terça-feira, 2 de maio de 2017

Repensar a aliança?

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Graças ao Brexit, é provável que  que dentro de dois ou três anos o mapa geopolítico do planeta sofra transformações. provocando inevitáveis reajustes.

No âmbito da União Europeia, a Grã Bretanha tem agido seguindo dois vetores mestres; atender os seus interesses e os do Commonwealth britânico e, em contrapartida ao special relationship que existe entre ambos, facilitar a inserção    dos interesse norte americanos naquela instituição. Retirando-se o Reino Unido da União Europeia, Washington perderá muito da visão íntima e a forte influência indireta até agora assegurada.

Talvez seja este o momento de vir a Europa reavaliar a extensão e profundidade desta aliança com os Estados Unidos que prevalece já faz quase 80 anos.

A Europa pós 2a Guerra Mundial abriu mão de muito de sua soberania no que tange sua política externa, em troca do guarda chuva de segurança oferecido por Washington. Tal troca parecia fazer sentido enquanto existisse a universalista ideologia comunista, esta combinada com o imenso poderio militar da União Soviética. Hoje, a Rússia, sua sucessora, não mais comanda 300 milhões mas sim uma bem mais modesta  população de apenas 145 milhões. Não mais tem condições de ameaçar a União Européia, nuclearizada, com população e PIB muitíssimo superior, com capacidade de mobilizar recursos suficientes para conter qualquer investida. Ainda, em caso extremo, contaria com o apoio norte-americano, este ciente que a Europa é sua primeira linha de defesa.

Cumpre, portanto, indagar-se até que ponto a atual conformação desta aliança, onde prevalece a Organização do Tratado do Atlântico Norte OTAN que, na prática, subordina militarmente  a Europa aos interesses dos Estados Unidos, revela um destoamento de propósitos, senão uma divergência parcial de objetivos comuns.

Nos últimos momentos do Império Soviético, Mikhail Gorbashov demonstrava nítida preferência pela pacificação, não só dando término ao Pacto de Varsóvia como também optando por iniciativa inédita ao desmembrar e enfraquecer seu próprio país sem que tal fosse imposto por força maior. Seguindo seus passos, Boris Yeltsin estabeleceu o sistema capitalista na Rússia com tal ímpeto e desordenamento que a levou à beira da falência. Eliminou qualquer resquício de confrontação com o Ocidente.

Esta transformação e fortalecimento da relação Europa-Rússia, resultou, inicialmente, pela détente  promovida pela Alemanha e em seguida ampliada por investimentos industriais e minerais em direção Leste e pelo fluxo do petróleo russo em direção Oeste.

Neste mesmo sentido anti-bélico caminhou o sucessor, Wladimir Putin, abrindo as portas da Rússia para os investimentos Ocidentais, já mais confiantes pela recomposição econômica alcançada. Sua postura somente endureceu a partir das duas iniciativas promovidas pelos Estados Unidos, trazendo a Europa a reboque, de levar a ameaça militar, pela "Otanização" da Georgia e da Ucrânia, às fronteiras da Rússia. Por resultado rompeu-se o equilíbrio de confiança mútua, reiniciando-se o clima de hostilidade anteriormente sepultado.

A auto imposição de liderança do "mundo livre" impõe aos Estados Unidos uma politica externa assertiva, mobilizando fatores políticos, econômicos e militares que se entrelaçam. Seu campo de atuação é global, portanto seus objetivos em determinada região, como a Europa, podem ser, em ocasiões,  conflitantes com os interesses desta. Em decorrência de sua "responsabilidade", os Estados Unidos tem, ao longo das últimas décadas, participado em incontáveis operações bélicas e o futuro não parece pacífico. Ainda, já é notória sua preferência pela tough diplomacy, opção ineficaz para uma distensão internacional duradoura.

Ao ser criado o projeto da União Europeia buscou-se tanto os benefícios econômicos quanto os antibelicistas. No campo das relações internacionais, sua ênfase prioritária deve ser a da pacificação pela diplomacia. Não que lhe falte capacidade para armar-se e defender-se, porém atrelar-se à formulação bélica como instrumento de política internacional não será compatível com projeto tão admirável.  





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