Tendo seus impulsos
emotivos como base para suas decisões internacionais, Donald Trump
acaba de reverter em 180 graus sua visão geopolítica para o
Oriente Médio. Há menos de uma semana, acabara de
declarar ser conveniente a permanência de Assad no poder como
elemento positivo para a erradicação do terrorismo na região.
Neste sentido aproximou-se da Rússia, defensora da tese já faz
tempo.
No
entanto, tomando por base sua
indignação face ao uso de gaz letal pelo governo Assad contra
cidade rebelde, vitimando adultos e crianças, o líder
americano, em 36 horas, decide retaliar
enviando cinco dezenas de mísseis
Tomahawks em direção à Síria. Teria
tido Donald Trump o tempo necessário para refletir e desdobrar as
consequências de tal ato para com seu projeto prioritário de
derrotar o terrorismo?
Teria a
retaliação atingido o objetivo desejado? Pouco provável. A
manutenção e ampliação da posição estratégica que o governo
Sírio comanda é, provavelmente, essencial para a derrota da Al
Qaeda e do Estado Islâmico. Inversamente, a queda do governo Assad,
por criar um vácuo cujo preenchimento exigiria uma convergência
hoje inexistente de forças relevantes, muito provavelmente levará o
Oriente Médio a novo ciclo de guerras tribais e fanatizadas cuja
consequência para o Ocidente seria, no mínimo, desestabilizadora.
Razoável apontar-se para o caos Líbio como o provável cenário de
uma Síria desgovernada. Não bastará simplesmente expulsar o EI de
Mosul e de Raqqua; essencial será a consolidação dos governos do
Iraque e da Síria sob um governo forte e eficaz.
Talvez a única
visão correta no campo internacional,
hoje descartada por Trump, tenha sido a arregimentação de forças
americanas, russas, e turcas, alem de
iraquianos e sírios contra o Estado Islâmico e demais grupos
terroristas que infestam a região. Hoje o
objetivo tornou-se mais distante senão impossível.
Porém,
além deste recente episódio, fica a dúvida sobre a motivação e
qualidade das decisões de tão impulsivo presidente. A substituição
de uma política externa prudente e cuidadosamente elaborada por
arroubos emotivos num mundo nuclearizado eleva, além do permissível,
o risco que paira sobre todos.
Enquanto
isso, o trágico prevalece. Vítimas da guerra, do terrorismo. tanto
na Síria como no Iraque no Iêmen. Nas ruas explodem os
fanáticos, dos céus caem as bombas. Para as crianças que morrem e
sofrem todos os dias, o martírio continua porque os adultos não
sabem como contê-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário