sábado, 10 de agosto de 2013

A tortura telefônica


Não há dúvida que o sistema telefônico Brasileiro melhorou enormemente depois da privatização destes serviços. Todos os cidadãos, ou quase todos têm telefones fixo ou celular. Todos se falam, se agitam, e, por vezes,  em  vez de conversar ficam hipnotizados pelos seus aparelhos milagrosos, que tudo põem a fazer. É o progresso, e é bem vindo.

Mas passemos ao lado escuro desta estória. A privatização fez-se, em boa parte, com o dinheiro da nossa querida Viúva. A Concessionária, que aqui terá o codinome de Olá, deve ao Estado Brasileiro, isto é, nós todos,  37,64% de seu capital, sem contar os empréstimos que porventura receberam deste mesmo governo. Assim, empresas estatais, bancos governamentais, fundos de pensão oficiais somam-se à esta aparência privatizante, onde as manifestações de “livre mercado” adquirem tons desviados,  onde o “livre” invocado perde sua essência para tornar-se “privilegiado” e, por vezes, “impune”.

Tudo são rosas no momento da captura do cliente, onde só a inebriante fragrância do glamour digital se observa. Falar um com o outro é mera conveniência, pois falar com o mundo potencializa a imaginação. A armadilha está pronta. O contrato é assinado, e viveremos felizes para sempre...

Até o momento em que os espinhos aparecem.  Qualquer alteração desejada do contrato assinado, que reduza o beneficio da interlocutora,  torna-se um novo tipo de tortura, comparável às mais sádicas dos idos medievais. O diálogo com o “Call Center”, onde habitam  misteriosos seres com sotaque estranho (dizem que é paulistês), transforma-se em processo Kafkiano. As palavras que emanam do cliente que busca, digamos,  encerrar sua conta, sofrem misteriosa transformação, causando no interlocutor respostas que nada tem a ver com o que é solicitado, ou, ainda pior, provocando perguntas as mais íntimas.

_ Quero cancelar minha conta.
_ Mas nós podemos lhe oferecer o pacote YTRWQ, que reduz substancialmente sua conta mensal.
_ Porque já não me ofereceram estas vantagens, no passado? Porque tive que pagar, durante anos,  além do que precisaria?
_ (pergunta ignorada) Porque o Sr deseja cancelar sua conta?Ah, sim..compreeendo. Vou transferi-lo para o departamento de Solicitações Especiais. Aí começa o sofrimento...

Exasperado,  o usuario é transferido para inúmeros e misteriosos departamentos que repetem, incessantemente, as mesmas perguntas, consumindo-lhe horas, esgarçando seu sistema nervoso. Exausto, cede. Cancela o pedido.  Passados alguns dias, o assinante, já se recuperando da sofrida experiência, recebe telefonema da Concessionária.

_Alô, gostaria de fala com o Sr Fulano?
_ Sim, é ele falando
_Estamos fazendo uma pesquisa dentre nossos clientes. Qual nota que o Sr daria, de 0 a 10, aos serviços prestados por nossa empresa?
_ Zero! Zero!
_ Não estou entendeeeendo. Pode repetir?
-Zero!
_Não enteeeeendi. – Desliga

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