domingo, 16 de outubro de 2016

A moral dos interesses



As pessoas tem, por natureza, a propensão de classificar os seres humanos em categorias, dentre as quais se destacam  “o bom e o mau”. No entanto, bem se sabe dos perigos de tais rótulos, uma vez que todos os seres (afora casos psicopatas) têm doses variáveis de ambos os extremos.

A inimizade, na maioria das vezes, emana de interesses conflitantes, agravados que são por imperícia na comunicação e por prévia rotulação, que resulta, geralmente,  de disparidade cultural. Já, no caso de países diversos, também parece imprópria a classificação simplista do bom e o mau. 

Como já sobejamente comentado, países têm interesses e não amigos. Contudo, um país sob governo tirânico haverá de ser bem mais propenso  a refletir a personalidade de seu líder. Tal condição faz com que o país aja de forma mais próxima aos desvios da mentalidade humana e não apenas conforme seus interesses geopolíticos.

O caso da Alemanha Hitlerista bem demonstra este fenômeno.   Se, por um lado, seguindo o comportamento internacional então vigente, poderia justificar a guerra para recompor o território perdido no Tratado de Versalhes*, a sanha expansionista e assassina de Adolfo Hitler transferiu a seu país idêntica imagem.

Por outro lado, sendo o país democrático, e por democrático entende-se todas as variantes de democracia instauradas conforme a cultura nacional, observa-se um comportamento bem mais racional, de acordo com seus interesses geopolíticos e comerciais.

Quanto à guerra, esta  ocorre impelida pelos interesses daquele que a provoca ou resulta do entrechoque de interesses conflitantes entre as nações envolvidas. Em todos os casos, a iniciar-se a conflagração, a primeira vítima é a verdade. Sob condições de guerra, caem por terra os limites morais sendo estes substituídos pelo imperativo da vitória, ainda que a roupagem assumida pelos adversarios seja aquela da justeza moral.

A demonização do inimigo, de parte a parte, leva o conflito às últimas consequências, deixando o derrotado submerso em escombros e miséria. A guerra total, fruto da tecnologia gerada na primeira Guerra Mundial,  expandiu-se muito além do campo de batalha, ao qual o passado limitava, transformando em objetivos lícitos todo o território inimigo. Com ela apareceram as principais vítimas, a população civil e o colapso da guerra moral.

Alepo, Gaza, Varsóvia, Dresden, Hiroshima, todas espelham os atos e  espalham a culpa.

Como prelúdio à guerra surge a propaganda, a moldagem da opinião pública contra o pretenso inimigo. Ainda, a tecnologia multiplica a capacidade e capilaridade dos eflúvios sobre os quais constrói-se a  base de apoio popular que valide o casus belli. O passado nos oferece  exemplos onde a manipulação da mídia leva à guerra, esta insuflada por interesses expansionistas tal como o yellow journalism que precedeu o conflito entre os Estados Unidos e a Espanha. Cumprindo o enredo geopolítico,  os Estados Unidos ocuparam as Filipinas, assim estendendo ao Pacífico remoto a primeira trincheira protetora de sua costa Oeste continental.

O atual momento parece encaminhar-se em semelhante direção. Preocupa a  pletora de notícias acusando determinado beligerante de todos os pecados quando estes em pouco se diferenciam d’aqueles por todos praticados nas areias e montanhas  do Oriente Médio. Excluindo-se a ubíqua barbárie cometida pelo terrorismo,  nesta guerra não parece existir crime praticado por um lado que não tenha sido replicado pelo outro.

Com a aproximação das eleições, tudo indica que Hillary Clinton ascenda à presidência dos Estados Unidos da América.  É de esperar-se que sua robusta retórica pré eleitoral, não leve à fricções e tensões que comprometam a conciliação dos interesses das duas principais potencias engajadas no conflito. Sem tal acerto, dificilmente chagar-se-á a bom termo.


*Vide a França em busca de recuperação das províncias da Alsácia e Lorena na Grande Guerra.

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