domingo, 26 de março de 2017

Ética e Sociedade

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O Grito,  por Edvard Munch

Se a formulação da ética tem por objetivo acentuar a harmonia, o comportamento equilibrado dentre os segmentos que compõem a sociedade assim propiciando a evolução civilizatória, o mesmo se aplica à estética, que também busca o equilíbrio e harmonia na construção daquilo que pode se chamar de Bello, seja na forma, nas cores, nos sons, que parecem apontar para o ethos cívico. Assim, uma e outra caminham juntas, auto-alimentando-se.

A arte, habitualmente, busca a expressão estética dos grandes temas do então presente. Do equilíbrio harmonioso que oferece como denominador comum, possível inferir-se a harmonia ou, inversamente, o conflito que prevalece na sociedade que a cria. Ao ocorrer o esgarçamento da ética esta não tarda em gerar a resposta estética. Na desarmonia expressa pela arte contestatária reside a denuncia do desvio que contamina a sociedade, desvendando o mal feito e a hipocrisia prevalente que não mais sustentam o edifício social.

A chaga aberta na ética brasileira revela-se, cada vez mais profunda. A partir da incontida busca pelo poder aliada à anomia jurídica, alastra-se a teia que captura a extensão dos quadros partidários. Também, no lado empresarial responsável, na medida de sua relevância econômica, evidencia-se a ruptura do equilíbrio ético, onde é clara a dissonância na partitura que deveria equilibrar os interesses do capital, do trabalho e do consumo, elementos essenciais à perenidade do sistema. Ao repudiar a ética que exige harmonia desestabiliza-se a base moral, invalidando leis, subordinando o bem comum à ganância imediatista.

Não raro, observa-se manobras societárias, conluios gerenciais, acertos cartelistas e, na dimensão mais abjeta, a conspurcação do produto vendido com o intuito de, ao enganar o consumidor, potencializar o beneficio de um segmento às expensas dos outros. Desmoraliza-se, assim, a crença no capitalismo, força essencial, quando aplicada dentro dos limites da ética, para o desenvolvimento da sociedade.

Já, as forças empresariais que poderiam influir para o aperfeiçoamento do projeto-nação, parecem elas prisioneiras de pueril simplismo, na ilusão de evitar o inevitável: a prestação de contas imposta pela pela resposta político-social. Suas formulações e comportamento conflitam com a busca de solução abrangente, onde tanto o topo quanto a base da pirâmide sócio-econômica são inter dependentes na criação de uma nação próspera. Pelo contrário, buscam nas manobras essencialmente imediatistas amealhar fortuna e poder, ignorando que os benefícios ganhos, se não compartilhados na dimensão macro, inviabilizarão politicamente a perenidade de suas ambições.

Tais comentários poderão ser por muitos desprezados por estarem alheios à realidade vigente, de pouco valor prático. Contudo, evocando ditado inglês que reza “The sight of the gallows sharpens the mind”* oportuno será lembrar quão próximas estão as eleições presidenciais, e os perigos que encerram.



*A visão do patíbulo aguça a mente

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