segunda-feira, 11 de julho de 2016

Erros passados e futuros


O recém Relatório Chilcot, publicado na Grã Bretanha,  na realidade não trouxe muita novidade. Confirmou aquilo que o público interessado e analistas possuidores de um grau de objetividade já haviam concluído: a guerra do Iraq foi um monumental engôdo além de um erro trágico.

Resultado de imagem para foto aguia americanaEngôdo, no sentido de fazer crer à manipulada opinião pública e alguns governos ingênuos que Saddam Hussein representava uma ameaça desmedida ao planeta em geral e, particularmente, aos Estados Unidos e aliados, especialmente Israel. Pois nada, as “provas” há tempos apresentadas numa teatral reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas nada mais eram do que prestidigitações engendradas pelos serviços de segurança norte americanos.

Decorreu um monumental erro. O que se viu foi uma tragédia, não só pelas mortes e destruição ocorridas mas, tão importante quanto, as sequelas que até hoje sacodem o mundo, dentre as quais a exponencial expansão do terrorismo. Às bombas e rajadas que por todo canto explodem somam-se as maciças ondas de refugiados que alagam uma Europa intimidada. Aquilo que, aos falcões que dominavam Washington parecia uma aventura de custo contido e alto beneficio, transformou-se em incontrolável tempestade cujo enorme custo ainda está por pagar.

Porém, um dos pontos que mais surpreendeu foi a adesão incondicional da “imprensa livre” ao projeto bélico, sem que deixasse à contestação um lugar, à indagação, à dúvida. Numa revivida experiência do Yellow Journalism na virada do Século XIX para XX, a imprensa norte americana aliou-se à uma guerra cujo pretexto fora "fabricado" pelo governo norte americano para expandir seu império às custas da Espanha. 

Já, os grandes jornais,como a New York Times e Washington Post abraçaram a guerra contra o Iraque, para depois constatar-se que faltaram-lhe razões lícitas para iniciá-la.

“Fast forward” para os dias de hoje.   Observamos que algo semelhante ocorre com relação à Rússia. As declarações oficiais e oficiosas sobre, seja o país, seja seu presidente Wladimir Putin, são continuas e negativas. Até mesmo comentários depreciativos, cunho pessoal, alcançam as folhas. Avaliações de experts e Institutos diversos insistindo sobre as intenções belicosas de Moscou aparecem na imprensa quase que diariamente. O clima criado por esta convergência de declarações vem ciando um animus bélico cujo desdobramento poderá redundar, por incidente inesperado, em conflito.

A recente reunião da OTAN, realizada em Varsóvia sob o comando de Barack Obama, concluiu, obedecendo o roteiro elaborado no Pentágono, pela mobilização de 4000 homens, a serem estacionados na Polônia, para “fazer frente à ameaça russa”. Falou-se também em disponibilidade de armamento nuclear como reforço. Aumenta-se, assim, a temperatura. Cria-se um quadro de latente e crescente hostilidade, cuja eclosão depende, cada vez mais, de circunstancias alheias ao contôle.

Contudo, uma análise objetiva da relação Rússia / Ocidente não prece validar o clima de hostilidade observado. Inicialmente, vale lembrar que ao término da União Soviética ocorreu o seu desmembramento. Por iniciativa de Moscou, a independência foi concedida à uma dezena de países que até então pertenciam, há séculos, à Rússia tsarista. Tal iniciativa parece contradizer avaliações ligando a Rússia à uma politica expansionista. Caso tal ânimo existisse, seria bem mais realista e prático iniciar-se esta expansão pela reabsorção destas repúblicas anteriormente descartadas. No entanto, nenhum movimento nesta direção vem sendo observado.

Por outro lado, desde o desmonte do Pacto de Varsóvia e a democratização do Leste Europeu, vem a OTAN arregimentando associados. Desde a Estônia, a Noroeste da Rússia, progredindo pelo centro da região, onde se destaca a Polônia, até atingir a Turquia no Leste europeu completa-se aquilo que a Rússia, não sem alguma razão, reputa ser um cerco militar.

Contudo, afim de resguardar a sua segurança vital, Moscou não tolera a cooptação pela aliança militar Ocidental dos estados tampão que lhe são vizinhos. Dentre estes estão a Bielo Rússia, a Georgia e a Ucrânia. Conforme sugere a história da Rússia, parece razoável antevê-la disposta até mesmo à guerra nuclear para preservar sua integridade.

Por outro lado, Moscou entende que qualquer iniciativa sua contra qualquer nação membro da OTAN redundará em retaliação devastadora dos Estados Unidos e seus aliados, cujo poder militar excede, por larga margem, o de qualquer nação. Uma análise, por perfunctória que seja, rejeita, assim, qualquer aventura Russa em direção à Europa.

No entanto, apesar de inteiramente cientes da “linha vermelha” estabelecida pela Rússia quanto a estes “estados tampão”, Washington não parece conter sua ambição, desprezando as necessidades tidas como vitais à segurança daquela Nação. O faz a grande risco, risco este que será acentuado após as eleiçoes presidenciais nos Estados Unidos. Observando-se o discurso de Donald Trump e a “tough foreign policy” defendida por Hillary Clinton, lícito presumir-se o aumento das tensões internacionais.

Espera-se que, no cenário político que se avizinha, a imprensa mantenha-se livre e imparcial, e recuse acumpliciar-se às agendas políticas que tem a guerra como instrumento para a ampliação de poder.



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