Constituição, mas sim no Século seguinte onde as ondas de colonos emigraram para o Oeste, ainda destituído de instituições sólidas no combate ao crime. A imagem do destemido cowboy, heroico e  justiceiro foi, em seguida, potencializada por Hollywood, explorada pela industria de armas, e hoje adotada por boa parte da população. Assim, nem mesmo o massacre de crianças na escola de Columbine, e aqueles que o sucederam, suscitam a revisão das regras permissivas que colocam pistola e AK 47 em mãos que se voltam contra a sociedade.

Ainda, a America do Norte depara-se com a alienação de parte relevante de sua população, esta conscientizada pelas imagens que a televisão lhes apresenta. Adultos, jovens e crianças assistem,  no sofá da sala, a constante humilhação que o uso do perfil étnico, adotado pela polícia, como instrumento na luta contra o crime,  impõe aos negros respeitadores das leis (vide o caso da moça negra suicida, presa por se negar a apagar o cigarro). A mídia tecnológica acentua a condição de cidadão de segunda classe que a sociedade branca lhe confere, fardo que tende a tornar-se insuportável.

Pouco peso tem a alegação atenuante, de que um presidente negro governa os Estados Unidos. Na realidade o racismo oficial ou oficioso se exerce ao nível municipal e estadual, infenso à interferência federal. Esta, para manifestar-se, influir e corrigir teria que superar a oposição dos parlamentares no Congresso, estes ciosos da autonomia estadual.

Onde a solução?

P.S. Na última 6a. feira, em Houston, Texas, o xerife Darren Goforth, branco, foi morto por Shannon Milles, negro. Não foi detectado qualquer motivo aparente para o crime, a não ser manifestações de repúdio às mortes de negros indefesos, publicadas nas redes sociais do assassino.

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