Em 1848, como se
pandemia fosse, as revoluções esparalham-se Europa afora. Uma onda
de insatisfação contra o absolutismo político e econômico então
reinante empolgou intelectuais e trabalhadores a rebelarem-se contra
o status quo.
Na França, foi
derrubada a monarquia de Louis Phillippe. Na Itália foi lançada a
semente da unificação, desnudando a inutilidade da duzia de
pequenas nações que a compunham. Na Autro-Hungría foi abolida a
servidão, status apenas um nivel acima da escravidão. Ainda, foi
dada a partida para a unificação da Alemanha. Muitos foram outros
países contaminados pela rebelião, ainda que sem sucesso. No
entanto, o questionamento daquilo que, até então, era o caminho da
verdade revelou-se falso e passível de profundas transformações.
Já, as primeiras
décadas do Século XXI parece revelar uma nova clivagem, revelando
crescente insatisfação com as regras herdadas do Século recém
findo. Dificilmente este mal estar causará conflitos igualmente
violentos aos do Século XIX, tendo em vista a sofisticação e o
poder das forças da ordem, porém crescente parece ser o
questionamento quanto aos pilares que sustentam a moderna sociedade
Ocidental.
Religião, formulação
política, arquitetura econômica, mores, limites cívicos e
sociais e outros são e serão, cada vez mais, debatidos, desnudados e
questionados pelos milhões que, direta ou indiretamente gravam suas
opiniões nas estradas virtuais e nuvens digitais.
Alimentada pela
internet e suas redes sociais, por sua vez abastecida por mihões de
individuos, ultrapassando a comprometida mídia
formal, cria-se uma opinião pública cada vez mais disseminada e
pulverizada, tornando-se globalizada. A pluralidade destas
manifestação derruba muros conceituais e atenua, se não elimina,
o constrangimento imposto por interesses institucionais e econômicos
que sustentam determinada sociedade. Permite e estimula, assim, a
constante reavaliação dos valores inscritos nos contratos
socio-econômicos vigentes, celebrados, até entao, entre o poder
(imperfeitamente dito do povo) e os eleitores (imperfeitamente tidos
por independentes).
A julgar pelos eventos
que cercam as eleições norte-americanas, justo supor-se estar-se
nos primórdios de uma revisão do contrato social até então
vigente. Parece estar sob suspeita a tese Darwiniana sutentando uma
alegada Meritocracia, aliada à crença na eficácia da Trickledown
Economy que justifica e propicia o acumulo de riqueza no topo da
pirâmide social.
Apesar de derrotado, o
Senador Bernie Sanders defendeu e recebeu importante apoio às suas
propostas, algumas de cunho socialista, buscando uma política que
reverta a acentuada concentração de renda e redução de beneficios
iniciada na era Reagan. Até mesmo o candidato Donald Trump,
contrariando os principios que norteiam o partido Republicano,
defende substancial aumento de salário minimo e extensão universal
dos beneficios de saúde.
No
momento, a candidata Hillary Clinton parece ter por responsabilidade
a manutenção do status quo, ainda que cedendo a demandas pontuais.
Obedecerá, provavelmente, o ditame de Giuseppi di Lampedusa: “É
preciso mudar para que as coisas permaneçam iguais.”
Por
outro lado, sem entrar no mérito das posições opostas
assumidas, parece razoável presumir-se que a
oposição às regras do jogo até agora vigente sejam contestadas em
crescente intensidade.
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