Bons ventos sopram da
Europa. Contrariando o pessimismo espelhado na imprensa global, parece
não ter chegado o momento da desconstrução do maior experimento
civilizatório do Ocidente, a União Européia. Prometendo o fim das
guerras entre países e alianças e, ainda, permitindo a livre
circulação de seus cidadãos Europa a-fora chega-se à gradual
polinização cultural dentre todos, derrubando mitos e preconceitos, ódios e intolerância, e barreiras psicológicas erguidas durante
milênios na luta por supremacia regional.
Será na Holanda que se
verá a redenção do conceito Europa una? Em voltas com uma eleição
radical, onde a questão imigratória tornou-se o tema decisivo e o
embate intenso a ponto de provocar agudas tensões internacionais.
Tanto Mark Rutte quanto Recep Erdogan buscaram vantagens ao eclodir o
confronto diplomático. O holandês, no seu áspero tratamento de
dignatários turcos, conquistou votos xenófobos que teriam ido para
Wilders, enquanto o turco obteve os votos nacionalistas de seu país
ao explorar o inusitado tratamento recebido por seus ministros.
Geert Wilders |
A resultante derrota de
Geert Wilders na Holanda revela que ainda é possível derrotar as
forças retrógradas que se manifestam na Europa, que refletem o animus político que vem se acentuando nos últimos anos. Adubado
pela tempestade econômica gerada em Wall Street em 2007/08 cujos
efeitos em seguida invadiram o Velho Continente, criou-se um
ambiente de temor generalizado pela sobrevivência das classes média
e trabalhadora, massacradas pelo desemprego. Assim, fez-se natural
direcionar tal reação ao campo político, refletindo o repúdio a
qualquer espécie de concorrência pelos minguados postos de
trabalho. À invasão vinda do Leste europeu somou-se o crescente
fluxo de refugiados expulsos de suas terras pelas guerras iniciadas
por George W. Bush onde o objetivo de regime change
aliado à tecnologia dos bombardeios aéreos teve por resultado
colateral a massificada matança de civis.
Hoje, a modesta, porém
estável melhoria nos prognóstico econômicos europeus, onde o
crescimento real do PIB regional já se manifesta, poder-se-ia
prenunciar a paulatina reversão da intolerância ainda hoje
prevalecente. Ainda, a iminente derrota do Estado Islâmico acoplada
à tendência de estabilização da Síria reduzindo o morticínio e
o consequente êxodo migratório poderá atenuar a ameaça que hoje
sofre a Europa.
É provável que o
ocorrido na Holanda venha a exercer influência no quadro eleitoral
francês. O clima exaltado que decorreria da vitória dos radicais
holandeses já perdeu algo de seu ímpeto, assim contendo a ascensão
de Marine le Pen. Já, os efeitos da trapalhada de François Fillon
se fazem sentir, amputando suas aspirações. Resta a questão:
quem herdará os votos perdidos dos Les Republicains? Emanuel Macron
parece contente.
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