O dia vinte e quatro de
abril acordou ensolarado. Emmanuel Macron com boa vantagem sobre
Marine le Pen, ultrapassou a primeira etapa eleitoral. Seguiu-e à
vitória o apoio ao jovem político proveniente
dos dois partidos tradicionais franceses, o Socialista e os
Républicains. Tudo como se deve.
Porém nem tudo vai bem na França. Os dois partidos tradicionais e
majoritários foram varridos das urnas, revelando estar o povo
francês em procura de novas políticas, novas fórmulas. Les
Républicains (sucessor do UMP, egresso do movimento Gaulista) e o
Partido Socialista dominaram o cenário político francês desde o
término da segunda Guerra Mundial. Seu fôlego parece estar chegando
ao fim. Toda uma tradição política e, até mesmo familiar,
construída à seis décadas em torno destas duas alternativas, este
edifício partidário de sólidas fundações, viu-se derrubado por
um jovem politicamente sem eira nem beira.
É bem verdade que François Fillon e seu partido não souberam
neutralizar os ventos da desconfiança moral que atingiu o candidato.
Ao ignorar as sondagens desencorajadoras e, teimosamente, descartar a
formula provavelmente salvadora onde seria substituído pelo sólido e admirado Allain
Juppé, Fillon decretou a derrota do seu partido.
Já, François Hollande, que proclamava-se “o presidente normal”
na realidade revelou-se medíocre, indeciso. Iniciou seu governo
promovendo um choque socialista tendo por resultado uma forte estagnação econômica. Confrontado com o insucesso, procurou em
Manuel Valls, como Primeiro Ministro, e Macron como Ministro da
Economia, medidas mais ao centro do espectro político. Foram
insuficientes e tardias. Perdeu toda credibilidade junto ao
eleitorado socialista.
Como filho bastardo, por não participar do tradicional Partido
Socialista, surge Jean-Luc Mélenchon empolgando a Esquerda. Preenche
o vácuo criado por Hollande. Atinge neste primeiro turno 19,8% do
eleitorado, superando o desempenho de sua última candidatura em 56%!
Parece evidente ter sido sua colheita em cima de campos abandonados.
Para ter-se uma perspectiva do quadro político para 7 de maio alguns
dados são relevantes
- A abstenção de 22,7% no pleito preliminar foi superior à das eleições presidenciais anteriores, estimada em 20%. Resta, assim, importante “capacidade política ociosa” cuja conquista ainda é duvidosa.
- Foram essencialmente urbanos os votos concedidos à Macron, tendo le Pen a preferencia do campo e das pequenas aglomerações. A distancia eleitoral entre elas é pequena.
- Macron comanda, sobretudo o Oeste francês e o Sudoeste enquanto o Front National de Marine domina o Norte e o Sul. Em termos geográficos, a França está dividida de alto à baixo.
- Jean-Luc Mélenchon e seu Parti de Gauche poderá vislumbrar vantagens políticas ao associar-se com Marine le Pen. O mapa geográfico-eleitoral revela notável convergência, onde a fraqueza de um é compensada pela força do outro candidato. Não será a primeira vez que o radical da esquerda se une ao radical da direita para compartilhar os espólios políticos.*
- Estima-se que segmento relevante de seguidores de François Fillon, radicalmente opostos ao esquerdismo de Macron, optariam pelo apoio ao Front National.
Estas
observações recomendam uma avaliação equilibrada, e a constatação
de que, se por um lado a chance de vitória de Macron exccde à de
sua concorrente, há que se lembrar que les
jeux ne sont pas faits.
* Pacto
de não agressão entre Hitler e Stalin, tendo por espólio a
Polônia.
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