terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Uma avaliação do perigo Russo


O Urso Russo

O líder inconteste neste mundo em mudança continua sendo os Estados Unidos, dominante a partir de 1989. Os demais, a União Européia, mais próxima da America do Norte, a China e a Rússia compõem a quadríga que tem o poder para moldar a harmonia no planeta ou levá-lo ao confronto e o conflito. Concorrem com os Estados Unidos e entre si, não pelo domínio global pelas armas, difícil numa era de proliferação nuclear,  mas na busca continua de vantagens econômicas  através da preponderância política, seja ela global ou regional.

No entanto, dificilmente os impérios coabitam pacificamente. Hoje, estes se denominam “blocos” ou “polos”, e entre eles o conflito localizado sempre será possível.  O polo Norte Americano, vencedor inconteste no embate com a União Soviética, busca consolidar a vantagem conquistada, perseguindo o objetivo de reduzir a Rússia à impotência.

Resultado de imagem para foto clinton and yeltsinCoerente, Bill Clinton descartou Mikhail Gorbachev como interlocutor que visava uma gradual retirada do comunismo, e apoiou a ascenção de Boris Yeltsin cobrando-lhe o preço da privatização imediata da economia Soviética. O açodamento da empreitada desbaratou a economia e o safety net social russo, causando uma queda do PIB superior a 60% ao longo de seu governo. Boris Yeltsin recebeu o governo com o PIB de US$ 569 bilhões; o entregou a Wladimir Putin com US$ 195 bilhões. Em 2014 o PIB russo atinge 2.057 bilhões.          

Concomitante à transformação para o modelo de privatização acelerada, Washington manteve a OTAN apesar do colapso da União Soviética e a emergência de uma nação aliada. Pelo contrário, teve prosseguimento a expansão da OTAN através da co-optação dos países da Europa Oriental e Báltica que recém descartavam o jugo de Moscou. Apesar dos seguidos protestos do Kremlin, já livre do comunismo e de ambições expansionistas, ampliou-se, mesmo assim, o cerco à Rússia.
Em movimento oposto, a Russia desfez-se dos tratados que outrora lhe unia à Ucrânia, à Bielorússia, à Georgia e aos demais países da Asia central, como o Casaquistão, concedendo-lhes plena independência.  Em movimento autônomo, desmontava-se, assim, o Império Soviético, e as ameaças que continha.

Resultado de imagem para foto de putinO caos político-econômico instalado, causado pela desestruturação industrial Russa propiciou a ascenção de Wladimir Putin ao poder. Este decidiu ajustar o projeto anterior, estancando e revertendo a sangria iniciada por Boris Yeltsin. Mantendo uma democracia mais restrita do que o modelo Ocidental, ajustando-se à sua história e sua configuração geo-política, Putin dedicou-se ao soerguimento econômico do país, restabelecendo a tendência positiva do PIB e tornando-o um “player” inconteste no mercado global de energia.

Observação mais profunda dos casos onde a intervenção russa ocorreu, na Georgia e na Ucrânia, revela que estes decorreram da iminente cooptação destas nações pela OTAN. Representavam, assim, conforme anterior e  seguidamente declarado pelo Kremlin às potenciais Ocidentais, ameaça grave à integridade da Rússia. A deposição, e o reconhecidamente ilegal, do presidente Ucraniano, seguidos de ameaças à população russófona bem como o ataque lançado pelas forças armadas da Georgia contra a Ossétia, território associado à Rússia, provocou resposta imediata. Assim, rompeu-se um equilíbrio que se tornara instável.

No contencioso ucraniano, Moscou reagiu, incorporando a Criméia, território essencial à segurança da Rússia, bem como apoiando o movimento separatista. Respondendo ao ataque de Tiblisi, o exército russo apoiou a separação da Ossétia e a Abcásia, territórios russófonos, até então parte da Georgia. O Kremlin, desta forma, deixa o Ocidente saber que ameaças futuras a suas fronteiras custarão alto preço.     

                                                                   Front Ucraniano

A presente crise na Ucrânia vem suscitando crescente especulação quanto à política expansionista da Rússia. Especial preocupação vem sendo revelada pelos países limítrofes da Europa Oriental. Estar-se-ia, então, diante de uma nova expansão nos moldes Soviéticos? Conforme as observações a seguir, as condições mínimas para o sucesso de tal aventura não parecem existir:

_  A combinação dos PIB da União Europeia e dos Estados Unidos (sete vezes o da Rússia) ultrapassam ao da Rússia de tal forma que a vitória final, fruto de supremacia econômica (excluídos alguns sucessos táticos),  seria impossível.

_  A população Rússia, de aproximadamente 145 milhões de almas, é uma pálida comparação com os 290 milhões alcançados pela União Soviética, que, ainda assim, evitava qualquer confronto direto com a aliança Ocidental.

_  As forças armadas russas, negligenciadas aos longo dos anos pela penúria orçamentária e pela inadequada manutenção e atraso tecnológico decorrentes, não se aproxima do parque bélico Norte-Americano.

_  Sua extensão e configuração territorial (6.400 km de Moscou a Vladivostok na costa Leste)  a torna vulnerável, pois dificulta ao Kremlin defender  todos os possíveis teatros do conflito, dado a impossibilidade de transferência de ativos militares em quantidade e oportunidade.

_  O armamento nuclear Russo dificilmente estará em condições de suplantar ou neutralizar retaliação da aliança Ocidental.

_  A proximidade de bases europeias permitiria o acesso logístico-militar norte-americano, neutralizando o impeditivo geográfico das grandes distâncias. Ainda, a proximidade do Alaska à costa oriental da Rússia, permitiria às forças ocidentais o estabelecimento de dois fronts, condição determinante para a derrota do adversário.

_  O risco de uma derrota levaria a Rússia ao seu desmembramento, condição inaceitável.

Esta condição de inferioridade, leva à conclusão que a agressividade do Kremlin decorre do medo, e não de ambições territoriais. Temor de um inimigo potencial muitíssimo mais poderoso. Escolhe, portanto, proteger-se através de ações limitadas ainda que incisivas. Assim,  pretende desestimular manobras hostis que alterem o status quo nas demais republicas lindeiras com o imenso, e quase  desguarnecido, território russo.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Privatização surpreendente




Resultado de imagem para foto da fachada da caixa economica federalO governo de Dilma Rousseff pretende privatizar a Caixa Econômica. Decisão, no mínimo, surpreendente. E também contraditória, pois anda na contramão ideológica do PT. Ao ver desta coluna, a decisão não parece encontrar explicação lógica que não seja uma insuficiência na capitalização daquela entidade. Em outras palavras, seu patrimônio liquido (que engloba o capital do banco) estaria tecnicamente insuficiente, face ao volume e/ou à qualidade dos ativos. Se assim for, o aumento atenderia às exigências do Banco Central e às regras do Banco de Basileia (Banco de Compensações Internacionais).

Cabe a indagação: de onde viriam os investidores dispostos a comprar ações de um entidade bancária onde os objetivos comerciais estão subordinados aos objetivos sociais?  Estes investidores seriam, plausivelmente, os fundos de pensão de fato controlados pelas empresas e entidades estatais. Outro grupo subscritor seria o daqueles fundos e entidades financeiras passíveis de submeterem-se às pressões governamentais. Assim completar-se-ia o milagre da privatização do aparentemente in-privatizável.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Comentários sobre o artigo "Nova era nas Américas?"


Caro Pedro,

Vibrei e espalhei hoje o teu blogue além fronteira  pelo EXCELENTE e o melhor  comentário que assistí e lí  em jornais, internet e até programas da Globo News com a participação de diplomatas. Nenhum tão claro e objetivo. Olha só para quem mandei e veja a resposta chegada agora. 
Parabéns uma vez mais,
Forte abraço,
Eduardo


domingo, 21 de dezembro de 2014

Uma nova era nas Américas?


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Já fazem 55 anos que o ditador, Fulgêncio Batista, foi derrubado de seu trono em Havana. Era um homem sanguinário e corrupto, lá instalado com o beneplácito de Washington, sem o qual nenhuma iniciativa política poderia prosperar, e com a conivência da elite local dominante. Ao projeto se aliavam os grandes capitais,  nativos e, sobretudo, os norte-americanos.

No entanto, impulsionada pelo turismo (e seus excessos, como  a corrupção, o jogo e a prostituição) bem como  pelo preço favorecido de suas exportações de açúcar para os Estados Unidos, era grande a prosperidade nos grandes centros urbanos, destacando-se Havana  como o maior pólo hedonista  das Américas. No entanto,  a penúria caracterizava o interior rural do país, seus lavradores limitados ao trabalho sazonal dos “macheteros” (bóia fria).

A rebelião foi conseqüência. Começou bem, em busca de democracia, mas perdeu o caminho por razões internas (Fidel Castro alijando as pressões democratizantes do Diretório Estudantil e sindicatos e optando pela formula comunista) e externas (incapacidade do governo Norte-Americano de ajustar-se ao início do movimento “independista”  da ilha). Washington não compreendeu as pressões nacionalistas que se acumulavam em contraposição ao Platt Amendment, que mantinha Cuba na condição de colônia, só revogado em 1934. Em 1959, Cuba era independente ha somente 25 anos.

Hoje, nova oportunidade de entendimento se abre. O restabelecimento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos e Cuba pode propiciar uma fase virtuosa nas Américas. À primeira vista é lícito esperar-se uma forte redução na hostilidade explicita e implícita que caracterizava as relações dos dois países. A derrubada das barreiras, que impediam as viagens de norte-americanos de origem cubana e outros  à ilha, deverá irrigar não somente a compreensão mútua, mas estimular crescente atividade econômica. Este novo cenário  poderá  levar a ilha rebelde na direção de uma sociedade mais aberta, econômica e politicamente.

A derrubada do “muro da intolerância mútua” deverá surtir efeitos positivos nas chancelarias latino americanas, especialmente naquelas dos países de tendências esquerdistas. Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina,e, em menor grau, o Brasil perderão boa parte de seu discurso contestador.  Não mais terão o isolamento de Cuba como munição para reforçar posições anti-americanas.  Outros contenciosos, alguns válidos como a permanência do embargo e outros nem tanto, persistirão, porém provavelmente mais atenuados.

Porém, cautela, comedimento e muita diplomacia deverão conter o afã norte-americano de alcançar objetivos irrealistas. O ímpeto empreendedor e atropelador, tão comum nos “yankees”,  poderá acelerar, indevidamente, o desejado processo de simbiose. Estes, na busca incessante de oportunidades comerciais poderão desrespeitar restrições legais, de cunho comunista, ainda em vigor. Poderão, ainda, ferir o sentimento arraigado de soberania que incute o povo cubano.  Ainda, para assegurar um marcha sustentável, Washington deverá conter o vigor excessivo na desmontagem das restrições antidemocráticas.  


E muito cuidado com a extrema susceptibilidade do regime Cubano. Estar-se-á patinando em gelo fino. 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Sanções e petroleo



A economia mundial, mais uma vez, se vê diante do espectro de forte crise. Dois eventos parecem causar a súbita aparição de mal estar nos corredores de bancos centrais e privados.

O primeiro evento engloba  as sanções econômicas, financeiras e comerciais impostas à Rússia pela aliança Ocidental. Importante notar que as sanções aplicadas variam em qualidade e intensidade,  de acordo com as características e interesses da cada país.

O uso de sanções impostas pelos Estados Unidos, e, de forma mais tímida,  seguidos pela EU vem se transformando em arma “à tout faire”. Melhor estrangular economicamente  os adversários do que gastar bilhões fazendo-lhes guerras.  A arma é, sem dúvida eficaz, porém resta saber se ela atinge, alem dos benefícios que se esperam, malefícios inesperados.

Quanto às sanções aplicadas à Rússia por conta do apoio de Moscou aos separatistas Ucranianos, (a anexação da Criméia não tem volta e, portanto parece  já ter sido precificada), os efeitos se revelam diferenciados. Do lado norte-americano, a aplicação das medidas restritivas prejudica, a primeira vista, somente os Russos. 

No caso das sanções impostas à Rússia pela União Européia, a história é bem outra. Ainda que as medidas sancionadas pela Alemanha, França e outros tenham causado desconforto a Moscou, as contra-sanções Russas tiveram efeito considerável na parte politicamente sensível da economia européia; a agricultura. Parecem retardar a recuperação Europeia, ha tanto desejada.

Já,  o segundo evento de impacto global foi a derrocada do preço do petróleo, caindo cerca de  40% ao longo do trimestre. A razão ostensiva para tal queda decorre da familiar lei que regula os mercados; a oferta, face à uma demanda cada vez mais tímida, vem buscando um preço que lhe dê equilíbrio. No momento se situa em torno de US$ 60 por barril. Ora, a velocidade da queda e o minguado valor absoluto do barril sugere a manipulação e a politização do preço.

Duas alternativas, não mutuamente excludentes,  poderiam desanuviar a neblina que envolve as intenções políticas. A primeira opção seria uma conspiração da OPEP, à revelia de Washington,  para inviabilizar o boom do fracking, tornado inviável a preços em torno de US$70,00 por barril. A segunda teoria conspiratória seria o conluio dos Estados Unidos e a Arábia Saudita para atingir a produção e desbaratar o orçamento Russo. Em ambos os casos, torna-se pertinente a indagação: por quanto tempo os produtores arcarão com este significativo custo de oportunidade, para os produtores mais eficientes, e o enorme prejuízo para as nações menos eficazes na produção de petróleo? Por quanto tempo poderá resistir a OPEC face ao sacrifício que lhe imporiam os objetivos políticos?

Do ponto de vista global,  parece lícito prever-se o efeito desestabilizador da  combinação dos prejuízos causados com o entupimento dos canais de financiamento. A expectativa de crescente fragilização da dívida pública e privada Russa, com acesso limitado ao mercado financeiro internacional poderá causar uma reação em cadeia, uma nova ameaça à estabilidade econômica mundial. A crescente desconfiança e incerteza, potencializada pela globalização dos mercados, sugere ser particularmente severa para com os países emergentes.




N.R.            Caberia a indagação quanto à legitimidade de tais sanções, quando não validadas pelas Nações Unidas? Poderiam ser elas contestadas uma vez que sua aplicação unilateral  violaria acordos multilaterais e bilaterais sancionados pela Organização Mundial de Comércio (OMC)? Caberia a uma das partes negar, em prejuizo da outra, acesso ao serviço de clearing internacional prestados pela SWIFT? Estas e outras perguntas possivelmente testariam aspectos da Lei Internacional, ainda não invocados.

sábado, 13 de dezembro de 2014

A sequela do caso Petrobrás

Transcrevo a seguir excelente artigo do renomado economista  e Professor Julian Alfonso de Magalhães Chacel, sobre a Petrobras. Tais contribuições valorizam este Blog.




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A Sequela do Caso Petrobras

No imbróglio em que a Petrobras foi envolvida, a palavra mais usada como instrumento para descolar contratos milionários é propina. Cuja raíz é grega, passa por sua origem latina como gorjeta e termina no “pourboire” francês. Faz-se um agrado para “molhar a goela”, como reconhecimento de um serviço prestado. Data vênia dos profissionais da imprensa, talvez a palavra mais apropriada fosse pedágio. Que tem a conotação de pagamento “para deixar passar”, ou seja, cruzar a cancela que se interpõe no caminho que leva ao contrato. Ou, simplesmente, dizer em bom português que a palavra certa é suborno.

Deixando de lado as firulas semânticas, estamos diante de uma estrutura de mercado na qual a empresa estatal como compradora de bens e serviços próprios da indústria do petróleo é um quase monopsônio, em presença de um conjunto restrito de grandes empreiteiras que, por isso, mesmo formam um oligopólio. Compondo numa ponta e noutra um exemplo clássico das Teorias da Competição Imperfeita de Joan Robinson e Edward Chamberlin.

Em contraste com estruturas de mercado formadas por grande número de compradores, de um lado, e grande número de vendedores, de outro, a posição de único ou quase único comprador permite uma dominância sobre os vendedores na configuração dos contratos e fixação do preço: o reverso da medalha está em que o reduzido número destes permite toda sorte de arranjos e combinações que garantam a “rotatividade” nos concursos para a adjudicação dos contratos.

É esse desenho de um mercado imperfeito que, na ausência de rigorosos controles, a boa governança corporativa, deu margem numa escala nunca dantes conhecida aos desvios dos dinheiros da Petrobras, com vistas a garantir a perpetuidade de um partido político no Poder.

Dada a dimensão da Petrobras e seus programas de produção e investimentos, para avaliar as sequelas econômicas do escândalo vale recorrer à matriz de Leontieff e os efeitos de “linkagem” sugeridos por Hirschman. A tabela de insumo/produto em suas linhas e colunas mostra os cruzamentos ou interações de um dado setor da atividade econômica sobre todas as demais, nesta incluída o consumo final. Os efeitos indutores da produção à frente (forward linkages) e a ré (bacward linkages) põem em evidência as demandas por bens e serviços expressas por determinada atividade sobre todas as outras.

Ora, os vultosos contratos da Petrobras têm fortes efeitos à ré sobre a demanda de matérias primas e toda sorte de equipamentos usados na construção das plataformas de exploração e nas instalações de distribuição de petróleo e gás; e os efeitos à frente alcançam a logística dos meios de transporte e a cadeia de distribuição dos produtos finais nas estações de serviço.

Fácil é perceber que enquanto as investigações que buscam apurar os malfeitos na Petrobras estão em curso, o processo decisório na empresa fica comprometido. Suspensas ou diferidas certas iniciativas, a consequência do peso da Petrobrás sobre toda a economia nacional é a de contrair o nível de atividade. Um efeito recessivo numa hora em que a evolução do Produto Interno Bruto (PIB) reflete estagnação econômica.

Há um sentimento quase unanime sobre a necessidade de ajustes em nossa economia, notadamente a da correção da desordem em que se encontram as finanças públicas. E a sequela do caso Petrobras pode resultar num furo a mais no aperto do cinto. Não é à toa que o novo Ministro da Fazenda, na certeza de queda da arrecadação tributária, assume o prudente compromisso de um modesto superávit primário do PIB, ao invés dos 3% inicialmente prometidos e não alcançados este ano.

Para encurtar razões, as vicissitudes porque passa a Petrobras em nada facilitam a tarefa da equipe econômica nomeada para o novo mandato da Senhora Presidenta. Serão dois anos de ritmo lento da economia, para só então voltar à trilha do crescimento econômico.

Rio de Janeiro 01 de dezembro de 2014


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

O superlativo




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                                                                 Ícaro
                                                                 

O superlativo é uma condição máxima, e sua busca, teórica ou ideal, não é atingível no mundo real.  A sua busca trás no seu bojo a semente de sua destruição, pois para que se atinja o absoluto deve-se renunciar ao possível contido nos limites que a vida impõe.

Já na mitologia vemos a busca superlativa de Ícaro, em busca do vôo ilimitado, buscando na mais alta das alturas a perfeição. No  confronto do objetivo ideal e a limitação da realidade Ícaro teve suas asas queimadas pelo Sol, de quem se aproximara. Das alturas despencou.

Nem o amor superlativo seria possível, pois mataria o ser amado pela intensidade sufocante da totalidade. Na busca do oxigênio essencial à individualidade, e este essencial à vida, o objeto do ilimitado amor ver-se-ia fraccionado e rasgado por vontades e ímpetos  contrários à imposição absoluta.

No laboratório sócio-político buscou-se a utopia da sociedade igualitária, totalmente  protegida do berço ao tumulo. Onde a justiça sócio-econômica protegeria as gerações presentes e futuras, resguardando  o mundo das contradições das ambições descontroladas. Assim, o comunismo não resistiu às imposições da realidade, onde o bem total submeteu-se ao poder total, transformando-se em caricatura do que poderia ser, mas não pôde.

E assim chegamos à noção de segurança superlativa. Onde, para evitar a morte raivosa, a bomba inesperada e para  preservar a sociedade justa, buscou-se  proteção total. Foi neste experimento de universalidade, de absolutismo, onde nada poderia penetrar suas fronteiras que nasceu os primeiros indícios de um esgarçamento moral e político. Em busca deste superlativo, paga a sociedade, atemorizada e absolutista, o preço moral da tortura de inimigos, o custo cívico da espionagem de seus cidadãos e aliados, e o  sangue derramado em terras longínquas,  onde inimigos morrem e renascem multiplicados.


Herdeiros  que foram de uma história admirável, vê-se, hoje, os Estados Unidos despertarem, brutalmente acordados pela rebelião da realidade. 

domingo, 7 de dezembro de 2014

CURTAS

 O inicio do fim do conflito?

Image result for foto hollande e putinMudanças nas relações Rússia-Ocidente? Esta poderia ser a interpretação dada a visita de surpresa de François Hollande, presidente da França, à seu colega da Rússia, Wladimir Putin. Ambos declararam, após a reunião a portas fechadas, que pretendem a redução das tensões no conflito Ucraniano. Tudo indica que este seria um primeiro passo concreto para o desarme dos planos bélicos. Oxalá.



Um Pentágono com mais dentes

OBAMA NOMINA A ASHTON CARTER COMO NUEVO SECRETARIO DE DEFENSAA indicação de Mr. Ashton Carter para conduzir o Pentágono parece prenunciar maior agressividade (?) na polçítica externa Norte Americana. O substitudo do pacifico Hagel, apesar de membro do partido Democrata,  tem um histórico mais “falcão” do que seu antecssor. Acha, pelo que se lê, que maior rigor contra o ditador  Bashar El-Assad seria o caminho a seguir. Não explicou, ainda, como administrar um luta contra dois inimigos, que são inimigos entre si. Aparentemente estamos diante de surpreendente inovação na política externa de Tio Sam.  Atenção para um aumento de operações e gastos militares, justo no momento em que será necessário obter autorização para aumentar o endividamento dos Estados Unidos.



Conselhos bem vindos

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O velho e por vezes sábio diplomata, Henry Kissinger, publicou, há pouco, seu último livro, "World Order". O livro expõe o colapso das regras estabilizadoras do Tratado de Westfália, e os consequentes conflitos globais. Relembra o início dos conceitos de respeito à soberania e à auto-determinação. Comenta o conflito Ucraniano, a desordem no Oriente Médio e a aproximação com a China, e, evidentemente, a política externa dos Estados Unidos. Vale a pena, sempre lembrando o velho ditado espanhol: "Mas sabe el Diablo por viejo que por Diablo".