Fazem setenta anos
morreu o líder da Alemanha Nazista. Morreu
o homem, mas não suas ideias, ideias impositivas, truculentas,
racistas, supremacistas. A cortina dos
tempos passados, talvez frágil, que
separa o público do cruel espetáculo que
condenou à morte e sofrimento de milhões
de seres humanos não impedirá, necessáriamente,
o ressurgimento do espectro
Já,
nos nossos dias, numa cidade norte americana envolta em festa democrática para a escolha do novo líder dos Estados
Unidos da America, muitas das idéias sepultadas pelo esquecimento ou
pela vergonha, se revelaram, não mortas, mas ressurgentes.
O político ungido pela
Convenção do Partido Republicano faz lembrar ao observador a
ascenção de Adolfo Hitler nos idos de 1933. Visto pelas
elites como ridiculo e incapaz, o líder Nazista, graças à
sua determinação, audácia e extrema habilidade trouxe
à tona e explorou as angustias que
deprimiam o povo alemão. Vencendo as
etapas democráticas, recebeu os votos que o
colocou no cargo de Chanceler* do Estado Alemão. Não
tardou a ditadura de ferro.
Não
por admiração recondita mas sim por método e circunstâncias,
Donald Trump parece tomar o rumo que lembra este
passado sombrio, impelido, certamente, por
amor a sua pátria. Porém, o candidato, em
semelhança ao passado já distante, parece toldado por
incompreensão e ignorância que o leva à
formulações simplistas e perigosas, estas
turbinadas por notável energia, convicçao e ambição.
Ocorrências
semelhantes podem ter levado o emergente líder americano a trilhar
um comportamento que lembre os tempos já, há
muito, sepultados.
A humilhante derrota da
Alemana na então chamada Grande Guerra hoje encontra similitude ao
preencher o imaginário norte americano diante das sucessivas
derrotas sofridas pelas suas forças armadas, desde as retiradas do
Vietnã e do Iraque às resistências inimigas no Próximo Oriente.
Esta suceção de insucessos macula o psiquê da
nação.
A
perseguição aos Judeus, vistos pelo Nazismo
como cumplices dos inimigos vencedores e, ainda, predadores da
riqueza que caberia tão somente à raça germânica lembra, em sua
roupagem moderna, a visão adotada por Trump,
agressiva e truculenta contra os Híspânicos, responsáveis pela
perda de emprego do trabalhador branco, esteio político de sua
campanha.
A inflação galopante
que levara miséria aos trabalhadores da
Alemanha derrotada deu à Hitler o discurso
da redenção econômica da classe trabalhadora. Na America de hoje,
onde esta classe se vê oprimida por renda contida, falta de
oportunidade e concentração de riqueza, Trump vê uma avenida de
apoio popular e expansão de seu poder
político.
Quanto à política
externa, promete Paz, como o fazia a Alemanha de
1938, mas revela, também, sua impaciência, senão
contrariedade frente a qualquer insubmissão.
Promete, não apenas a construção de um muro, mas a imposição do
seu custo à um estado soberano, o Mexico. Declara-se
contrário ao Tratado Nuclear celebrado com o Irã sem que tenha,
ainda, todas as informações cofidenciais e relevantes que sómente
a Presidência lhe dará acesso. Denota truculência quando
confrontado.
Concedendo
profundo desprezo aos políticos confessa repúdio às práticas
democráticas. Donald Trump não
revela como
pretende prosseguir caso eleito, como impedir a atuação dos
políticas contrarios. Hoje, sua mensagem é de primazia de suas
ideias na formulação e execução de sua política, onde a
paciência e tolerância não despontam.
As
similitudes acima arroladas talvez nada sejam mais do que
coincidentes, sem maior profundidade de pensamento ou ação.
Contudo, difícil ignorar-se os paralelos levantados.
Ao
término da Convenção Republicana, Donald Trump enunciou a
aceitação de sua indicação para disputar a presidência dos
Estados Unidos. Proferiu discurso enérgico, afirmativo. Abordando os
mais diversos tópicos de sua misão presidencial, revelou especial
enfâse pela questão de Lei e Ordem. Neste momento exibiu expressão
autoritária, não revelada em discursos anteriores. Por instante, o
rictus totalitário transpassou a natural imagem.
Resta
saber se este foi o início do processo psicológico onde, superando
todas as expectativas, atinge o personagem o poder inimaginado. Não
raro, esta nova condição propicia o sentimento da certeza, da
auto-confiança elevada ao nível onde a dúvida é,
progressivamente, abolida, podendo chegar, em determinadas
circunstâncias, ao sentimento de infalibilidade.
Trata-se de um homem guindado ao poder, inesperadamente. Um homem trazido à tona pelas correntes de um mar político-social revolto. Ainda assim, apesar da solidez das instituições democráticas norte-americanas, difícil prever-se os danos que possa causar um líder desatinado.
Trata-se de um homem guindado ao poder, inesperadamente. Um homem trazido à tona pelas correntes de um mar político-social revolto. Ainda assim, apesar da solidez das instituições democráticas norte-americanas, difícil prever-se os danos que possa causar um líder desatinado.
* Primeiro Ministro
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