quinta-feira, 28 de julho de 2016

Uma nova visão?

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Em 1848, como se pandemia fosse, as revoluções esparalham-se Europa afora. Uma onda de insatisfação contra o absolutismo político e econômico então reinante empolgou intelectuais e trabalhadores a rebelarem-se contra o status quo.

Na França, foi derrubada a monarquia de Louis Phillippe. Na Itália foi lançada a semente da unificação, desnudando a inutilidade da duzia de pequenas nações que a compunham. Na Autro-Hungría foi abolida a servidão, status apenas um nivel acima da escravidão. Ainda, foi dada a partida para a unificação da Alemanha. Muitos foram outros países contaminados pela rebelião, ainda que sem sucesso. No entanto, o questionamento daquilo que, até então, era o caminho da verdade revelou-se falso e passível de profundas transformações.

Já, as primeiras décadas do Século XXI parece revelar uma nova clivagem, revelando crescente insatisfação com as regras herdadas do Século recém findo. Dificilmente este mal estar causará conflitos igualmente violentos aos do Século XIX, tendo em vista a sofisticação e o poder das forças da ordem, porém crescente parece ser o questionamento quanto aos pilares que sustentam a moderna sociedade Ocidental.

Religião, formulação política, arquitetura econômica, mores, limites cívicos e sociais e outros são e serão, cada vez mais, debatidos, desnudados e questionados pelos milhões que, direta ou indiretamente gravam suas opiniões nas estradas virtuais e nuvens digitais.

Alimentada pela internet e suas redes sociais, por sua vez abastecida por mihões de individuos, ultrapassando a comprometida mídia formal, cria-se uma opinião pública cada vez mais disseminada e pulverizada, tornando-se globalizada. A pluralidade destas manifestação derruba muros conceituais e atenua, se não elimina, o constrangimento imposto por interesses institucionais e econômicos que sustentam determinada sociedade. Permite e estimula, assim, a constante reavaliação dos valores inscritos nos contratos socio-econômicos vigentes, celebrados, até entao, entre o poder (imperfeitamente dito do povo) e os eleitores (imperfeitamente tidos por independentes).

A julgar pelos eventos que cercam as eleições norte-americanas, justo supor-se estar-se nos primórdios de uma revisão do contrato social até então vigente. Parece estar sob suspeita a tese Darwiniana sutentando uma alegada Meritocracia, aliada à crença na eficácia da Trickledown Economy que justifica e propicia o acumulo de riqueza no topo da pirâmide social.

Apesar de derrotado, o Senador Bernie Sanders defendeu e recebeu importante apoio às suas propostas, algumas de cunho socialista, buscando uma política que reverta a acentuada concentração de renda e redução de beneficios iniciada na era Reagan. Até mesmo o candidato Donald Trump, contrariando os principios que norteiam o partido Republicano, defende substancial aumento de salário minimo e extensão universal dos beneficios de saúde.

No momento, a candidata Hillary Clinton parece ter por responsabilidade a manutenção do status quo, ainda que cedendo a demandas pontuais. Obedecerá, provavelmente, o ditame de Giuseppi di Lampedusa: “É preciso mudar para que as coisas permaneçam iguais.”

Por outro lado, sem entrar no mérito das posições opostas assumidas, parece razoável presumir-se que a oposição às regras do jogo até agora vigente sejam contestadas em crescente intensidade.





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