quarta-feira, 2 de abril de 2014

Carta à Barack Obama

Senhor Presidente da mais poderosa das Nações,


Tenho observado aqui da Lua suas atividades. Esclareço que os Luáticos (não confundir com Lunáticos, tão encontradiços em vosso planeta) têm por principal razão de vida observar os Terraqueos nas suas mais relevantes iniciativas. Meu departamento é o da Política Externa; cabe-me acompanhar, analisar e relatar a meus compatriotas os surprendentes acertos e os trágicos erros que esta disciplina traz aos cidadãos deste seu Planeta Mor, nosso nome para o que Voces chamam de Terra.


Fico feliz em não me ocupar do setor Poluiçao, a cargo de meu colega Friiiio (todos os nomes Luaticos se reportam à baixissima temperatura). Retomando o assunto, Ernesto Friiiio (a elite Luática, por snobismo, tende a adotar prenomes Terraqueos) já está arrumando as malas para mudar-se para Marte, pois avalia que em futuro breve a Lua seré submersa por incontida imigração de seus conterrâneos fugindo ao colapso ecológico de seu planeta-mãe.


Voltando à Política externa, e com os cuidados que o trato da matéria exigem quanto às susceptibilidades de interlocutores, atrevo-me a sugerir que o mais longo projeto diplomático empreendido por seu poderoso país ainda não promete a soluçao que deseja. Por ter se iniciado há mais de quarenta anos, o Supremo Conselho Luático selecionou este tema para acompanhamento, não só pela sua inusitada extensão, mas tambem como estudo específico para entender com funciona o dito cerebro humano. Já, ha tempos, acompanhamos os esforços de seus antecessores, desde que o presidente Jimmy Carter obteve sucesso ao conter os sangrentos conflitos no Oriente Médio.


Tendo recentemente recebido as transmissões magnéticas (nossa versão para o vosso internet) sobre o desenrolar das conversas dos senhores Kerry, Netanyahu e Abbas, tive que valer-me de tripla dose de Prozac (sim, temos nossos contrabandistas) para restabelecer meu equilibrio mental, necessário para a compreensão de vossa Política Externa.


Entendo, e espero que me elucide face à alta probabilidade de estar enganado, que para estimular o Sr. Netanyahu a continuar negociando aquilo que não deseja negociar, ou seja o reconhecimento do Estado Palestino, o seu Ministro das Relações Exteriores engendrou singular formula:


À Israel é oferecido


  1. O Sr. Kerry cede às súplicas e oferece a libertação de espião Israelenses cujos segredos roubados aos Americanos lhe valeram condenação perpétua.
  2. Ainda, o astuto (deve sê-lo por não já ter sido substituido) Ministro aceita mais uma nova condição do lado Israelense, qual seja a exigência que os Palestinos, além de reconhecer o Estado de Israel (já feito há anos) o reconheça como Estado Judeu, rebaixando todos os Palestinos muçulmanos, que lá residem há dois mil anos, a cidadãos de segunda classe.
  3. Abandona a prévia  exigência de interrupção de novos assentamentos Israelenses em terras Palestinas bem com em Jerusalem Oriental.
Aos Palestinos,  em busca de justo equilibrio, o elegante Sr Kerry, oferece a libertação de quatro centenas de homens, mulheres e crianças Palestinos, prisioneiros em Israel.


Ao baixar das cortinas, surprendido pelo abrupto término  das tratativas, Vosso ministro culpa os Palestinos pelo fracasso das negociações, vista a equidade das vantagens acima aquinhoadas.

Chegando, pois, ao final do meu trabalho peço, humildimente, sua ajuda, por encontrar-me em situação nunca d'antes enfrentada. Sendo Va. Excelência homem de inegável cultura, sólida experiência política e reconhecida sensibilidade, repito, peço-lhe encarecidamente suas recomendações para que possa evitar que o Supremo Conselho Luático, ao receber meu relatório, não contenha embaraçosa hilariedade, detrimental à minha reputação bem como, com todo o respeito, à Vossa.


Renovando meu protestos de Lunar Admiração (forma superlativa, raramente concedida a Terraqueo) sou, seu criado,


Edilberto Engelé




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