terça-feira, 1 de novembro de 2016

Eleições e ilações


Ao encerrar-se o período eleitoral constata-se o efeito da revolução política que tomou conta do país. Em outros países tais mudanças decorrem, habitualmente, de medidas virtuosas, tanto no campo econômico quanto no político. O surgimento de novos líderes como Charles de Gaulle na França, Konrad Adenauer na Alemanha, Margaret Thatcher na Grã Bretanha e Ronald Reagan nos Estados Unidos, serviu de catalisador de energias adormecidas e gerador  de novos conceitos  ajustados à necessidade da época. 

Inegável  sucesso acompanhou os novos caminhos por eles vislumbrados. Cumpriram a missão de impulsionar seus países de forma a dar-lhes maior substância e riqueza, até que os ventos do tempo trouxeram novas circunstâncias, novas ideias, novos objetivos e novos líderes.

No Brasil o caminho percorrido foi de outro teor. Depois de exaurida a etapa militar, onde os notáveis benefícios econômicos foram contaminados pela truculência de sua continuidade, seguiu-se a emergência de uma nova etapa democrática. A sede de liberdade decorrente da aridez das baionetas trouxe consigo  o germe libertário, levando o ímpeto democrático à rejeição do bom e do mal passado, impondo uma tabula rasa alimentada pela vingança subjacente.

A classe política, protegida contra restrições denunciadas como autoritárias, vicejou com tímido balizamento moral e administrativo, somente o governo Cardoso escapando à regra. Os novos antigos líderes apossaram-se do poder pelo caminho mais fácil, aquele da demagogia, onde a dádiva imediata ao povo do povo retirava o bem estar futuro. A venda do amanhã pelo gozo do presente norteou a nova doutrina de poder, desrespeitando, com poucas exceções, os interesses permanentes da nação.

E assim, paulatina e inexoravelmente chegou-se à condição inevitável onde o Estado,  assaltado e subjugado pela falsa  promessa do Eldorado, na verdade tornou-se prisioneiro de uma celeris societas cujo objetivo era sua perpetuação. 

O plano, tido por perfeito, engendrado pelo Partido dos Trabalhadores, fracassou. Perdeu-se o projeto por desconhecer o homem, por considerá-lo invariavelmente corruptível. Escolhido pela conspirata, Joaquim Barbosa, homem negro, estigmatizado,  deu o primeiro grande passo; abriu as comportas da indignação pública, trazendo sob vara os primeiros poderosos a serem condenados no país. Um outro, Sergio Moro, destemido “juizeco” do interior, desvendou os subterrâneos  que interligavam corruptores e corruptos.   Dois homens, apenas dois, cada qual no seu domínio, ligados pela coincidência e pelo caráter, empreenderam a maior revolução vista no país.

Chega-se ao epílogo desta pequena estória, por conta das eleições municipais recém encerradas. O protagonista neste pleito não foi este ou aquele político, mas, sim, o povo. Foi este povo, enganado e decepcionado,  que rejeitou os falsos profetas. O passeio dos milhões, coberturas e mansões, não lhe deu emprego nem saciou-lhe  a fome. Bem claro ficou, o rei petista e seu séquito  estavam nus. E cruel foi o preço pago. O Partido dos trabalhadores tornou-se um espectro, um fantasma.

Surge o grande desafio, que fazer com tal vitória? Como evitar o surgimento de novo messias com a promessa vazia do cesto da abundância? Quais serão os novos líderes, guiados por práticas e princípios, capazes de equilibrar as imposições do realismo econômico com as exigências do compartilhamento social. Sem tranquilidade social não haverá prosperidade nem tranquilidade sem prosperidade.

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