sábado, 10 de janeiro de 2015

O estupro de Charlie Hebdo




A primeira frase tem que ser de repúdio.  A execrável chacina de jornalistas desarmados fere a todos, países, continentes e hemisférios.  Um dia depois, outros terroristas, interligados com os primeiros,  chacinam outros franceses, estes de origem judaica. Mais um crime hediondo.

Os assassinos buscaram, em sua faina raivosa, não tão somente vingar insultos à Maomé, vingar a opressão na Palestina , mas, ainda mais importante, acelerar o processo de radicalização entre as civilizações Cristãs e Muçulmanas.  A bandeira negra do Islamismo fanático se ergue sob a  forma, e pretexto,  da grande vingança contra as potências Ocidentais que subjugaram e exploraram os povos árabes durante decênios.

No entanto, a asserção de que o Islã é, na sua essência,  fanático e violento, não parece verdadeira. Se no Salafismo Sunita encontra-se a violência extremada,  nas vertentes majoritárias do Islã o mesmo não é habitual. São muitos os países Muçulmanos e democráticos. A Turquia, o Líbano, a Malásia, a Indonésia, o Paquistão, o Bangladesh e agora a Tunísia são exemplos, nem sempre perfeitos, mas com governos eleitos e imprensa livre. 

Já as ditaduras do Oriente Médio são, com exceção da Síria, todas elas apoiadas pelo Ocidente Cristão e  democrático. Nestes países aliados ao Ocidente, a lei preponderante é a Sharia, a mesma que a incipiente democracia Egípcia pretendia implantar, e cuja deposição contou com a anuência de Washington e seus seguidores.

Apesar da dor, da indignação, da revolta, a França, a Europa, e  o Ocidente não devem cair na armadilha da intolerância, da intransigência racial e religiosa. A perseguir este caminho, a violência se expandirá, gerando o círculo vicioso de golpe e contra-golpe, ambas as partes afundando na areia movediça do ódio institucionalizado.

No entanto, igualmente  importante  será o estancar da geração de fanáticos, tanto em casa quanto no Oriente Médio.  Não deve ser ignorado o fato de ter o Califado recebido a adesão de grande quantidade de oficiais e soldados do exército dissolvido de Saddam Hussein.  Constata-se, assim, que guerras impensadas e  interferências  externas e desastradas na região, longe de trazer segurança e estabilidade, tem, pelo contrário, gerado revolta e ódio, ingredientes essenciais à formação do terrorista.

Não saciada pela guerra do Iraque, a atual intervenção norte-americana na Síria, apoiando a derrubada do governo Sírio de Bashar al Haffez propiciou a gênese do Califado, liderado pelo fanático Al Bahgdadi. Ainda, a incapacidade das potências Ocidentais encaminharem a Paz no contencioso Palestino, omissas e incapazes de prover judiciosa e imparcial mediação,  constitui-se em  mais um casus belli para o inimigo fanático. O bloqueio do reconhecimento da nação Palestina, solitariamente defendido por Barack Obama nas Nações Unidas pode tornar-se uma chaga infectada. 

A perigosa generalização que leva à guerra “entre o bem e o mal” não cabe em tão complexo ambiente geopolítico. Sem o conhecimento e avaliação das contradições que alimentam o labirinto Semita*, a política externa Ocidental não saberá impor-se nem defender-se.

*Tanto Árabes como Judeus são Semitas

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