domingo, 30 de julho de 2017

O país do futuro...do subjuntivo

Este artigo é mais uma colaboração do Dr. Joaquim Francisco de Carvalho, ilustre professor e cientista especializado em energia nuclear.


O Brasil tem grandes extensões de terras férteis e um clima muito favorável para a agricultura. Suas reservas de minérios de valor estratégico são das maiores do planeta e as fontes renováveis de energia colocam o país em posição de vantagem, em relação a países de escala comparável. A indústria brasileira é diversificada e integrada e o país tem estabelecimentos industriais detentores do certificado de qualidade ISO 9000 em maior número do que a Argentina, Uruguai e Chile, somados.

Em 2.016, o produto interno bruto, a preços de mercado, foi estimado pelo IBGE em cerca 6,266 trilhões de reais (1,8 trilhões de dólares), o que situava a economia brasileira entre as 8 maiores do mundo.

No entanto, em seu relatório sobre o desenvolvimento humano publicado em 2.016, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) colocou o Brasil na 75ª posição, numa lista de 188 países classificados em função do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Nessa lista, o Brasil fica em posição inferior à de países como o Siri Lanka, Cuba, Costa Rica e Malásia. Para chegar à classificação pelo IDH, o PNUD atribui importância secundária a esse indicador puramente quantitativo que é o PIB, para avaliar o bem-estar e o desenvolvimento das populações em função do acesso à educação, assistência médica, alimentação, saneamento, habitação, enfim, a tudo o que se reflita na qualidade de vida dos indivíduos e da coletividade. Um país realmente rico não é apenas aquele que gera um grande PIB, mas aquele que investe racionalmente no campo social e distribui equilibradamente entre a população, a riqueza criada.

Apesar da riqueza natural disponível, a qualidade de vida da maioria da população brasileira é degradante. Apenas os poucos que pertencem às classes de renda A e B têm as mínimas possibilidades de assumir sua condição humana e participar do mercado.

A origem desse paradoxo está, certamente, na ignorância, na imprevidência e na insensatez com que os governantes decidem sobre assuntos básicos, pensando só em seus interesses provincianos (quando não pessoais) – sem analisar os possíveis impactos intersetoriais de suas decisões, no médio e no longo prazo. Em outras palavras, o Brasil é governado de improviso e administrado por políticos ignaros e corruptos, incapazes de definir estratégias inteligentes, para atingir objetivos realistas, compatíveis com as potencialidades do país.

Um dos reflexos disto é que, apesar de ter a oitava economia do mundo, o Brasil está na 29ª posição, num ranking elaborado pela University of Southern California, referente à influência dos países no cenário internacional.

Outro reflexo é que, desde meados dos anos 1.980, vem-se instalando no Brasil um regime caracterizado por Estado fraco e corrupto, com forte presença do crime organizado na vida econômica e em setores estratégicos da administração pública, semelhante ao anarco-capitalismo que acabou por se implantar nas antigas repúblicas soviéticas, depois da queda das ditaduras comunistas (Gray, J., “False Dawn: The Delusion of Global Capitalism” – New Press – N.Y. – 1.998).

* * *
Não sejamos ingênuos a ponto de pensar que a corrupção brasileira só começou no governo do presidente Kubistchek, com a construção de Brasília. Na verdade, o mal tem origem na colônia. Mas a grande escalada veio com o presidente Sarney e sua famiglia, principalmente no assalto ao sistema elétrico. Seguiu-se o mordaz FHC, permitindo que se cometesse o imperdoável erro estratégico de privatizar grandes hidrelétricas – e, pior, já amortizadas e na bacia das almas.

Porém é inegável que foi nos governos Lula, Dilma e Temer que se instalou o primado dos ladrões, institucionalizou-se a corrupção e consolidou-se a “cleptocracia”, ou corrupção como forma de governo.

Por força da sede de dinheiro e da perversão das relações entre ministros, congressistas, diretores de estatais e empresários sem escrúpulos, empresas estratégicas e riquíssimas, como a Petrobrás e a Eletrobrás, foram esburgadas pelos cleptocratas. Muitos ex-diretores e ex-gerentes dessas estatais enriqueceram em seus cargos e estão soltos por aí.
Há também os ex-sindicalistas, que preferem ficar na politiquinha com p pequeno, tentando vagas no Congresso ou em algum ministério “interessante”.

Foi um pulha desses, hoje deputado pelo PT-SP, que teve a desfaçatez de apresentar na semana passada um projeto de lei que aumenta de 15 dias para 8 meses o prazo em que os candidatos às eleições de 2018 não podem ser presos. Não foi à-toa que tal embuste recebeu o epíteto de “Emenda-Lula”. O autor dessa tramoia tem o cognome de Cândido, mas de cândido (no sentido de claro e limpo) ele não tem nada! Ao abrir o jornal, ver a sua fotografia e ler que ele defende a liberação dos cassinos e é “Cartola” da CBF do notório Marco Polo Del Nero, pensei que tinha entrado na página policial.
Esses velhacos não sabem o que vem a ser o múnus público ou a missão de um governo digno desse nome. Eles ignoram que, por culpa deles, o Brasil vive uma tragédia social, com episódios de guerrilha urbana cada vez mais frequentes e violentos.

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O presidente Temer, com o seu gestual de mordomo de Tietê e sua astúcia para comprar deputados, elevou a corrupção aos pícaros da indignidade. Sem prever isto, no começo deste ano o ex-presidente FHC declarou que ele ainda poderia atravessar o seu curto mandato sobre uma pinguela, a pés enxutos. Aí vieram os irmãos Batista e dinamitaram a pinguela, deixando a esse grotesco presidente – e a seus ministros – apenas a opção de atravessar os próximos meses sobre as alpondras, a pés molhados. Isto se tiverem a sorte de não afundar antes...

* * *

Ao escrever estas linhas veio-me à memória a comédia Volpone, de Ben Johnson, poeta e dramaturgo inglês contemporâneo de Shakespeare. Para a Inglaterra elisabetana, Veneza era uma espécie de cloaca da Europa, para onde escoavam todos os maus costumes, a corrupção e os vícios. Volpone era um patrício veneziano que, para explorar a ganância de seus soit-disant amigos, se fez passar por moribundo prestes a escrever testamento. Combinou então com o seu criado, Mosca, um fannullone com jeito de Arlequim, que a notícia fosse espalhada aos quatro ventos. Na esperança de figurar entre os herdeiros, os mais ambiciosos afluíram com ricos presentes e até com dinheiro. A manigância foi logo desmascarada; Mosca enganou a todos, embolsou o dinheiro e deixou Volpone a ver navios. Lá pelos anos 1.920 a comédia foi adaptada por Jules Romains e Stefan Zweig, mantendo o espírito da época. Depois, Maurice Tourneur fez dela um filme (com Louis Jouvet no papel de Mosca) que até o final dos anos 1.950 ainda podia ser visto num daqueles cineminhas charmosos que havia no Quartier Latin.

* * *

Tal como a Veneza de Volpone, o Brasil de hoje – em especial Brasília – é uma alegoria da corrupção e da decadência, com a diferença que, com a Lava Jato, quase todos os políticos e empresários gananciosos passaram a desempenhar, ao mesmo tempo, os papéis de Volpone e de Mosca. Eles desfalcam o erário e roubam os dinheiros públicos, depois delatam-se uns aos outros, são premiados e o povo assiste a tudo passivamente.

E assim caminha o Brasil, sempre no futuro do subjuntivo: Quando acabar a corrupção, o país poderá desenvolver-se e os brasileiros sairão da miséria...

quinta-feira, 27 de julho de 2017

A Pátria envenenada

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Este início de semestre revela quão aguda é a crise que assola a Pátria (1). É uma crise multi-facetada, composta, tanto na sua extensão quanto na sua profundidade, por fatos e atos que, quando unidos, evidenciam o perigo que ora corre a República.

Na verdade, e aí não vai exagero, a imoralidade se apossou de duas das treis instituições que comandam a nação: o Executivo e o Legislativo. A fragilidade moral destas duas instituições decorre, substancialmente, do processo político implantado no país.

Mais de trinta partidos se digladiam por ocasião das eleições, cada qual apresentando candidatos absolutamente desconhecidos da esmagadora maioria do eleitorado. Tais partidos, grandes ou pequenos, subordinam qualquer arremedo de plataforma ao imperativo de manter-se no poder, custe o que custar. Às favas, as juras e promessas. Ainda, ao sabor dos ventos do interesse próprio, os eleitos saltitam de partido em partido, desprovidos de qualquer lealdade para com seu eleitor.

Capturado o assento legislativo, vale-se deste poder para preencher e adicionar desavergonhadamente, cargos e empregos sob seu domínio, estendendo infindável rede de apadrinhamento. Aquilo que deveria ser uma assessoria competente, capaz de desvendar melhores caminhos para a administração pública, transforma-se em moeda de troca para galgar mais um degrau, mais uma ascensão.

Acresce que, impulsionados por gastos bilionários e financiamentos impagáveis, os candidatos vendem seus votos em prol deste ou daquele interesse como compensação das cornucópias sobre eles derramadas por empresários corruptos.

Todo este processo se cumpre sem que seja o eleito responsável perante seu eleitor ao longo de seu mandato. O distanciamento que ora existe entre ambos faz com que somente a propaganda milionária crie o amalgama que os aproxima. O sistema eleitoral proporcional e por listagem facilita esta clivagem ao restringir à panfletagem e à ubiquidade televisiva o retrato, não raro mitômano, do aspirante ao Congresso. Resulta a fraude representativa, a conspurcação democrática.

Urge uma profunda revisão do processo eleitoral brasileiro. Não faltam exemplos dentre os países civicamente  desenvolvidos do planeta, para que se possa aperfeiçoar a estrutura politica nacional.

Serão muitas as medidas recomendáveis ao seu aperfeiçoamento; dentre elas seguem algumas:
  • O voto distrital ou misto aproxima o político de seu eleitor.
  • O “recall” do político permite ao eleitor uma avaliação próxima pela potencial destituição.
  • Mandatos mais curtos, tanto na Câmara como no Senado, acentuam a fiscalização do eleito.
  • Um único mandato presidencial reduz os malefícios causados pela tentativa de re-eleição.
  • Financiamento eleitoral restrito à pessoas físicas, em valor reduzido (“crowd funding”), reduziria o “toma lá dá cá” que decorre da contribuição empresarial.
  • Proibição de financiamento de campanha por empresas, responsável por conflitos de interesse.
  • Proibição de mudança de legenda, obrigando o político a respeitar o mandato recebido.
  • Anular direito à Foro Privilegiado para políticos em cargos eletivos, livrando-os da temporária impunidade que estimula o ato criminoso.
  • Manter, a todo custo, o encarceramento após confirmação da sentença na segunda instância.
Os cidadãos e as instituições têm pela frente a hercúlea tarefa de reorganizar o país, afim de estancar a progressão atual das forças que aviltam a sua democracia. A continuar no atual rumo, o Brasil parece condenado à decadência sem ter atingido o apogeu que merece.

1. Termo em desuso, destinado ao esquecimento

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Brexit e os "Royals"


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Presidente Andrjez Duda e Prince William

O embate já começou. Deu-se o início às negociações do Brexit, que visam estabelecer as condições do divórcio entre uma ilha e um continente há bem pouco entrelaçados em juras de amor eterno. Pouco a pouco, as luvas de pelica usadas nas negociações diplomáticas são substituídas por outras menos suaves. De fato, observadores mais aguçados identificam itens cortantes e perfurantes dissimulados tantos nos gloves como nos gants.

Do um lado tem-se o experimentado negociador Michel Barnier que defenderá os interesses da União Europeia neste distrato, onde cada uma das partes pretende não só defender seus interesses mas, se de todo possível, atropelar os interesses do contrincante. Do lado britânico têm-se conhecida raposa do partido Conservador, o eurocético David Davis. Representa ele a mais poderos arma do arsenal diplomático internacional,.o gentleman inglês. É capaz de, não só desnudar seu interlocutor de todas suas pretensões mas, ainda, receber efusivos agradecimentos da vítima.

A contenda parece desequilibrada do ponto de vista econômico. Enquanto o lado Europeu abrange as economias de 27 países, onde seu PIB atinge 12.4 trilhões de dólares já o Reino Unido mal chega aos 2.3 trilhões de dólares. Igualmente relevante, enquanto 40% das exportações britânicas destinam-se à UE, as exportações europeas para a Grã Bretanha representam não mais do que 14% do seu total. Estes dados refletem a relevante vantagem negocial para o Continente em sua disputa por melhores condições de separação.

Já no terreno politico, os britânicos têm a importante vantagem ao contar com um governo uno, capaz de decisões autônomas e rápidas quando das negociações. Se no campo Britânico existe desavença entre o que pretende a Escócia, contrária ao Brexit, e os objetivos separatistas da Inglaterra, é bem verdade que o parlamento inglês é soberano na execução do divórcio. Edinburgh não tem o suficiente poder para descarrilar as intenções de Londres.

Já no caso da UE, a paisagem é bem diferente. Se o núcleo duro, liderado pela Alemanha, compondo o que seria a Europa Ocidental, vê fortes vantagens em endurecer as negociações, assim desestimulando possíveis defecções futuras, à  Leste a mesma visão não parece tão nítida.

No momento, algumas capitais do leste europeu distanciam-se da cartilha de Bruxelas, especialmente no que se refere à conceitos fundamentais de direitos humanos e democráticos. Tanto a Polônia quanto a Hungria parecem reverter na direção do autoritarismo político e da exclusão de etnias externas, assim distanciando-se do modelo Ocidental.

Tais dificuldades não escapam à atenção de Whitehall. Vislumbrando uma falha na armadura européia, poderia, assim, explorar desavenças, fracionando o campo adversário? Em tal ambiente, sería surpreendente a oferta de estímulos de forma a fragilizar o consenso europeu e beneficiar a posição negocial britânica?

Tendo em vista este quadro, ainda longe de consolidação, vale perguntar-se o que foi fazer em Varsóvia o Principe Real, William, e sua linda princesa? Prestar homenagem à antigos campos de concentração ou entregar ao presidente polonês uma mensagem ultra confidencial (que não poderia transitar pelos canais digitais de comunicação)? Que outras visitas “desinteressadas” estarão sendo urdidas por Westminister e Buckingham?


segunda-feira, 17 de julho de 2017

Previsões e alianças


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No artigo publicado neste Blog em 16 de junho p.p. intitulado "Trump nas Arábias", levanta-se a improvável hipótese de cooperação entre Israel e a Arábia Saudita. Apesar de nada existir tão afastado quanto o Judaismo do Wahabismo, a história mostra que os interesses nacionais suplantam as crenças religiosas. Segue o texto:


"Por absurdo que possa hoje parecer, a agravar-se o contencioso não seria impensável ver-se, num futuro próximo, uma aliança tácita, senão explicita, entre Israel e a Arábia Saudita, dentro do princípio semita de que inimigo de meu inimigo meu amigo é. A permissão de Riad ao sobrevoo de aviões israelenses abriria as portas a arrasador ataque aéreo às instalações militares no Irã, relegando à longínquo futuro qualquer projeto nuclear porventura projetado por Teerã. Difícil medir-se a extensão das mútuas retaliações ao deflagar-se tal incêndio."


A seguir, relevante torna-se a noticia hoje publicada no New Yok Times:

"... reports have surfaced about clandestine meetings between Israeli intelligence chiefs and their Gulf counterparts. Meir Dagan, the former Mossad chief, allegedly traveled to Saudi Arabia in 2010 for secret talks about Iran’s nuclear program. Public encounters with retired Saudi Arabian officials are now commonplace, whether in Washington, Munich or even Jerusalem. Business ties are growing, too, including the sale of Israeli agriculture but also cyber, intelligence and homeland security technology to the Gulf (usually through third parties)."

domingo, 16 de julho de 2017

Trump e o labirinto

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As guerras parecem acontecer ininterruptamente no Oriente Médio. Porém, durante alguns séculos reinou a paz naquelas paragens quando sob o domínio do Império Otomano. Lá prevalecia a religião Muçulmana e a espada Turca. Suas guerras eram contra o mundo europeu e Cristão. Com a derrocada do domínio Turco pelos Britânicos e Franceses ao término da primeira Grande Guerra, uma nova e estável conformação geo-política emergiu. Esta, construída pelos novos dominadores e por uma Turquia contida em suas fronteiras, prevaleceu até 1948.

A partir de 14 de maio daquele ano, com a instalação do Estado de Israel, o Oriente Médio arribou o germe da instabilidade. O equilíbrio foi rompido. Seguiram-se as guerras que permitiram a expansão do estado Judeu e a correspondente alienação da maioria dos países Árabes para com o Ocidente, este aliado à nova nação. A inclusão da União Soviética no conflito regional, aliada às nações Árabes, acentuou, mais ainda, o distanciamento entre as duas culturas, a Judeu-Cristã e a Muçulmana.

Ao estruturado terrorismo israelense (1), iniciado nos anos que antecedem sua independência, segue-se o organizado e perene terrorismo árabe, até então, insignificante e episódico. Este último preenche o vácuo ampliado pelas suas derrotas militares; busca a revanche na guerra assimétrica contra o inimigo, seja ele militar ou civil.

Já, a guerra de George W Bush contra o Iraque de Saddam Hussein deu-lhe novo impulso, transformando o que era localizado em voraz câncer sob metástase. O que erá um movimento terrorista contido na Palestina/Israel e na Arábia Saudita/Afeganistão (2) hoje declara-se universal, atingindo o âmago das grandes potências.

Não obstante a experiência passada, Washington não parece dar à complexidade que rege aquele teatro de operações suficiente importância. Sua preferência na solução dos problemas caminha na direção da simplificação dos fatores. Contudo, a intricada relação entre as etnias que lá povoam a região, bem como os ódios milenares que as acompanham, tornam duvidosa, quando não opaca, a compreensão dos conflitantes interesses e como com eles lidar. Naquelas paragens, o implícito prevalece sobre o explícito.

No momento, regojiza-se da iminente derrota do Estado Islâmico. Porém, pouca atenção parece ser dada por Washington ao perigo de sua aliança com a “nação “ Curda (3). Esta aliança, nascida quando da guerra contra Saddam Hussein estende-se aos combates contra o Estado Islâmico, onde tropas americanas lutam ao lado dos Peshmergas (4) . Simultaneamente, vem ela transformando-se em estímulo à uma quase-independência desta etnia, inquietando o Iraque, a Síria e a Turquia. Dificilmente, estes países concordarão com tais pretensões de autonomia.

A decisão do governo Trump de intensificar a distribuição de armas modernas para seus recém aliados, há séculos em busca de independência e em contínua rebelião contra os governos centrais, promete acentuar a desestabilização da região, tendo por subproduto o aumento do terrorismo.


  1. Irgun e Stern, organizações terroristas Israelenses no período pré-independência.
  2. O ataque às torres se Nova York e às embaixadas norte-americanas na África tiveram a questão Palestina e a blasfêmica presença de tropas norte-americanas em solo Saudita como motivo alegado por Osama Bin Laden.
  3. Os Curdos habitam também, além do Iraque, a Turquia e a Síria, o Irã. Neste último onde não houve ingerência norte-americana.
  4. Força paramilitar Curda.

domingo, 9 de julho de 2017

Winners and losers


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O primeiro encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, vem sendo coberto pela imprensa internacional (sempre sob influência dos jornais norte-americanos) como se fora um “round” de box. Quem foi o vencedor? Tal colocação decorre do dominante espírito competitivo da cultura norte-americana, onde sempre deve haver um vitorioso. A tal ponto que a qualidade do cidadão não raro é determinada pela expressão “winners” e “losers”. Que dirá nos embates internacionais.

Assim contaminadas, as mais diversas instituições norte-americanas gravitam em torno destes dois extremos, dentre elas as instituições culturais como a imprensa, o cinema e a literatura. Nestes o herói americano é sempre presente, ou seja o grande Vencedor, seja ele vivo ou morto. Homem Aranha, Superman, Batman; nenhum país produz tão extenso contingente de vencedores, de heróis.

Nesta ânsia de sobressair, de garantir ser o “winner” perante a platéia das nações, foi inventada a “tough diplomacy”, na realidade um oxímoro, coisa só vista naquelas paragens. Se é “dura” não é diplomática, uma vez que esta tende a buscar todas as avenidas para “amaciar” o interlocutor e levá-lo a fazer o que é desejado. Sem dúvida as vantagens relativas são e devem ser exploradas: uma dificuldade nas importações, o acesso a determinado mercado, uma redução de colaboração financeira, uma dificuldade na venda de armamento, etc... Porém, de alguma forma, benefícios devem ser compartilhados ainda que os pratos da balança não se igualem. Permitir que salve a face.  Já, ao recorrer à “toughness” ou à explicitação de ameaças, o exercício deixa de ser diplomático para ser mais uma forma explícita de coação, que, longe de fomentar uma aliança de propósitos sugere uma hostilidade para contabilização futura.

Ainda, recorrer à tática impositiva no diálogo com certos países de longa história de independência política e cultural, considerável poder bélico e geo político, e condição de sobrevivência econômica seria, como bem disse Talleyrand “pire qu'un crime,c'est une faute”. E, por um erro, todos pagam. Neste sentido, o trato da questão Cubana revela quão ineficaz pode ser o processo impositivo.

Voltamos, pois, à pergunta insistente: quem ganhou o embate? Trump ou Putin? A ler a imprensa internacional, a notícia parece boa.. Ambos declaram-se satisfeitos. Superando expectativas ao contemplar-se o Americano Instável e o Ogre Russo, ambos parecem ter seus interesses mútuos atendidos, assim, quem sabe,  caminhando para a “détente”. Seria o início de uma Diplomacy (sem o tough)?



quinta-feira, 6 de julho de 2017

Diplomacia ou bombas?


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Com era de se esperar, a escolha da melhor solução para o contencioso Estados Unidos-Coréia do Norte se aproxima de solução bélica. O nível de alerta já se torna vermelho, na medida que o desenvolvimento de míssil intercontinental de Pyongyang chega à sua maturidade ao ameaçar o território norte-americano.

Para proteger-se de retaliação norte-americana, Kim Joun-un, o líder norte-coreano, ameaça dirigir seus mísseis e artilharia, não contra os Estados Unidos, mas sim contra seu aliado, a Coréia do Sul. Esta torna-se refém involuntária neste provável conflito.

Em jogada diabólica neste intrincado xadrez Pyongyang ignora as mensagens pácificadoras de Moon Jae-in, presidente da Corea doSul, assim transformando seu vizinho em surpreendente peça na sua partida contra a América do Norte.

Por sua vez, Washington tem a opção de buscar uma solução pelos canais diplomáticos, ou, conforme ocorrido no passado, optar por uma ação militar profilática, destruindo tanto os foguetes nucleares quanto a estrutura militar do atrevido norte-coreano. Ao optar pela via bélica, Washington estará apostando que sua ação neutralize a tempo a capacidade do adversário de cumprir suas ameaças. Será uma decisão de alto risco.

Ainda, pesará na balança a reação da China e da Rússia, ambos limítrofes da Coréia do Norte. Caso os Estados Unidos limitem-se à uma ação militar cirúrgica, a reação das duas potências provavelmente será contida. O mesmo não se aplicaria caso Donald Trump pretenda provocar alteração do regime político de Pyongyang; provávelmente, as reações de Xi Jinping e de Vladimir Putin serão tão forte quanto necessárias para impedi-lo.

A preferir Washington a alternativa diplomática, esta teria o apoio da comunidade internacional, avessa a guerras preventivas de desdobramento incerto, sobretudo nas fronteiras de duas super-potências. Para tal deve-se levar em conta a história recente, e os interesses dos interlocutores. O passado revela a “personalidade” agressiva da Coreia do Norte, pois nela recai a responsabilidade pela invasão de seu vizinho ao Sul em 1950. Após conquistar grande parte da peninsula coreana, suas tropas foram rechaçadas pelos exércitos das Nações Unidas sob o comando norte-americano. Finalmente, foi celebrado o armistício em 1953. Contudo, o Estado de Guerra ainda prevalece, não tendo sido concluído tratado de Paz. Trata-se portanto, de situação inerentemente instável.

Se não provável, é possível que o governo Jung-un abandone sua posição bélica em troca de garantia de uma paz duradoura entre as partes e respeito declarado à integridade territorial da região. É verdade que a irascível e imprevisível personalidade deste ditador-presidente torne qualquer diálogo um desafio inalcançável. Infelizmente, do outro lado da mesa senta-se outro presidente, irascível e imprevisível.





sábado, 1 de julho de 2017

Quo vadis, Brasil


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O Brasil chega num impasse. A partir da longa deterioração trazido pelos governos do Partido dos Trabalhadores chegamos ao nadir da história deste país. A atual Presidência, parida nas contorções da baixa política, tendo o Congresso por contaminada parteira, encontra-se em frangalhos. Até mesmo o Supremo Tribunal Federal mostra-se maculado por gente que lá não deveria estar.

A generalizada conjunção da ânsia pelo poder e a inexistência de parâmetros morais gerou a aliança ora dominante da Política com a Corrupção. Não há canto que se explore e gaveta que se abra onde não surja os vermes que corroem o espírito público, argamassa essencial à construção de uma grande nação.

Como nos casos das grandes pragas, somente extensa e intensa profilaxia pode oferecer a cura. Torna-se necessária algo que se aproxime de uma “tabula rasa”. No cerne do problema está a formula política que hoje rege o caótico procedimento eleitoral, onde o eleitor está distanciado do eleito.

O voto universal (analfabetos e crianças sub 20) e obrigatório vem se tornando anti-democrático. A experiência revela que, ao incluir grande número de eleitores desinteressados e desinformados, favorece-se a manipulação, redundando no voto venal ou irresponsável. Reduz-se a qualidade média do voto, ao misturar o voto consciente, voluntário e politicamente engajado com o voto obrigatório, desinformado e descompromissado.

Ainda, a distância que hoje separa o eleitor do candidato anula a necessária responsabilização pessoal (accountability) do eleito. A inexistência do voto Distrital, onde o eleitor conhece o candidato, tem por consequência a diluição da responsabilização do político, hoje figura distante e desconhecida daquele que o elegeu. Torna-se um retrato, um número, blindado pela distância que o separa do eleitorado..

O financiamento eleitoral por empresas, sindicatos e outras instituições tem se revelado incontida fonte de corrupção. A enxurrada de dinheiro derramado nos meios de comunicação termina por esconder quem é, verdadeiramente, o candidato. Assume ele uma “persona” artificial. Um ser confeccionado por marketeiros insuflados pela monetização do processo eleitoral. Ainda, o financiamento institucional e identificável (em oposição ao financiamento popular de efeito anônimo)gera o “quid pro quo”, injetando no processo a barganha financeira a completar-se uma vez o político eleito.

A evidência parece condenar o atual sistema de propaganda televisiva, onde partidos nanicos são criados com o fito de negociar sua quota com o partido que melhor oferta fará. Por resultado tem-se uma proliferação tumultuosa onde a primazia da plataforma conceitual de sua missão política subordina-se à vantagens financeiras.

No mesmo sentido, a troca de partido traduz-se por estelionato eleitoral, pois prometeu o eleito o que deixa de cumprir, invalidando assim o mandato que lhe foi conferido.

Estes, e muitos outros aspectos de nossa realidade política merecem profunda revisão. A perdurar a anomia que hoje caracteriza a carcomida vida pública da Nação, o caminho prometido parece abissal.