quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Comedimento e respeito mútuo



Egyptian Coptic Christians and Muslims raise a cross and the Muslim holy book, the Koran.
A Cruz e o Corão

Nos  campos  conceitual e legal, o debate sobre os limites da imprensa livre continua a toda força. A mais recente  edição da revista francesa  Charlie Hebdo, repetindo desenho tendo o profeta Maomé na capa, provavelmente não servirá para acalmar os ânimos.  A maioria dos meios de comunicação, sobre tudo a imprensa,  reproduziu a capa da revista; já o New York Times, inegavelmente o mais importante jornal norte americano,  optou pela não publicação da charge, considerando-a provocação injustificada.

Ainda, buscando comportamentos paralelos no Ocidente, observamos que a defesa da livre imprensa, ou livre expressão, conceito que sustenta a publicação das caricaturas ofensivas aos Muçulmanos, não é aplicada de forma equitativa.

A publicação de matéria questionando, negando ou revendo a existência ou o número de vítimas do Holocausto é proibida na maioria dos países da União européia.  Ainda, a publicação e venda do livro “Mein Kampf” de autoria do demente ditador Adolf Hitler é expressamente vedada em diversos países Europeus e no Brasil.  Assim, observa-se, claramente, que a proteção legal oferecida a determinado segmento étnico, ainda que defensável,  não se estende a outro.

Constata-se, portanto, sutileza na inviolabilidade do “sagrado” direito de expressão e liberdade da imprensa, defendida com compreensível afinco, porém de forma imperfeita .  Sim, o Ocidente, em circunstâncias que lhe interesse, parece disposto a abrir mão da universalidade deste princípio.

Já, no campo sócio-político, são muitas as considerações válidas que recomendam, senão uma censura estatal, mas certamente uma auto censura. Como exemplo a outros povos, a Constituição  brasileira proíbe o insulto religioso, seja qual for a religião. É uma lei sábia, pois visa, de forma prática, evitar a germinação do ódio entre crenças, responsável pela mais cruel das guerras e conflitos.  A hipotética publicação, numa capital do Oriente Médio, de uma charge denegrindo Jesus de forma escatológica, recebendo ela divulgação internacional, causaria profunda consternação nas populações Cristãs do Ocidente. Dificilmente a resposta seria letal, como o foi em Paris, mas a provocação não seria esquecida, na hora da retaliação.  

A publicação da imagem de Maomé, fere, não somente os djihadistas, mas toda a população Muçulmana dos países ligados ao Ocidente. Ofende aquelas nações, dispersas pelo Oriente Médio e pela Ásia,  cuja colaboração na luta contra o terrorismo é crucial. Emblemática será a situação da Arábia Saudita, contendo tanto a elite reinante como a população imersa na interpretação Wahabita do Corão, vista como a mais radical e, talvez a mais fanática das seitas Muçulmanas. Cabe ao soberano  Saudita a preservação da pureza desta facção Islâmica. Útil será lembrar que Nine Eleven foi obra de Sauditas, justificada pela alegada dessacralização da terra Saudita pela presença de tropas norte-americanas. 

Ainda, sua riqueza petrolífera poderá favorecer ou anular tentativas de interesse econômico do 
Ocidente, mais especificamente, os  da Europa. Também, tais ataques a Maomé, implicitamente autorizados, senão endossados, pelos governos Ocidentais, poderão ter conseqüências indesejáveis  no Paquistão e Afeganistão, prejudicando o  combate ao Taliban fanatizado. Muitos outros cenários negativos  tornam-se possíveis, senão prováveis.


O momento é de reflexão, isenta das afirmações fáceis do “políticamente correto”. Tanto o Ocidente Cristão quanto o Oriente Muçulmano devem buscar o difícil ponto de mutuo respeito, que deságua no aprofundamento da  compreensão, assim buscando uma parceria em benefício de seus povos. Assim, tão mais fácil será a contenção e eliminação do terrorismo.

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