O Grito, por Edvard Munch |
Se a formulação da ética tem por objetivo acentuar a harmonia, o
comportamento equilibrado dentre os segmentos que compõem a
sociedade assim propiciando a evolução civilizatória, o mesmo se
aplica à estética, que também busca o equilíbrio e harmonia na
construção daquilo que pode se chamar de Bello, seja na forma, nas
cores, nos sons, que parecem apontar para o ethos cívico. Assim, uma
e outra caminham juntas, auto-alimentando-se.
A arte,
habitualmente, busca a expressão estética dos grandes temas do
então presente. Do equilíbrio harmonioso que oferece como
denominador comum, possível inferir-se a harmonia ou, inversamente,
o conflito que prevalece na sociedade que a cria. Ao ocorrer o
esgarçamento da ética esta não tarda em gerar a resposta estética.
Na desarmonia expressa pela arte contestatária reside a denuncia
do desvio que contamina a sociedade, desvendando o mal feito e a
hipocrisia prevalente que não mais sustentam o edifício social.
A chaga
aberta na ética brasileira revela-se, cada vez mais profunda. A
partir da incontida busca pelo poder aliada à anomia jurídica,
alastra-se a teia que captura a extensão dos quadros partidários.
Também, no lado empresarial responsável, na medida de sua
relevância econômica, evidencia-se a ruptura do equilíbrio ético,
onde é clara a dissonância na partitura que deveria equilibrar os
interesses do capital, do trabalho e do consumo, elementos essenciais
à perenidade do sistema. Ao repudiar a ética que exige harmonia desestabiliza-se a
base moral, invalidando leis, subordinando o bem comum à ganância
imediatista.
Não raro, observa-se
manobras societárias, conluios gerenciais, acertos cartelistas e, na
dimensão mais abjeta, a conspurcação do produto vendido com o
intuito de, ao enganar o consumidor, potencializar o beneficio de um segmento às expensas dos outros.
Desmoraliza-se, assim, a crença no capitalismo, força essencial,
quando aplicada dentro dos limites da ética, para o desenvolvimento
da sociedade.
Já, as
forças empresariais que poderiam influir para o aperfeiçoamento do
projeto-nação, parecem elas prisioneiras de pueril simplismo, na
ilusão de evitar o inevitável: a prestação de contas imposta pela
pela resposta político-social. Suas formulações e comportamento conflitam com a busca de solução abrangente, onde tanto o topo quanto a base
da pirâmide sócio-econômica são inter dependentes na criação de
uma nação próspera. Pelo contrário, buscam nas manobras essencialmente
imediatistas amealhar fortuna e poder, ignorando que os benefícios
ganhos, se não compartilhados na dimensão macro, inviabilizarão politicamente a perenidade de suas ambições.
Tais
comentários poderão ser por muitos desprezados por estarem alheios
à realidade vigente, de pouco valor prático. Contudo, evocando ditado
inglês que reza “The sight of the gallows sharpens the mind”*
oportuno será lembrar quão
próximas estão as eleições presidenciais, e os perigos que
encerram.
*A
visão do patíbulo aguça a mente
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