sexta-feira, 17 de março de 2017

Os ventos da Holanda

Bons ventos sopram da Europa. Contrariando o pessimismo espelhado na imprensa global, parece não ter chegado o momento da desconstrução do maior experimento civilizatório do Ocidente, a União Européia. Prometendo o fim das guerras entre países e alianças e, ainda, permitindo a livre circulação de seus cidadãos Europa a-fora chega-se à gradual polinização cultural dentre todos, derrubando mitos e preconceitos, ódios e intolerância, e barreiras psicológicas erguidas durante milênios na luta por supremacia regional.

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Será na Holanda que se verá a redenção do conceito Europa una? Em voltas com uma eleição radical, onde a questão imigratória tornou-se o tema decisivo e o embate intenso a ponto de provocar agudas tensões internacionais. Tanto Mark Rutte quanto Recep Erdogan buscaram vantagens ao eclodir o confronto diplomático. O holandês, no seu áspero tratamento de dignatários turcos, conquistou votos xenófobos que teriam ido para Wilders, enquanto o turco obteve os votos nacionalistas de seu país ao explorar o inusitado tratamento recebido por seus ministros.

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Geert Wilders

A resultante derrota de Geert Wilders na Holanda revela que ainda é possível derrotar as forças retrógradas que se manifestam na Europa, que refletem o animus político que vem se acentuando nos últimos anos. Adubado pela tempestade econômica gerada em Wall Street em 2007/08 cujos efeitos em seguida invadiram o Velho Continente, criou-se um ambiente de temor generalizado pela sobrevivência das classes média e trabalhadora, massacradas pelo desemprego. Assim, fez-se natural direcionar tal reação ao campo político, refletindo o repúdio a qualquer espécie de concorrência pelos minguados postos de trabalho. À invasão vinda do Leste europeu somou-se o crescente fluxo de refugiados expulsos de suas terras pelas guerras iniciadas por George W. Bush onde o objetivo de regime change aliado à tecnologia dos bombardeios aéreos teve por resultado colateral a massificada matança de civis.

Hoje, a modesta, porém estável melhoria nos prognóstico econômicos europeus, onde o crescimento real do PIB regional já se manifesta, poder-se-ia prenunciar a paulatina reversão da intolerância ainda hoje prevalecente. Ainda, a iminente derrota do Estado Islâmico acoplada à tendência de estabilização da Síria reduzindo o morticínio e o consequente êxodo migratório poderá atenuar a ameaça que hoje sofre a Europa.

É provável que o ocorrido na Holanda venha a exercer influência no quadro eleitoral francês. O clima exaltado que decorreria da vitória dos radicais holandeses já perdeu algo de seu ímpeto, assim contendo a ascensão de Marine le Pen. Já, os efeitos da trapalhada de François Fillon se fazem sentir, amputando suas aspirações. Resta a questão: quem herdará os votos perdidos dos Les Republicains? Emanuel Macron parece contente.


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