domingo, 20 de novembro de 2016

Primarias na França


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Foi dado o primeiro passo no processo eleitoral francês, a completar-se em abril/maio 2017. O turno inicial das “primárias” do partido Les Républicains encerra-se com a vitória de François Fillon. Ainda que um segundo turno deverá completar-se, confrontando Fillon e Allain Juppé, já fica constatada a derrota de Nicholas Sarkozy, este com parcos 21% dos eleitores. Tal resultado já indicam novos rumos a serem seguidos.

Enquanto Juppé têm adotado posição moderada de centro, aceitando aliança com segmentos da esquerda, já Fillon situa-se mais no centro-direita, conquistando um eleitorado através de promessas liberais, restabelecendo as 39 horas de trabalho, o aumento da idade de aposentadoria, equalização das aposentadorias públicas e privadas, abolição do Imposto sobre Fortuna, etc... Apesar de diferenças quanto à intensidade das plataformas econômicas, ambos são defensores da continuidade e avanço do projeto pan-europeu.

A escolha de um líder dentre estes dois torna-se alvissareira, são só pela qualidade dos políticos escolhidos para liderar seu partido nas próximas eleições, mas, talvez mais importante, pela retirada de Sarkozy do cenário político francês.

O eleitorado do maior partido francês descartou os tons autoritários e racistas propalados pelo presidente anterior, optando por uma visão mais abrangente que deverá nortear tanto a França como a União Européia.

Contrariando o clima anti União Européia acentuado pela vitória do Brexit, apoiado pelo Front Nacional e defendido por alas radicais do continente, a rejeição de Sarkozy revela uma opção pro-Europa pelo mais importante partido da França, esta a segunda potência da União Européia. 

Na vizinha Alemanha, Frau Merkel prepara-se para conquistar mais um mandato, o quarto, reforçando, caso vitoriosa, o campo pró-UE. A provável união de propósitos das duas maiores potências da União Européia, se confirmada, ocorre oportunamente face à ascensão potencialmente desestabilizante de Donald Trump.

Ainda que cedo para identificar a futura política externa norte-americana, manifestações do novo Presidente prometem uma rodada de novas discussões, revisoras dos acordos e práticas em vigor. Uma União Europeia unida, liderada pelos seus dois países seminais, poderá dar novo fôlego ao notável, ainda que hesitante projeto unificador e pacificador.

Estas e outras eleições devem refletir a imponderabilidade dos pleitos neste mundo democrático em crise, evidenciada pelo Brexit, pela eleição de Trump e a liderança de Fillon nestas primarias onde as pesquisas prometiam um Juppé vitorioso.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Donald Trump vitorioso


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Donald Trump vitorioso! Manchete nos jornais mundo afora propalam a eleição do mais poderoso homem do planeta. Talvez consternação e temor melhor expressem o sentimento majoritário daqueles que acompanharam a campanha presidencial onde a emoção, a insensibilidade, o desconhecimento pareciam dominar a personalidade do candidato vitorioso. Saltava aos olhos a insuficiência de sua repetitiva e adjetivada argumentação nos debates com sua esperta oponente.

Porém, apesar de sua aparente fragilidade intelectual e programática, Trump venceu, impelido pelos ventos que semeiam a angustia no psiquê do povo, do povo branco norte-americano. Seu instinto e intuição souberam identifica-las. Com inegável propensão racista, propôs conter a imigração, a seu ver responsável pela mestiçagem que antecede a perda de poder da raça branca. No campo econômico viu na globalização a exportação dos empregos a ser corrigida pela renegociação dos tratados vigentes. Atentou, ainda, para a restituição do congelado poder de compra da classe empobrecida dos blue collars, vítima da concentração de renda nos escalões superiores

Ao ver de Donald Trump, o slogan Make  America Great Again melhor se traduz pela internalização dos desafios delimitados pelas fronteiras da nação.

Reinará supremo, ungido pela vitória inconteste obtida tanto na Câmara como no Senado. Ainda, na sequência, conquistará a maioria conservadora na Corte Suprema, enfeixando em suas mãos todas as armas do poder federal.

Assim, completa-se o mosaico de inconteste poder, onde a sua vitória foi obtida desprezando e contestando a liturgia partidária. Esta eleição ganhou-a falando diretamente ao povo. Até que ponto pretenderá Trump governar acima das limitações partidárias? Terá ele a força necessária para romper as amarras da globalização em busca de um neo-isolacionismo? Improvável. Porém pode-se esperar fortes tensões no cenários interno e externo até que um novo ponto de equilíbrio politico-econômico seja alcançado.

Não serão pequenas as marolas que, a partir de Washington, far-se-ão sentir nas demais capitais do mundo. Não parece provável que o novo presidente, levado por preferências culturais ou sentimentais, venha a atenuar seus objetivos. Seu perfil parece sugerir uma visão essencialmente pragmática no trato dos assuntos internacionais.

Levada por inegável imprudência, esta coluna sugere alguns desdobramentos internacionais:

Em Bruxelas, importante revisão poderá acontecer no âmbito da Aliança do Atlântico Norte, a OTAN. Insatisfeito com o peso de suas contribuições financeiras e responsabilidade militar para a viabilização da aliança, Trump propõe substancial aumento das contribuições financeiras de seus parceiros europeus, estes desacostumados a suportar tais ônus no passado.

Em Paris reina a dúvida sobre o impacto que tal terremoto trará às primárias e, posteriormente, às eleições francesas. Marine le Pen e Nicholas Sarkozy, herdeiros dos temores de perda de identidade e segurança parecem fortalecidos pela vitória do empresário norte-americano às expensas do até hoje favorito Alain Juppé.

Em Moscou, prevalecerá o contentamento. A eliminação de Hillary Clinton, antiga adversaria do governo Putin no cenário geopolítico e a entronização de Donald Trump abre perspectivas de renovado entendimento tendo por base o interesse comum no combate ao terrorismo. Até que ponto deixará de ser relevante para Washington o contencioso ucraniano?

Na China repercutirá a preferencia do recém eleito por uma revisão de tarifas e oposição ao que considera uma política de subvalorização do yuan. Ainda, as escaramuças em torno dos mares da China e do Japão dificilmente serão aceitas pelo novo presidente, dono de um viés autoritário.

Israel terá que lidar com a perda de Hillary Clinton, fiel aliada de Tel Aviv a ponto de oferecer legitimidade à destruição da cidade de Gaza. Perde Netanyahu um interlocutor insuperável, ora substituído por outro que busca benefícios palpáveis que decorram da substancial ajuda financeira e militar concedida ao estado judeu. O “deal maker” Trump deverá reexaminar as cartas. Não passará desapercebido que sua vitória eleitoral deu-se, talvez pela primeira vez, apesar da oposição politico-financeira do estamento judaico norte-americano.

Para o Brasil a nova configuração poderá lhe ser benéfica desde que o Itamaraty ofereça ao novo presidente argumentos sobre os interesses convergentes no sul do hemisfério. Tanto na área econômica quanto na política são relevantes os trunfos que o Itamaraty saberá explicitar. Com a palavra o Ministro Serra.

Quanto à sua derrota, Hillary Clinton parece chegar ao fim da trajetória política da notável família Clinton. Vencedora no voto popular por uma margem de quase 300.000 votos, foi ela a quinta candidata à presidência vencedora junto ao povo, porém derrotada pelo sistema de voto por Delegados. Sai ferida pela esmagadora derrota sofrida no estado de Arkansas, onde teve inicio a trajetória política dos Clintons. 

Irônico, no entanto, é ter sido este duplo sistema, de voto popular e voto qualitativo, elaborado pelos founding fathers com o explicito objetivo de impedir a vitória de candidato de perfil “inadequado”...


segunda-feira, 7 de novembro de 2016

CURTAS



Resultado de imagem para foto hillaryAo aproximar-se o desfecho eleitoral norte americano, Israel envia mensagem conclamando o vencedor a manter a já tradicional aliança que une ambos os Estados. Conta com o apoio de Washington para reiniciar as negociações para a criação do Estado Palestino, com a pre-condição de não haver pré-condições. Em outras palavras, Ramallah não deve exigir a interrupção, a priori, da construção de novos assentamentos judaicos em suas terras. Ainda, Tel Aviv parece não classificar sua exigência de reconhecimento de Israel como Estado Judeu como se pré-condição fosse, ainda que tal definição torne os habitantes Israelenses de origem árabe em cidadãos de segunda classe, portanto, dificilmente aceito pelo povo palestino. Sendo Hillary Clinton a provável vencedora do pleito, e, ainda, ferrenha e leal defensora do estado judeu, dificilmente ter-se-a paz no futuro próximo, por falta de mediador equidistante.


Resultado de imagem para foto da capital do iemenPari passu com a mortandade e destruição da parte leste de Alepo, sob domínio da Al Nousra (a famigerada Al Qaeda de outrora) pelos sírios e aliados russos, tem-se, também, o morticínio dos civís na guerra travada no Iêmen. A sublevação dos Houtis, de confissão xiita, provocou a resposta saudita, empenhada em conter a influência iraniana na Península Arábica. O método escolhido foi a aniquilação do inimigo pelo bombardeio constantes e indiscriminados executados pela força aérea saudita. O combate pouco se dá no confronto de exércitos, mas sim através do terror da destruição indiscriminada, onde hospitais, escolas não escapam, onde civis representam a enorme maioria das vítimas. Cresce a reação internacional contra o que parece tornar-ser um genocídio, causando aos Estados Unidos sério constrangimento. Este aparece como fornecedor dos aviões, provedor continuo das mais modernas bombas e disponibilizando seus aviões-tanque que abastecem, em voo, os caça-bombardeiros de Riade.


Resultado de imagem para foto marcelo crivellaA vitória de Marcello Crivella nas eleições municipais provocou reações sobretudo negativas tendo em vista ter conquistado o poder sem alcançar a maioria eleitoral. Foi derrotado pela soma da abstinência, dos votos nulos e em branco, e pelos votos concedidos a seu adversário. Contudo, se tal sucesso abalou a confiança de muitos, talvez uma outra interpretação seja válida. Parece razoável supor-se que o estamento “evangélico” vislumbre neste momento abrirem-se as portas para a conquista de crescente influência nos destinos políticos de país. Vê-se balizado pelas imposições conservadoras que decorre de sua visão ideológica. Restaria, assim, ao PRB e seus agregados rejeitar o populismo de esquerda, abrindo-lhe, porém, a larga avenida do populismo de direita. Enquanto limitado às fronteiras municipais, tal guinada poderá fortalecer, a curto prazo, a cidade do Rio de Janeiro. Resta, contudo, a pergunta sobre os perigos que tal desdobramento possa revelar se estendido ao âmbito nacional.


terça-feira, 1 de novembro de 2016

Eleições e ilações


Ao encerrar-se o período eleitoral constata-se o efeito da revolução política que tomou conta do país. Em outros países tais mudanças decorrem, habitualmente, de medidas virtuosas, tanto no campo econômico quanto no político. O surgimento de novos líderes como Charles de Gaulle na França, Konrad Adenauer na Alemanha, Margaret Thatcher na Grã Bretanha e Ronald Reagan nos Estados Unidos, serviu de catalisador de energias adormecidas e gerador  de novos conceitos  ajustados à necessidade da época. 

Inegável  sucesso acompanhou os novos caminhos por eles vislumbrados. Cumpriram a missão de impulsionar seus países de forma a dar-lhes maior substância e riqueza, até que os ventos do tempo trouxeram novas circunstâncias, novas ideias, novos objetivos e novos líderes.

No Brasil o caminho percorrido foi de outro teor. Depois de exaurida a etapa militar, onde os notáveis benefícios econômicos foram contaminados pela truculência de sua continuidade, seguiu-se a emergência de uma nova etapa democrática. A sede de liberdade decorrente da aridez das baionetas trouxe consigo  o germe libertário, levando o ímpeto democrático à rejeição do bom e do mal passado, impondo uma tabula rasa alimentada pela vingança subjacente.

A classe política, protegida contra restrições denunciadas como autoritárias, vicejou com tímido balizamento moral e administrativo, somente o governo Cardoso escapando à regra. Os novos antigos líderes apossaram-se do poder pelo caminho mais fácil, aquele da demagogia, onde a dádiva imediata ao povo do povo retirava o bem estar futuro. A venda do amanhã pelo gozo do presente norteou a nova doutrina de poder, desrespeitando, com poucas exceções, os interesses permanentes da nação.

E assim, paulatina e inexoravelmente chegou-se à condição inevitável onde o Estado,  assaltado e subjugado pela falsa  promessa do Eldorado, na verdade tornou-se prisioneiro de uma celeris societas cujo objetivo era sua perpetuação. 

O plano, tido por perfeito, engendrado pelo Partido dos Trabalhadores, fracassou. Perdeu-se o projeto por desconhecer o homem, por considerá-lo invariavelmente corruptível. Escolhido pela conspirata, Joaquim Barbosa, homem negro, estigmatizado,  deu o primeiro grande passo; abriu as comportas da indignação pública, trazendo sob vara os primeiros poderosos a serem condenados no país. Um outro, Sergio Moro, destemido “juizeco” do interior, desvendou os subterrâneos  que interligavam corruptores e corruptos.   Dois homens, apenas dois, cada qual no seu domínio, ligados pela coincidência e pelo caráter, empreenderam a maior revolução vista no país.

Chega-se ao epílogo desta pequena estória, por conta das eleições municipais recém encerradas. O protagonista neste pleito não foi este ou aquele político, mas, sim, o povo. Foi este povo, enganado e decepcionado,  que rejeitou os falsos profetas. O passeio dos milhões, coberturas e mansões, não lhe deu emprego nem saciou-lhe  a fome. Bem claro ficou, o rei petista e seu séquito  estavam nus. E cruel foi o preço pago. O Partido dos trabalhadores tornou-se um espectro, um fantasma.

Surge o grande desafio, que fazer com tal vitória? Como evitar o surgimento de novo messias com a promessa vazia do cesto da abundância? Quais serão os novos líderes, guiados por práticas e princípios, capazes de equilibrar as imposições do realismo econômico com as exigências do compartilhamento social. Sem tranquilidade social não haverá prosperidade nem tranquilidade sem prosperidade.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Emprego e desafio


Difícil será argumentar contra o controle de despesas públicas.  Depois do descalabro promovido pelo governo petista, onde ordenação  das despesas foi substituída por artifícios populistas, as consequências inevitáveis não poderiam ser evitadas.  O desregramento aconteceu, a economia soçobrou e o povo, aquele que realmente sofre, viu-se, mais uma vez enganado e abandonado por aqueles que pretendiam representá-lo.
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Numa reação surpreendente e admirável, a sociedade parece ter dado a volta por cima. Alijou do poder uma verdadeira máfia cuja missão aviltou-se na determinação de empolgar  e manter o poder a qualquer custo, sobretudo o moral. Desmontou a estrutura corroída que abrigava um misto de idealismo e esperteza, o primeiro se desfazendo no tempo em benefício do segundo.   

Assim, tem-se hoje um governo de coalizão suficientemente forte para redirecionar a economia para o caminho  do crescimento e do  bem comum.  Hoje mesmo, o governo e seus novos aliados, partidos da antiga oposição, levaram a PEC do Teto das Despesas a vencer  a  barreira da Câmara, o que lhe permite antever sucesso quando da etapa senatorial.  Pari passu, o Banco Central obtêm sucesso em sua luta anti-inflacionária, o BNDES se reorganiza contendo excessos anteriores, a Petrobras se redime estancando a hiper corrupção.

Caminha o Brasil para a solução de seus problemas...ou não? As medidas corajosas prometidas e até hoje tomadas obedecem ao receituário da administração prudente e eficaz, porém parece falta-lhe a outra perna, a busca do pleno emprego*  e a consequente evolução do consumo.

Sem a recuperação do poder de compra da classe média e remediada  o restante da economia empaca. As empresas não crescem, a receita fiscal estagna, e, sobretudo, aumenta-se exponencialmente a tensão sócio-política. Para os que duvidam da validade causal, basta observar os efeitos da prolongada recessão no quadro político norte americano, onde um socialista bem perto chegou e um populista ameaça chegar  às portas do poder.

A permanecer o atual cenário em que prepondera o desemprego, difícil será alcançar o sucesso a que se propõe o governo.

É bem verdade que o mundo de hoje não é o mesmo dos anos 30 do século passado.  Enquanto a economia mundial, longe de pujante, hoje trilha em modesta melhoria, naqueles idos o mundo enfrentava  séria depressão. No entanto, os países como a Alemanha post-Weimar e a Itália foram aqueles que mais rapidamente recuperaram suas economias no cenário europeu, através de robustos  programas pró-emprego. Franklin D. Rooseveldt, abraçando as teses de John Maynard Keynes, alcançou a inversão da tendência negativa iniciando uma recuperação  consagrada pela economia de guerra que se seguiu.

Sendo outros tempos,  outras serão as formulas. A enorme liquidez internacional que se observa  promete predisposição ao investimento no Brasil, a prazo longo e custo razoáveis,  onde oportunidades no campo da infra estrutura trarão consigo rápido e relevante impacto no nível de emprego.  Contar apenas com os benefícios da trickle down economy promete ser imprudente. As tensões sociais, aguçadas pela ubiquidade da internet e da mídia, dificilmente  serão contidas pela lenta resposta do já questionável gotejamento econômico.   


O calendário eleitoral de 2018 recomenda a pronta inversão das expectativas das classes média e trabalhadora. Cumprida a reversão renascerá  a esperança e a blindagem contra o resurgimento da demagogia populista.

*com os aperfeiçoamentos necessáriobs na CLT

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Abuso de malicia



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Sob a batuta do ínclito senador Renan Calheiros toma corpo naquela casa movimento contra o que denominam de “abuso de poder”. Como se fora um movimento de proteção de direito humanos às avessas. O objetivo do projeto lei é o de resguardar aqueles que forem pegos nas malhas da justiça. São diversos os artigos que convergem para a impunidade dos malfeitores e ameaçam os que defendem a lei.

Dentre eles, cabe destacar alguns. Identificado um trêfego indivíduo pelos agentes da lei, onde os indícios recomendam uma maior aproximação, seja ele parlamentar ou simples civil, pretende a lei ter sua privacidade resguardada.  Nada de fotografia nem filmes, mesmo que o suspeito tenha sido flagrado na falcatrua. Pretende-se proteger a intimidade, a vida privada e a honra (esta merece especial atenção) do suspeito. Amordaça-se, assim, a mídia naquilo que mais importante tem, o de revelar o fato e servir a comunidade.

Pergunta-se se tais cuidados devem aplicar-se somente àqueles cujo patrimônio seja avantajado, assim protegendo também os “fernandinhosbeiramar”, ou valerá, também para o batedor de carteira, o “soldado” do tráfico, o bêbado atropelador? Implantada a lei, a sociedade deixará de identificar os bandidos que a cercam, ou só os conhecerá quando, eventual e esporadicamente, forem encarcerados? E enquanto isto não ocorre, viver-se-á ameaçado e desprotegido?

Outro item do projeto de lei vai mais além na sua ânsia de tolher a justiça. Determina pena de 1 a 4 anos de detenção mais multa para aquele agente da Justiça que leve o suspeito a revelar fatos que possam incriminá-lo. A oferta de vantagens condenatórias  para que o criminoso revele seus crimes passa a ser ilegal. Pretende-se assim inviabilizar o mais eficaz instrumento para a averiguação e verificação de crimes, a delação premiada, escancarando-se, novamente,  a porta da impunidade na sociedade brasileira.

Outros artigos são propostos, todas na direção de constranger o estamento judicial na perseguição e condenação dos criminosos. Estabelece este projeto uma série de graves punições, prisão e multa,  dirigidas à polícia e Juízes, colocando-os sobre as areias movediças das interpretações maliciosas, retirando-lhes o terreno sólido sobre o qual possam investigar, julgar e condenar.

Com este execrável projeto, que emana da agremiação menos respeitada da nação, comandada por político de restrito calibre moral,  hipocritamente designado como Lei de abuso de poder, na realidade pretende perpetuar e proteger  a impunidade dos criminosos, ameaçando àqueles que têm por missão passar a limpo a sociedade.

A prosperar tal empreitada declara-se a falência, não apenas moral, da nação, mas perpetua-se a corrupção, a ineficiência, a iniqüidade de um país que clama por uma grandeza que se lhe escapa.


  

domingo, 16 de outubro de 2016

A moral dos interesses



As pessoas tem, por natureza, a propensão de classificar os seres humanos em categorias, dentre as quais se destacam  “o bom e o mau”. No entanto, bem se sabe dos perigos de tais rótulos, uma vez que todos os seres (afora casos psicopatas) têm doses variáveis de ambos os extremos.

A inimizade, na maioria das vezes, emana de interesses conflitantes, agravados que são por imperícia na comunicação e por prévia rotulação, que resulta, geralmente,  de disparidade cultural. Já, no caso de países diversos, também parece imprópria a classificação simplista do bom e o mau. 

Como já sobejamente comentado, países têm interesses e não amigos. Contudo, um país sob governo tirânico haverá de ser bem mais propenso  a refletir a personalidade de seu líder. Tal condição faz com que o país aja de forma mais próxima aos desvios da mentalidade humana e não apenas conforme seus interesses geopolíticos.

O caso da Alemanha Hitlerista bem demonstra este fenômeno.   Se, por um lado, seguindo o comportamento internacional então vigente, poderia justificar a guerra para recompor o território perdido no Tratado de Versalhes*, a sanha expansionista e assassina de Adolfo Hitler transferiu a seu país idêntica imagem.

Por outro lado, sendo o país democrático, e por democrático entende-se todas as variantes de democracia instauradas conforme a cultura nacional, observa-se um comportamento bem mais racional, de acordo com seus interesses geopolíticos e comerciais.

Quanto à guerra, esta  ocorre impelida pelos interesses daquele que a provoca ou resulta do entrechoque de interesses conflitantes entre as nações envolvidas. Em todos os casos, a iniciar-se a conflagração, a primeira vítima é a verdade. Sob condições de guerra, caem por terra os limites morais sendo estes substituídos pelo imperativo da vitória, ainda que a roupagem assumida pelos adversarios seja aquela da justeza moral.

A demonização do inimigo, de parte a parte, leva o conflito às últimas consequências, deixando o derrotado submerso em escombros e miséria. A guerra total, fruto da tecnologia gerada na primeira Guerra Mundial,  expandiu-se muito além do campo de batalha, ao qual o passado limitava, transformando em objetivos lícitos todo o território inimigo. Com ela apareceram as principais vítimas, a população civil e o colapso da guerra moral.

Alepo, Gaza, Varsóvia, Dresden, Hiroshima, todas espelham os atos e  espalham a culpa.

Como prelúdio à guerra surge a propaganda, a moldagem da opinião pública contra o pretenso inimigo. Ainda, a tecnologia multiplica a capacidade e capilaridade dos eflúvios sobre os quais constrói-se a  base de apoio popular que valide o casus belli. O passado nos oferece  exemplos onde a manipulação da mídia leva à guerra, esta insuflada por interesses expansionistas tal como o yellow journalism que precedeu o conflito entre os Estados Unidos e a Espanha. Cumprindo o enredo geopolítico,  os Estados Unidos ocuparam as Filipinas, assim estendendo ao Pacífico remoto a primeira trincheira protetora de sua costa Oeste continental.

O atual momento parece encaminhar-se em semelhante direção. Preocupa a  pletora de notícias acusando determinado beligerante de todos os pecados quando estes em pouco se diferenciam d’aqueles por todos praticados nas areias e montanhas  do Oriente Médio. Excluindo-se a ubíqua barbárie cometida pelo terrorismo,  nesta guerra não parece existir crime praticado por um lado que não tenha sido replicado pelo outro.

Com a aproximação das eleições, tudo indica que Hillary Clinton ascenda à presidência dos Estados Unidos da América.  É de esperar-se que sua robusta retórica pré eleitoral, não leve à fricções e tensões que comprometam a conciliação dos interesses das duas principais potencias engajadas no conflito. Sem tal acerto, dificilmente chagar-se-á a bom termo.


*Vide a França em busca de recuperação das províncias da Alsácia e Lorena na Grande Guerra.