Donald
Trump vitorioso! Manchete nos jornais mundo afora propalam a
eleição do mais poderoso homem do planeta. Talvez consternação e
temor melhor expressem o sentimento majoritário daqueles que
acompanharam a campanha presidencial onde a emoção, a
insensibilidade, o desconhecimento pareciam dominar a personalidade
do candidato vitorioso. Saltava aos olhos a insuficiência de sua
repetitiva e adjetivada argumentação nos debates com sua esperta
oponente.
Porém,
apesar de sua aparente fragilidade intelectual e programática, Trump
venceu, impelido pelos ventos que semeiam a angustia no psiquê do
povo, do povo branco norte-americano. Seu instinto e intuição
souberam identifica-las. Com inegável
propensão racista, propôs conter a imigração, a seu ver responsável
pela mestiçagem que antecede a perda de poder da raça branca. No
campo econômico viu na globalização a exportação dos empregos a
ser corrigida pela renegociação dos tratados vigentes. Atentou, ainda, para a
restituição do congelado poder de compra da classe empobrecida dos blue
collars, vítima da concentração de renda nos escalões
superiores.
Ao ver de Donald Trump, o slogan Make America Great Again melhor se traduz pela internalização dos desafios delimitados pelas
fronteiras da nação.
Reinará supremo, ungido pela vitória inconteste obtida tanto na
Câmara como no Senado. Ainda, na sequência, conquistará a maioria conservadora na Corte Suprema, enfeixando em suas mãos
todas as armas do poder federal.
Assim,
completa-se o mosaico de inconteste poder, onde a sua vitória foi
obtida desprezando e contestando a liturgia partidária. Esta
eleição ganhou-a falando diretamente ao povo. Até que ponto
pretenderá Trump governar acima das limitações partidárias?
Terá ele a força necessária para romper as amarras da globalização
em busca de um neo-isolacionismo? Improvável. Porém pode-se esperar
fortes tensões no cenários interno e externo até que um novo ponto
de equilíbrio politico-econômico seja alcançado.
Não serão
pequenas as marolas que, a partir de Washington, far-se-ão sentir
nas demais capitais do mundo. Não parece provável que o novo
presidente, levado por preferências culturais ou sentimentais, venha
a atenuar seus objetivos. Seu perfil parece sugerir uma visão
essencialmente pragmática no trato dos assuntos internacionais.
Levada por
inegável imprudência, esta coluna sugere alguns desdobramentos
internacionais:
Em
Bruxelas, importante revisão poderá acontecer no âmbito da Aliança
do Atlântico Norte, a OTAN. Insatisfeito com o peso de suas
contribuições financeiras e responsabilidade militar para a
viabilização da aliança, Trump propõe substancial aumento das
contribuições financeiras de seus parceiros europeus, estes desacostumados a suportar tais ônus no passado.
Em Paris
reina a dúvida sobre o impacto que tal terremoto trará às
primárias e, posteriormente, às eleições francesas. Marine le Pen
e Nicholas Sarkozy, herdeiros dos temores de perda de identidade e
segurança parecem fortalecidos pela vitória do empresário norte-americano às
expensas do até hoje favorito Alain Juppé.
Em Moscou,
prevalecerá o contentamento. A eliminação de Hillary Clinton,
antiga adversaria do governo Putin no cenário geopolítico e a
entronização de Donald Trump abre perspectivas de renovado
entendimento tendo por base o interesse comum no combate ao
terrorismo. Até que ponto deixará de ser relevante para Washington
o contencioso ucraniano?
Na China
repercutirá a preferencia do recém eleito por uma revisão de
tarifas e oposição ao que considera uma política de subvalorização
do yuan. Ainda, as escaramuças em torno dos mares da China e do
Japão dificilmente serão aceitas pelo novo presidente, dono de um
viés autoritário.
Israel
terá que lidar com a perda de Hillary Clinton, fiel aliada de Tel
Aviv a ponto de oferecer legitimidade à destruição da cidade de
Gaza. Perde Netanyahu um interlocutor insuperável, ora substituído
por outro que busca benefícios palpáveis que decorram da substancial ajuda financeira e militar concedida ao estado judeu. O “deal maker” Trump deverá
reexaminar as cartas. Não passará desapercebido que sua vitória
eleitoral deu-se, talvez pela primeira vez, apesar da oposição
politico-financeira do estamento judaico norte-americano.
Para o
Brasil a nova configuração poderá lhe ser benéfica desde que o
Itamaraty ofereça ao novo presidente argumentos sobre os interesses
convergentes no sul do hemisfério. Tanto na área econômica quanto
na política são relevantes os trunfos que o Itamaraty saberá
explicitar. Com a palavra o Ministro Serra.
Quanto à sua derrota, Hillary Clinton parece chegar ao fim da trajetória
política da notável família Clinton. Vencedora no voto popular por
uma margem de quase 300.000 votos, foi ela a quinta candidata à
presidência vencedora junto ao povo, porém derrotada pelo sistema
de voto por Delegados. Sai ferida pela esmagadora derrota sofrida no estado de Arkansas, onde teve inicio a trajetória política dos Clintons.
Irônico, no entanto, é ter sido este duplo sistema, de voto popular e voto qualitativo, elaborado pelos founding fathers com o explicito objetivo de
impedir a vitória de candidato de perfil “inadequado”...
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