Já com mais de dois meses no governo, Donald Trump parece confirmar as expectativas. Sua ignorância em matéria de política externa vem contaminando suas escolhas e decisões no comando deste setor, crucial para a estabilidade internacional. De suas decisões ter-se-á, ou não, tranquilidade e prosperidade nas nações que compõem o mundo.
Vale
lembrar a visão norte-americana sobre sua missão e status no
planeta. Desde o final da Segunda Guerra Mundial tem
o país assumido a liderança
de boa parte do mundo, concluindo, com
acerto, que, para a sua segurança, é
prioritária a proliferação de Estados
democráticos e capitalistas (aceitando como tal a
social-democracia).
Tais estados tornar-se-iam, necessariamente, seus aliados face à
ameaça comunista, expansionista
e totalitária. Neste contexto, os Estados Unidos proveriam a
segurança militar e, mediante a natural atração de sua grande
massa econômica aliada à emissão
isolada de moeda reserva internacional,
asseguraria sua condição de polo determinante
da atividade política e economica no mundo
dito livre*.
Porém,
com a queda da União Soviética, ruiu também o simplismo
maniqueista. Impulsionado pela revolução da informática, a
informação sobre tudo e todos amplia-se, iluminando os mais escuros
corredores do outrora secreto. Adveio não tão somente a
globalização comercial e financeira, mas àquela do conhecimento e
da informação. O nascimento das redes sociais democratizaram o
acesso e a divulgação das opiniões e crenças, derrubando mitos,
contradizendo afirmações, revelando manobras.
E de
bipolar o mundo tornou-se multipolar. A consolidação da União
Européia, a emergência da China e o re-equilíbrio da nova Rússia
levaram à criação de novos polos de atração reduzindo, pela sua
diversidade, a intensidade da preponderância, antes inconteste, dos
Estados Unidos.
Face
à nova realidade internacional o novo presidente parece revelar uma
visão simplista e ultrapassada, de um
Estados Unidos omnipotente. Torna
suas obrigações e compromissos para
com a comunidade das nações como se mera
negociação comercial fosse. Não se dá conta que ao levar à mesa
de negociação a exclusiva prioridade de seus interesses abre mão,
simetricamente, de seu poder de liderança onde o respeito aos
interesses dos comandados e o equilíbrio resultante são essenciais.
Ignora que, na medida que imponha seus próprios interesses sobre
àqueles outrora mútuos, seus parceiros
passam a sofrer crescente atração pelos polos concorrentes, tais
com a União Européia e sua esfera de influência, a Rússia no seu
entorno e a China no continente asiático.
Trump
parece menosprezar, ainda, quão necessário será a colaboração
internacional para a contenção e derrota do maior desafio que o país
enfrenta, desafio que adentra pela primeira vez suas fronteiras: o
Terrorismo, seja ele estruturado, seja individual. Sem a leal
colaboração dos serviços de inteligência internacionais, tão
mais difícil será atingir-se o objetivo. E para que haja lealdade
entre nações, é necessário que haja, na base, convergência de
propósitos e interesses. Quanto mais confrontacional for a política
do “America First” tanto menor será o potencial de convergência
e efetiva colaboração.
O
atual cenário internacional é extremamente complexo, sobretudo
devido a multiplicidade de atores relevantes. No cenário militar,
são inúmeros os pontos de tensão com potencial de conflagração
como as fronteiras da Rússia, o Mar da China, o golfo Pérsico, a
Coréia do Norte. Já, as áreas de efetiva beligerância no Oriente
Médio e vários pontos da Africa não prometem pacificação a
prazo médio.
A
prosseguir o atual governo norte-americano no atual rumo de sua
politica internacional pari passu com a penúria dos quadros que a
dirigem, razoável prever-se tempos difíceis.
* Muitas
ditaduras, caudatárias dos Estados Unidos, fazem parte desta
congregação.
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