Tudo começou quando o primeiro ministro Britânico resolveu
intimidar a Europa. Ora, nada mais delicioso para o psichê inglês (os escoceses
não compartilham deste prazer) do que
torcer as orelhas de quem chamam, em tom depreciativo, “o Continente”.
E assim, lá se foi Mr. David Cameron tentar alterar as
regras que regem as relações entre os membros da União Europeia, condições
estas anteriormente aceitas pelo Reino Unido .
O fez, sob diversas alegações, entre as quais a de ordem econômica, de
ordem imigratória, de ordem trabalhista,
e outras.
Para reforçar seu cacife nestas negociações, o Premier
Britânico optou por um estrategema que lhe permitisse exercer forte
pressão sobre Bruxelas. Caso vitorioso nestas negociações,
teria o líder conservador, por recompensa, mais uma década dirigindo a política Britânica. Convocou, para tanto, um
referendum em junho, quando os britânicos decidirão se permanecem, ou não, na
União Europeia. Armado desta ameaça
latente, acreditava ele levar Bruxelas à dobrar-se à seus propósitos.
Porém, o tiro parece ter-lhe saído pela culatra. As
negociações que, a seu ver, tinha grande probabilidade de sucesso, encontrou
uma Merkel fazendo barulhos suaves que escondia blindado repudio à qualquer alteração
relevante na regra do jogo. A França,
pouco falou porém seu silêncio gritava pela rejeição das propostas Britânicas.
Nem mesmo o atual presidente da União
Europeia, Donald Tusk, polonês e portanto simpático à Albion, conseguiu ser
favorável às aspirações de Cameron; rejeitou-as.
Assim, o aristocrático Primeiro Ministro sai da refrega com minguadas vantagens, arrancadas nesta difícil
negociação. Vê-se confrontado com um perigo bem maior do que previra. Não tendo
bem avaliado a força dos opositores à permanência na União Europeia, Cameron ora se encontra ameaçado de derrota quando do referendum, arma
que pensava ser sua. Ainda, para surpresa geral, o próprio partido Tory
esgarçou-se, revelando insuspeito apoio
de muitos de seus líderes ao egresso da União Europeia. A estes juntaram-se forças nacionalistas e
eleitores frustrados pelas atuais dificuldades econômicas, levando o resultado
da consulta popular à imprevisibilidade.
Destacadas e respeitáveis fontes, nos campos político e econômico, tanto na Grã Bretanha como alhures,
avaliam o rompimento com o Continente como sendo contrário aos interesses do país.
Ainda que vençam as
forças do “Fico”, o desgaste político decorrente de tão audaciosa e arriscada
iniciativa possivelmente custará à David Cameron seu futuro político. Sofrerá, também, o Reino Unido, visto como pouco confiável “team
player” no maior projeto civilizatório oferecido ao planeta desde o Império Romano.
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