terça-feira, 6 de agosto de 2013

Hora de negociar



Em recente eleição presidencial, o Irã elegeu Hassan Rohani. Substitui o radical Ahmadinejad, de triste memória. As chancelarias internacionais parecem concordar que  a ascenssão deste moderado  clérigo/político poderá abrir o caminho para o arrefecimento  do contencioso nuclear que prevalece faz anos.

Interessa,  tanto ao Irã como aos Estados Unidos encontrar formula conciliatória, porém posições anteriormente assumidas tornam difícil o êxito da missão. Rohani já manifestou desejo de negociar apesar de Teerã defender seu direito de enriquecer urânio. Tem por base o Tratado de Não Proliferação Nuclear, do qual é contratante e que lhe veda, tão somente,  a fabricação de armas nucleares. O governo  Barack Obama também  já manifestou interesse em re-encetar negociações, porém exige o término do enriquecimento, de acordo com Resolução das Nações Unidas.

No entanto ambas as partes vêem seu caminho tolhido por feroz resistência de Israel,  que alega ser intenção do Irã enriquecer seu urânio a 90%, e não os 20% declarados, permitindo assim, a construção da bomba nuclear. Como medida visando o colapso de qualquer negociação, foi mobilizada a mais relevante associação de interesses israelenses nos Estados Unidos, a AIPAC. Esta, desprezando a significativa mudança na cúpula Iraniana,  agiu diretamente junto à Câmara de Deputados obtendo resolução (400 votos a favor contra 20) postulando o aumento de sanções a Teerã, o que equivaleria ao estrangulamento econômico daquele país.   

A se perder esta oportunidade, onde negociações diplomáticas possam explorar as varias formulas para um entendimento permanente, em ambiente de respeito mútuo, resvalaremos, novamente para as relações pautadas pela hostilidade e preconceitos, onde o círculo vicioso de ação e retaliação levará a região a novo conflito.

Em exercício hipotético sugiro algumas alternativas possíveis:
1.           
                     A capitulação de Teerã, abandonando o enriquecimento do urânio. Provavelmente outras exigências seriam impostas, tais como que tipo de armamento convencional seria permitido ao arsenal Iraniano e, ainda, a manutenção de certas sanções. Pode-se prever inconformidade em setores relevantes.
2.       
          Manutenção e, possivelmente, aceleração velada do programa nuclear. Tal decisão visaria assegurar a segurança e soberania do país, ameaçadas pelo violento constrangimento econômico decorrente das sanções.  Opção de altíssimo risco, prevendo-se ataques pontuais por forças Israelenses e Norte Americanas, às quais Teerã oporia  ação hostil indireta junto às populações xiitas do Oriente Médio, vide Iraque, Síria, Bahrein e outros. Ainda, como retaliação e manobra para futura negociação,  exerceria influência adversária  no Afeganistão.
3.       
          Substituição de estratégia, mantendo o programa nuclear dentro dos limites atuais,  buscando segurança através de concessões especiais à Rússia e à China, na tentativa de atrair países cujo contencioso com os Estados Unidos tende a crescer.

Certamente outras opções existem, porém nenhuma parece tranqüilizadora. A tendência impositiva da diplomacia de Washington, atiçada, e por vezes controlada, pelos interesses de Tel Aviv, parece dificultar o início de diálogo. Vale, também, lembrar a natureza autoritária e inflexível do Aiatolá Khamenei, líder supremo do Irã, cuja intervenção poderá inviabilizar qualquer acordo.

O jogo é de altíssimas apostas, pois um conflito no Irã poderá transbordar, insuflando, ainda mais, o mar revolto do Oriente Médio. Nem Beijing nem Moscou estarão alheios às alterações géo-políticas que advirão de conflagração naquela região, sendo o Irã de direto interesse Russo, e o Golfo Pérsico, importante para a China.


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