Poucos teriam imaginado
que uma organização tão letal quanto a Al
Qaeda poderia ser superada no campo do terrorismo. Pois, ao
observar-se a incepção e o crescimento do Estado Islãmico tem-se a
resposta: o sucessor suplanta o anterior nos danos que pode causar ao
Ocidente. Sua ideologia se transmite, não apenas à núcleos
organizados, dispostos a tudo, mas, o que oferece ainda maior perigo,
à indivíduos esparsos e disseminados através do globo, dispostos a
oferecer a vida, motivados pela ideologia da Vingança.
Al
Baghdadi, seu fundador, teve por visão o retorno do Califado, que
reinaria sobre os povos Muçulmanos. Porém, no âmago de sua
proposta observa-se um profundo ódio às potencias Ocidentais. Este
ódio, alimentado pelas inúmeras intervenções da Inglaterra,
França, Estados Unidos, Israel, Russia e outros ao longo da
conturbada história do Oriente Médio, constroe a ideologia que
fascina e mobiliza o que parece ser um crescente contingente de
fanáticos.
Tendo
seu inicio na conquista de alguns territórios na Síria e no Iraque,
o movimento ganhou notoriedade e conquistou admiração do enorme
segmento que nele vê a oportunidade de retribuir os danos que creem
terem sofrido. A insolúvel e sangrenta questão Palestina, o
morticínio da guerra do Iraque, o
conflito com o Talibã Afegão, ceifador de vidas, muitas delas
civis, tornam-se adubo no plantio das queixas, das deshonras, das
recriminações.
A primeira
etapa, aquela que buscava um Califado geográfico, parece estar no
seu término, condenado por uma logística insustentável e uma
insuficiência de contingente armado e organizado. Fustigado pelos
aviões Russos e da OTAN, pressionados pela aliança xiita, com
tropas iraquianas ao Sul, sírias e libanesas a Oeste e pelos sunitas curdos ao Norte, será uma questão de tempo, não muito, para que os
centros de Raqqa e Mosul, que sustentam o Estado Islâmico físico,
sejam perdidos.
Contudo, a
captura deste miolo geográfico dificilmente domará o impeto
ideológico do movimento. Mesmo derrotados os grupos armados, a
conclusão das ações militares que hoje ferem o Oriente Médio
dificilmente garantirão o retorno da paz, tanto na região quanto no
mundo.
Tudo indica que o Estado Islâmico, que já adota em diversas
frentes as ações de implacável terrorismo, passe a operar apenas
neste módulo. Desprezará fronteiras e limites continentais. Já
hoje, pari passu com os combates campais, o terror que espalham
atingem alvos inesperados no interior de países longinquos, num
extremo o Bangladesh, noutro, os Estados Unidos.
Demonstra
uma capacidade de arregimentação só possível quando lastreada por
uma mensagem, para muitos, legitimada. De forma surpreendente, os
voluntários a uma morte certa se encontram não tão somente nas
etnias árabes ou tradicionalmente muçulmanas; encontram adeptos,
também, dentre Ocidentais. Em estranhas circunstâncias e
coincidências, o descontentamento civilizatório, a repulsa de
iniquidades, as injustiças presumidas se desdobram de forma
virótica, tornando aliados aqueles irmanados na convicção de serem
credores de reparação.
Não
parece que esta guerra contra o Estado Islâmico possa ser ganha com
tiros e bombas, apenas. Nem, tão pouco, com acuradíssimos serviços
de inteligencia. A derrota deste inimigo exigirá do Ocidente, no
qual se destaca os Estados Unidos, uma profunda revisão de sua
política no Oriente Médio. Nesta não caberá a tão usada e
decepcionante tentativa de regime change e nation building pela força.
Para muitos analistas, chegar-se-a à pacificação, e à
consequente derrota do terrorismo somente ao longo de dilatado prazo,
através de profunda tolerância cultural, persistente aproximação
política e determinado desenvolvimento econômico e comercial. Não,
apenas, com bombas.
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