segunda-feira, 3 de abril de 2017

Trump e um novo mundo


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Já com mais de dois meses no governo, Donald Trump parece confirmar as expectativas. Sua ignorância em matéria de política externa vem contaminando suas escolhas e decisões no comando deste setor, crucial para a estabilidade internacional. De suas decisões ter-se-á, ou não, tranquilidade e prosperidade nas nações que compõem o mundo.

Vale lembrar a visão norte-americana sobre sua missão e status no planeta. Desde o final da Segunda Guerra Mundial tem o país assumido a liderança de boa parte do mundo, concluindo, com acerto, que, para a sua segurança, é prioritária a proliferação de Estados democráticos e capitalistas (aceitando como tal a social-democracia). Tais estados tornar-se-iam, necessariamente, seus aliados face à ameaça comunista, expansionista e totalitária. Neste contexto, os Estados Unidos proveriam a segurança militar e, mediante a natural atração de sua grande massa econômica aliada à emissão isolada de moeda reserva internacional, asseguraria sua condição de polo determinante da atividade política e economica no mundo dito livre*.

Porém, com a queda da União Soviética, ruiu também o simplismo maniqueista. Impulsionado pela revolução da informática, a informação sobre tudo e todos amplia-se, iluminando os mais escuros corredores do outrora secreto. Adveio não tão somente a globalização comercial e financeira, mas àquela do conhecimento e da informação. O nascimento das redes sociais democratizaram o acesso e a divulgação das opiniões e crenças, derrubando mitos, contradizendo afirmações, revelando manobras.

E de bipolar o mundo tornou-se multipolar. A consolidação da União Européia, a emergência da China e o re-equilíbrio da nova Rússia levaram à criação de novos polos de atração reduzindo, pela sua diversidade, a intensidade da preponderância, antes inconteste, dos Estados Unidos.

Face à nova realidade internacional o novo presidente parece revelar uma visão simplista e ultrapassada, de um Estados Unidos omnipotente. Torna suas obrigações e compromissos para com a comunidade das nações como se mera negociação comercial fosse. Não se dá conta que ao levar à mesa de negociação a exclusiva prioridade de seus interesses abre mão, simetricamente, de seu poder de liderança onde o respeito aos interesses dos comandados e o equilíbrio resultante são essenciais. Ignora que, na medida que imponha seus próprios interesses sobre àqueles outrora mútuos, seus parceiros passam a sofrer crescente atração pelos polos concorrentes, tais com a União Européia e sua esfera de influência, a Rússia no seu entorno e a China no continente asiático.

Trump parece menosprezar, ainda, quão necessário será a colaboração internacional para a contenção e derrota do maior desafio que o país enfrenta, desafio que adentra pela primeira vez suas fronteiras: o Terrorismo, seja ele estruturado, seja individual. Sem a leal colaboração dos serviços de inteligência internacionais, tão mais difícil será atingir-se o objetivo. E para que haja lealdade entre nações, é necessário que haja, na base, convergência de propósitos e interesses. Quanto mais confrontacional for a política do “America First” tanto menor será o potencial de convergência e efetiva colaboração.

O atual cenário internacional é extremamente complexo, sobretudo devido a multiplicidade de atores relevantes. No cenário militar, são inúmeros os pontos de tensão com potencial de conflagração como as fronteiras da Rússia, o Mar da China, o golfo Pérsico, a Coréia do Norte. Já, as áreas de efetiva beligerância no Oriente Médio e vários pontos da Africa não prometem pacificação a prazo médio.

A prosseguir o atual governo norte-americano no atual rumo de sua politica internacional pari passu com a penúria dos quadros que a dirigem, razoável prever-se tempos difíceis. 

* Muitas ditaduras, caudatárias dos Estados Unidos, fazem parte desta congregação.


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