As pessoas tem, por natureza, a propensão de classificar os
seres humanos em categorias, dentre as quais se destacam “o bom e o mau”. No entanto, bem se sabe dos
perigos de tais rótulos, uma vez que todos os seres (afora casos psicopatas) têm
doses variáveis de ambos os extremos.
A inimizade, na maioria das vezes, emana de interesses
conflitantes, agravados que são por imperícia na comunicação e por prévia
rotulação, que resulta, geralmente, de
disparidade cultural. Já, no caso de países diversos, também parece imprópria a
classificação simplista do bom e o mau.
Como já sobejamente comentado, países
têm interesses e não amigos. Contudo, um país sob governo tirânico haverá de
ser bem mais propenso a refletir a personalidade
de seu líder. Tal condição faz com que o país aja de forma mais próxima aos
desvios da mentalidade humana e não apenas conforme seus interesses
geopolíticos.
O caso da Alemanha Hitlerista bem demonstra este
fenômeno. Se, por um lado, seguindo o
comportamento internacional então vigente, poderia justificar a guerra para
recompor o território perdido no Tratado de Versalhes*, a sanha expansionista e
assassina de Adolfo Hitler transferiu a seu país idêntica imagem.
Por outro lado, sendo o país democrático, e por democrático
entende-se todas as variantes de democracia instauradas conforme a cultura
nacional, observa-se um comportamento bem mais racional, de acordo com seus
interesses geopolíticos e comerciais.
Quanto à guerra, esta ocorre impelida pelos interesses daquele que a
provoca ou resulta do entrechoque de interesses conflitantes entre as nações
envolvidas. Em todos os casos, a iniciar-se a conflagração, a primeira vítima é
a verdade. Sob condições de guerra, caem por terra os limites morais sendo
estes substituídos pelo imperativo da vitória, ainda que a roupagem assumida pelos adversarios seja
aquela da justeza moral.
A demonização do inimigo, de parte a parte, leva o conflito
às últimas consequências, deixando o derrotado submerso em escombros e miséria.
A guerra total, fruto da tecnologia gerada na primeira Guerra Mundial, expandiu-se muito além do campo de batalha, ao
qual o passado limitava, transformando em objetivos lícitos todo o território inimigo. Com ela
apareceram as principais vítimas, a população civil e o colapso da guerra
moral.
Alepo, Gaza, Varsóvia, Dresden, Hiroshima, todas espelham os atos e espalham a culpa.
Como prelúdio à guerra surge a propaganda, a moldagem da
opinião pública contra o pretenso inimigo. Ainda, a tecnologia multiplica a
capacidade e capilaridade dos eflúvios sobre os quais constrói-se a base de apoio popular que valide o casus belli.
O passado nos oferece exemplos onde a
manipulação da mídia leva à guerra, esta insuflada por interesses
expansionistas tal como o yellow journalism que precedeu o conflito entre os Estados Unidos e a
Espanha. Cumprindo o enredo geopolítico,
os Estados Unidos ocuparam as Filipinas, assim estendendo ao Pacífico
remoto a primeira trincheira protetora de sua costa Oeste continental.
O atual momento parece encaminhar-se em semelhante direção.
Preocupa a pletora de notícias acusando determinado beligerante de todos os pecados quando estes em pouco se diferenciam d’aqueles por todos praticados nas areias e montanhas do
Oriente Médio. Excluindo-se a ubíqua barbárie cometida pelo
terrorismo, nesta guerra não parece existir
crime praticado por um lado que não tenha sido replicado pelo outro.
Com a aproximação das eleições, tudo indica que Hillary Clinton
ascenda à presidência dos Estados Unidos da América. É de esperar-se que sua robusta retórica pré
eleitoral, não leve à fricções e tensões que comprometam a conciliação dos
interesses das duas principais potencias engajadas no conflito. Sem tal acerto, dificilmente chagar-se-á a bom termo.
*Vide a França em
busca de recuperação das províncias da Alsácia e Lorena na Grande Guerra.
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