sexta-feira, 8 de julho de 2016

Terrorismo e vingança



Resultado de imagem para fotos de terrorismoPoucos teriam imaginado que uma organização tão letal quanto a Al Qaeda poderia ser superada no campo do terrorismo. Pois, ao observar-se a incepção e o crescimento do Estado Islãmico tem-se a resposta: o sucessor suplanta o anterior nos danos que pode causar ao Ocidente. Sua ideologia se transmite, não apenas à núcleos organizados, dispostos a tudo, mas, o que oferece ainda maior perigo, à indivíduos esparsos e disseminados através do globo, dispostos a oferecer a vida, motivados pela ideologia da Vingança.

Al Baghdadi, seu fundador, teve por visão o retorno do Califado, que reinaria sobre os povos Muçulmanos. Porém, no âmago de sua proposta observa-se um profundo ódio às potencias Ocidentais. Este ódio, alimentado pelas inúmeras intervenções da Inglaterra, França, Estados Unidos, Israel, Russia e outros ao longo da conturbada história do Oriente Médio, constroe a ideologia que fascina e mobiliza o que parece ser um crescente contingente de fanáticos.

Tendo seu inicio na conquista de alguns territórios na Síria e no Iraque, o movimento ganhou notoriedade e conquistou admiração do enorme segmento que nele vê a oportunidade de retribuir os danos que creem terem sofrido. A insolúvel e sangrenta questão Palestina, o morticínio da guerra do Iraque, o conflito com o Talibã Afegão, ceifador de vidas, muitas delas civis, tornam-se adubo no plantio das queixas, das deshonras, das recriminações.

A primeira etapa, aquela que buscava um Califado geográfico, parece estar no seu término, condenado por uma logística insustentável e uma insuficiência de contingente armado e organizado. Fustigado pelos aviões Russos e da OTAN, pressionados pela aliança xiita, com tropas iraquianas ao Sul, sírias e libanesas a Oeste e pelos sunitas curdos ao Norte, será uma questão de tempo, não muito, para que os centros de Raqqa e Mosul, que sustentam o Estado Islâmico físico, sejam perdidos.

Contudo, a captura deste miolo geográfico dificilmente domará o impeto ideológico do movimento. Mesmo derrotados os grupos armados, a conclusão das ações militares que hoje ferem o Oriente Médio dificilmente garantirão o retorno da paz, tanto na região quanto no mundo. 

Tudo indica que o Estado Islâmico, que já adota em diversas frentes as ações de implacável terrorismo, passe a operar apenas neste módulo. Desprezará fronteiras e limites continentais. Já hoje, pari passu com os combates campais, o terror que espalham atingem alvos inesperados no interior de países longinquos, num extremo o Bangladesh, noutro, os Estados Unidos.

Demonstra uma capacidade de arregimentação só possível quando lastreada por uma mensagem, para muitos, legitimada. De forma surpreendente, os voluntários a uma morte certa se encontram não tão somente nas etnias árabes ou tradicionalmente muçulmanas; encontram adeptos, também, dentre Ocidentais. Em estranhas circunstâncias e coincidências, o descontentamento civilizatório, a repulsa de iniquidades, as injustiças presumidas se desdobram de forma virótica, tornando aliados aqueles irmanados na convicção de serem credores de reparação.

Não parece que esta guerra contra o Estado Islâmico possa ser ganha com tiros e bombas, apenas. Nem, tão pouco, com acuradíssimos serviços de inteligencia. A derrota deste inimigo exigirá do Ocidente, no qual se destaca os Estados Unidos, uma profunda revisão de sua política no Oriente Médio. Nesta não caberá a tão usada e decepcionante tentativa de regime change e nation building pela força. 

Para muitos analistas, chegar-se-a à pacificação, e à consequente derrota do terrorismo somente ao longo de dilatado prazo, através de profunda tolerância cultural, persistente aproximação política e determinado desenvolvimento econômico e comercial. Não, apenas, com bombas.


Nenhum comentário: