sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Sangue no Cairo

Parentes de vítimas ao lado dos corpos, em Cairo, no Egito

Não se pode brincar de Democracia quando o resultado eleitoral é ignorado. Barack Obama ajudou a plantar as sementes da Primavera Árabe cujas flores murcharam cêdo.

A visão de um Norte da África Islâmico causa arrepios e insônia no mundo Judaico e Cristão. Os Europeus temerosos da influência que chega a seus imigrantes árabes; os Estados Unidos apavorados com o terrorismo; Israel, temeroso pelo cerco de suas fronteiras. Assim, as potencias Ocidentais e Israel foram  unânimes em rejeitar, ainda que in pecto,  a vitória Islâmica no Egito.

Preocupação legítima, dada a hostilidade que as massas Muçulmanas devotam aos Estados Unidos, por elegeram Israel como seu aliado incondicional, abandonando qualquer pretensão de tratamento equitativo entre nações e povos  da região. Ainda, apesar de apelos à moderação, os Estados Unidos não conseguem se desvencilhar do apoio obrigatório que dedica às ditaduras do Oriente Médio. É difícil conquistar a simpatia de povos oprimidos.

Faltava, no entanto, o pretexto para invalidar a eleição cuja legitimidade não foi contestada.  Este chegou graças à inabilidade do presidente Mursi, demonstrando autoritarismo sem, contudo, desrespeitar a Constituição, aprovada em plebiscito. Teve por oposição as classes abastadas e a minoria Cristã, aliados à ditadura deposta e os chamados liberais laicos, hoje arrependidos.  

Foi o bastante para o General Sissi, premido por incontida saudade do poder militar, estimulado indiretamente por um Israel inquieto com a vizinhança da Irmandade Muçulmana, e por um desviar de olhar distraído de Washington (apesar de seu inigualável serviço de espionagem), para trair seu criador. Quem acredita que o General não recebeu sutil aprovação?

Daí ao massacre dos últimos dois dias foi um passo. Hoje chega a mais de 600 mortos e milhares de feridos. Mortos desarmados em manifestação pacífica. O novo governo, sai fortalecido pelas declarações Européias e Americanas, que recomendam diálogo com a oposição, porém sem condenar o Golpe de Estado, sem condenar a prisão e defender a recondução do presidente deposto, sem criticar o encarceramento dos dirigentes do seu partido, sem se opor ao fechamento das estações de rádio e televisão, ou seja um atentado à imprensa livre.


Com os civis executados  morreu também a esperança de democracia na região, pois uma nova regra de vitória seletiva foi estabelecida: ganha só quem convier. Qual o valor do voto, perguntar-se-á o futuro  eleitor Egípcio? Cria-se nova zona de instabilidade, valorizando o discurso radical néo-Salafista e condições para a proliferação terrorista. A solução encontrada pelos perpetrantes diretos e indiretos deste Golpe de Estado não parece boa.

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