sábado, 23 de julho de 2016

O retorno das sombras?

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Fazem setenta anos morreu o líder da Alemanha Nazista. Morreu o homem, mas não suas ideias, ideias impositivas, truculentas, racistas, supremacistas. A cortina dos tempos passados, talvez frágil, que separa o público do cruel espetáculo que condenou à morte e sofrimento de milhões de seres humanos não impedirá, necessáriamente, o ressurgimento do espectro

Já, nos nossos dias, numa cidade norte americana envolta em festa democrática para a escolha do novo líder dos Estados Unidos da America, muitas das idéias sepultadas pelo esquecimento ou pela vergonha, se revelaram, não mortas, mas ressurgentes.

O político ungido pela Convenção do Partido Republicano faz lembrar ao observador a ascenção de Adolfo Hitler nos idos de 1933. Visto pelas elites como ridiculo e incapaz, o líder Nazista, graças à sua determinação, audácia e extrema habilidade trouxe à tona e explorou as angustias que deprimiam o povo alemão. Vencendo as etapas democráticas, recebeu os votos que o colocou no cargo de Chanceler* do Estado Alemão. Não tardou a ditadura de ferro.

Não por admiração recondita mas sim por método e circunstâncias, Donald Trump parece tomar o rumo que lembra este passado sombrio, impelido, certamente, por amor a sua pátria. Porém, o candidato, em semelhança ao passado já distante, parece toldado por incompreensão e ignorância que o leva à formulações simplistas e perigosas, estas turbinadas por notável energia, convicçao e ambição.

Ocorrências semelhantes podem ter levado o emergente líder americano a trilhar um comportamento que lembre os tempos já, há muito, sepultados.

A humilhante derrota da Alemana na então chamada Grande Guerra hoje encontra similitude ao preencher o imaginário norte americano diante das sucessivas derrotas sofridas pelas suas forças armadas, desde as retiradas do Vietnã e do Iraque às resistências inimigas no Próximo Oriente. Esta suceção de insucessos macula o psiquê da nação.

A perseguição aos Judeus, vistos pelo Nazismo como cumplices dos inimigos vencedores e, ainda, predadores da riqueza que caberia tão somente à raça germânica lembra, em sua roupagem moderna, a visão adotada por Trump, agressiva e truculenta contra os Híspânicos, responsáveis pela perda de emprego do trabalhador branco, esteio político de sua campanha.

A inflação galopante que levara miséria aos trabalhadores da Alemanha derrotada deu à Hitler o discurso da redenção econômica da classe trabalhadora. Na America de hoje, onde esta classe se vê oprimida por renda contida, falta de oportunidade e concentração de riqueza, Trump vê uma avenida de apoio popular e expansão de seu poder político.

Quanto à política externa, promete Paz, como o fazia a Alemanha de 1938, mas revela, também, sua impaciência, senão contrariedade frente a qualquer insubmissão. Promete, não apenas a construção de um muro, mas a imposição do seu custo à um estado soberano, o Mexico. Declara-se contrário ao Tratado Nuclear celebrado com o Irã sem que tenha, ainda, todas as informações cofidenciais e relevantes que sómente a Presidência lhe dará acesso. Denota truculência quando confrontado.

Concedendo profundo desprezo aos políticos confessa repúdio às práticas democráticas. Donald Trump não revela como pretende prosseguir caso eleito, como impedir a atuação dos políticas contrarios. Hoje, sua mensagem é de primazia de suas ideias na formulação e execução de sua política, onde a paciência e tolerância não despontam.

As similitudes acima arroladas talvez nada sejam mais do que coincidentes, sem maior profundidade de pensamento ou ação. Contudo, difícil ignorar-se os paralelos levantados.

Ao término da Convenção Republicana, Donald Trump enunciou a aceitação de sua indicação para disputar a presidência dos Estados Unidos. Proferiu discurso enérgico, afirmativo. Abordando os mais diversos tópicos de sua misão presidencial, revelou especial enfâse pela questão de Lei e Ordem. Neste momento exibiu expressão autoritária, não revelada em discursos anteriores. Por instante, o rictus totalitário transpassou a natural imagem.

Resta saber se este foi o início do processo psicológico onde, superando todas as expectativas, atinge o personagem o poder inimaginado. Não raro, esta nova condição propicia o sentimento da certeza, da auto-confiança elevada ao nível onde a dúvida é, progressivamente, abolida, podendo chegar, em determinadas circunstâncias, ao sentimento de infalibilidade.

Trata-se de um homem guindado ao poder, inesperadamente. Um homem trazido  à tona pelas correntes de um mar político-social revolto. Ainda assim, apesar da solidez das instituições democráticas norte-americanas, difícil prever-se os  danos que possa causar um líder desatinado.


* Primeiro Ministro

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