sábado, 19 de abril de 2014

A semântica como arma


Terrorismo. Palavra que carrega enorme força negativa. Expressão que nos lembra celerados matando velhos, mães e crianças, em ódio cego contra o ser humano e o Estado de Direito. Este deveria ser o sentido apropriado da palavra. Contudo, o ataque de “nine eleven” levou à ampla difusão do termo, correndo o risco de torná-lo banal.


Terrorista. O epíteto vem sendo usado, cada vez mais, como designação de pessoas ou grupos contrários ao poder constituido, seja ele decorrente de processo democrático, seja ele instituido pelo processo da força bruta. O uso da palavra terrorismo, ou terrorista, como instrumento político visa a desclasificação moral do opositor, mas nem sempre conta toda a história.


Ora, o terrorismo pode decorrer do Estado agindo contra civís, vide Saddam Hussein contra os Kurdos, ou do elemento radical (grupos ou individuos) contra civís. No conflito Palestino o terrorismo foi, e ainda é praticado pelos dois lados. Sendo, inicialmente, contra os Ingleses, seguiram-se atos semelhantes contra comunidade palestinas ao formar-se o Estado Judeu. Em resposta elementos Palestinos atacaram, da mesma forma terrorista, civís Israelenses.


Hoje Israel aplica o terror como arma de subjugação da população Palestina; neste caso seja pelo uso de assassinatos contra lideres Arabes e de inocentes que possam estar por perto. Ainda, a ocupação de uma comunidade ou um país por tropas inimigas constitue terrorismo físico e psicológico.


No Oriente Médio práticamente todos os governos designam seus inimigos como terroristas. Na maioria dos casos, o adjetivo é usado como justificativa na obtenção de apoio material e financeiro dos Estados Unidos, e justificar repressão cruel contra oposições políticas legítimas. Vide o caso de Bahrain onde médicos foram condenados por atenderem opositores classificados de terroristas.


No Egíto, o governo militar designou a Irmandade Muçulmana como organização terrorista, ainda que se trate de partido político tradicional, representando 30% do eleitorado daquele país. Assim justificou perante seus aliados Ocidentais, a prisão do Presidente Mursi deposto, o fechamento de jornais de oposição e a criminalização de qualquer protesto público. Na última manifestação, 529 manifestantes foram condenados a morte, designados de teroristas.


Na Síria temos o Governo Assad designando os rebeldes como terrorista, e os governos da Arábia Saudita e aliados do Golfo Pérsico acusando o governante Sírio de terrorista.


No Líbano, Israel e os Estados Unidos consideram o Hezbollah como organização terrorista, visto sua resistência a ocupação do sul do Líbano por Israel. Tendo em vista a característica militar desta organização, tendo por objetivo conter qualquer incursão de Tel Aviv sobre território Libanês, a União Européia recusa considera-la como terrorista.


Até na Ucrânia, o governo de Kiev acusa seus opositores de terroristas, quando mais não são do que robustas manifestações civis, sem que o numero mortes justificassem tal acusação.


Como dito acima, a banalização da designação “terrorista” retira, pouco a pouco a credibilidade do acusador, tornando turva a definição de uma palavra, que se usada correta e honestamente, traria no seu bojo o justo opróbio necessário à sua rejeição pela sociedade. Fica, na mente do observador, a pergunta: será ele realmente um terrorista ou apenas um opositor político?




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