domingo, 12 de março de 2017

Perigos e armadilhas


Mapa de Médio Oriente

O Oriente Médio não promete descanso. Os Estados Unidos mantém um ritmo de intervenção que só faz aumentar a confusão reinante. A cada inimigo que combate, cria outros, desta forma assegurando a perenidade dos conflitos naquela parte do mundo.

No momento, Washington revela, em toda a plenitude, sua aliança com os curdos. Já na época em que combatia a resistência Sunita iraquiana, os Estados Unidos formaram aliança com aquela “nações” concedendo-lhes autonomia em troca de colaboração militar. Hoje, este entrosamento estende-se à guerra contra o Estado Islâmico.

Simultaneamente, em luta incessante pela sua independência, os Curdos recorrem ao confronto armado contra os países que lhes são soberanos, a Turquia, a Síria, o Iraque e o Irã, o que lhes vale o epíteto de “terrorista” tendo em vista os métodos utilizados. Hoje, a ação militar que une os Estados Unidos e os “pesh mergas”, braço armado Curdo, redunda, conforme a visão turca, em séria ameaça.

Ancara considera a autonomia armada curda atentatória à sua segurança e, portanto, inaceitável. Este contencioso poderá ter por consequência o esgarçamento das relações com Washington, comprometendo a eficácia da OTAN naquele teatro.

No Iraque, o que começou por uma aliança com o Curdistão iraquiano contra as forças pró Saddam Hussein, terminou por Washington promover sua virtual independência. À autonomia política se soma a econômica, onde a exploração de petróleo se dá de forma independente, ainda que inconstitucional, do governo central. É de se prever robusta reação de Bagdá uma vez cessada a ameaça do EI na região.

Ao combater o governo de Damasco através de um anêmico grupo de rebeldes intitulado Exército Livre da Síria, Washington investe forte capital político-militar em projeto destituído de qualquer relevância bélica. Tão frágil é o instrumento escolhido pelo Pentágono que sua atuação, para que tenha eficacia, se dá mediante alianças com grupamentos mais poderosos dentre os quais a própria Al Qaeda. Ou seja, macula sua reputação em boa parte daquela região sem que, por contrapartida, possa atingir seu objetivo de derrubar o presidente sírio. Ainda, lhe fornece armamento sofisticado cujo destino final será, muito provavelmente. o arsenal de grupos radicais alheios ao controle do Pentágono.

Ora, ainda que imprudente fazer-se previsões sobre o futuro de região tão conturbada, é provável que Hassan Assad mantenha-se no poder, gradualmente fortalecido pelo aliado russo e, novo desdobramento, pelo beneplácito de uma Turquia, há pouco hostíl. O alheamento dos Estados Unidos no diálogo com player desta relevância não parece ser compensado pelas vantagens duvidosas de sua derrubada

É improvável que Donald Trump tenha estabelecido qual a estratégia a seguir no Oriente Médio. A prosseguir no atual rumo os Estados Unidos tornar-se-ão progressivamente caudatários dos objetivos estratégicos da Arábia Saudita naquela região que privilegiam o enfraquecimento ou a eliminação dos estados xiitas. Washington, ainda que perceba, já se torna mais uma peça no xadrez da família Al Saud como revela seu envolvimento na guerra contra o Iêmen.*

Enquanto os Estados Unidos se debatem nas areias movediças da Mesopotâmia e adjacências, os nativos observam e apreendem. De pouco proveito teriam sido as alianças firmadas com Washington por serem elas dúbias e inconstantes. Enquanto a política externa norte americana oscila entre a real politik e anseios pueris por valores inaplicáveis que levam, justamente, à dubiedade observada, as capitais árabes, turca e persa próximas ao conflito sentem-se, quando não traídas, ameaçadas pela inconsistência observada.

Por subproduto deste emaranhado de objetivos conflitantes e ações desastradas tem-se o êxodo árabe em direção ao Velho Continente, trazendo por consequência a desestabilização da União Européia.

Enquanto isso, a palavra fica com Donald Trump.

*Recentemente publicado pelas Nações Unidas, “the war in Yemen has caused the largest humanitarian crisis in the world.”



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