domingo, 9 de abril de 2017

Impulsos, emoções e política externa

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Tendo seus impulsos emotivos como base para suas decisões internacionais, Donald Trump acaba de reverter em 180 graus sua visão geopolítica para o Oriente Médio. Há menos de uma semana, acabara de declarar ser conveniente a permanência de Assad no poder como elemento positivo para a erradicação do terrorismo na região. Neste sentido aproximou-se da Rússia, defensora da tese já faz tempo.

No entanto, tomando por base sua indignação face ao uso de gaz letal pelo governo Assad contra cidade rebelde, vitimando adultos e crianças, o líder americano, em 36 horas, decide retaliar enviando cinco dezenas de mísseis Tomahawks em direção à Síria. Teria tido Donald Trump o tempo necessário para refletir e desdobrar as consequências de tal ato para com seu projeto prioritário de derrotar o terrorismo?

Teria a retaliação atingido o objetivo desejado? Pouco provável. A manutenção e ampliação da posição estratégica que o governo Sírio comanda é, provavelmente, essencial para a derrota da Al Qaeda e do Estado Islâmico. Inversamente, a queda do governo Assad, por criar um vácuo cujo preenchimento exigiria uma convergência hoje inexistente de forças relevantes, muito provavelmente levará o Oriente Médio a novo ciclo de guerras tribais e fanatizadas cuja consequência para o Ocidente seria, no mínimo, desestabilizadora. Razoável apontar-se para o caos Líbio como o provável cenário de uma Síria desgovernada. Não bastará simplesmente expulsar o EI de Mosul e de Raqqua; essencial será a consolidação dos governos do Iraque e da Síria sob um governo forte e eficaz.

Talvez a única visão correta no campo internacional, hoje descartada por Trump, tenha sido a arregimentação de forças americanas, russas, e turcas, alem de iraquianos e sírios contra o Estado Islâmico e demais grupos terroristas que infestam a região. Hoje o objetivo tornou-se mais distante senão impossível.

Porém, além deste recente episódio, fica a dúvida sobre a motivação e qualidade das decisões de tão impulsivo presidente. A substituição de uma política externa prudente e cuidadosamente elaborada por arroubos emotivos num mundo nuclearizado eleva, além do permissível, o risco que paira sobre todos.

Enquanto isso, o trágico prevalece. Vítimas da guerra, do terrorismo. tanto na Síria como no Iraque no Iêmen. Nas ruas explodem os fanáticos, dos céus caem as bombas. Para as crianças que morrem e sofrem todos os dias, o martírio continua porque os adultos não sabem como contê-lo.



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