Não há dúvida que o sistema telefônico Brasileiro melhorou
enormemente depois da privatização destes serviços. Todos os cidadãos, ou quase
todos têm telefones fixo ou celular. Todos se falam, se agitam, e, por
vezes, em vez de conversar ficam hipnotizados pelos seus
aparelhos milagrosos, que tudo põem a fazer. É o progresso, e é bem vindo.
Mas passemos ao lado escuro desta estória. A privatização fez-se,
em boa parte, com o dinheiro da nossa querida Viúva. A Concessionária, que aqui
terá o codinome de Olá, deve ao Estado Brasileiro, isto é, nós todos, 37,64% de seu capital, sem contar os
empréstimos que porventura receberam deste mesmo governo. Assim, empresas estatais,
bancos governamentais, fundos de pensão oficiais somam-se à esta aparência privatizante,
onde as manifestações de “livre mercado” adquirem tons desviados, onde o “livre” invocado perde sua essência
para tornar-se “privilegiado” e, por vezes, “impune”.
Tudo são rosas no momento da captura do cliente, onde só a
inebriante fragrância do glamour digital se observa. Falar um com o outro é
mera conveniência, pois falar com o mundo potencializa a imaginação. A
armadilha está pronta. O contrato é assinado, e viveremos felizes para
sempre...
Até o momento em que os espinhos aparecem. Qualquer alteração desejada do contrato
assinado, que reduza o beneficio da interlocutora, torna-se um novo tipo de tortura, comparável às
mais sádicas dos idos medievais. O diálogo com o “Call Center”, onde habitam misteriosos seres com sotaque estranho (dizem
que é paulistês), transforma-se em processo Kafkiano. As palavras que emanam do
cliente que busca, digamos, encerrar
sua conta, sofrem misteriosa transformação, causando no interlocutor respostas
que nada tem a ver com o que é solicitado, ou, ainda pior, provocando perguntas
as mais íntimas.
_ Quero cancelar minha conta.
_ Mas nós podemos lhe oferecer o pacote YTRWQ, que reduz
substancialmente sua conta mensal.
_ Porque já não me ofereceram estas vantagens, no passado?
Porque tive que pagar, durante anos, além
do que precisaria?
_ (pergunta ignorada) Porque o Sr deseja cancelar sua conta?Ah,
sim..compreeendo. Vou transferi-lo para o departamento de Solicitações Especiais.
Aí começa o sofrimento...
Exasperado, o usuario é transferido para inúmeros e misteriosos
departamentos que repetem, incessantemente, as mesmas perguntas, consumindo-lhe
horas, esgarçando seu sistema nervoso. Exausto, cede. Cancela o pedido. Passados alguns dias, o assinante, já se
recuperando da sofrida experiência, recebe telefonema da Concessionária.
_Alô, gostaria de fala com o Sr Fulano?
_ Sim, é ele falando
_Estamos fazendo uma pesquisa dentre nossos clientes. Qual
nota que o Sr daria, de 0 a 10, aos serviços prestados por nossa empresa?
_ Zero! Zero!
_ Não estou entendeeeendo. Pode repetir?
-Zero!
_Não enteeeeendi. – Desliga
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