sábado, 4 de junho de 2016

O tiro pela culatra


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Tudo começou quando o primeiro ministro Britânico resolveu intimidar a Europa. Ora, nada mais delicioso para o psichê inglês (os escoceses não compartilham  deste prazer) do que torcer as orelhas de quem  chamam,  em tom depreciativo, “o Continente”.

E assim, lá se foi Mr. David Cameron tentar alterar as regras que regem as relações entre os membros da União Europeia, condições estas anteriormente aceitas pelo Reino Unido .  O fez, sob diversas alegações, entre as quais a de ordem econômica, de ordem imigratória,  de ordem trabalhista,  e outras.

Para reforçar seu cacife nestas negociações, o Premier Britânico optou por um estrategema que lhe permitisse exercer forte pressão  sobre  Bruxelas. Caso vitorioso nestas negociações, teria o líder conservador, por recompensa,  mais uma década dirigindo a política Britânica.  Convocou, para tanto, um referendum em junho, quando os britânicos decidirão se permanecem, ou não, na União Europeia. Armado desta  ameaça latente, acreditava ele levar Bruxelas à dobrar-se à seus propósitos.

Porém, o tiro parece ter-lhe saído pela culatra. As negociações que, a seu ver, tinha grande probabilidade de sucesso, encontrou uma Merkel fazendo barulhos suaves que escondia blindado repudio à qualquer alteração relevante na regra do jogo.  A França, pouco falou porém seu silêncio gritava pela rejeição das propostas Britânicas. Nem mesmo  o atual presidente da União Europeia, Donald Tusk, polonês e portanto simpático à Albion, conseguiu ser favorável às aspirações de Cameron; rejeitou-as.

Assim, o aristocrático Primeiro Ministro  sai da refrega  com minguadas vantagens, arrancadas nesta difícil negociação. Vê-se confrontado com um perigo bem maior do que previra. Não tendo bem avaliado a força dos opositores à permanência na União Europeia,  Cameron ora se encontra ameaçado de derrota quando do referendum, arma que pensava ser sua. Ainda, para surpresa geral, o próprio partido Tory esgarçou-se,  revelando insuspeito apoio de muitos de seus líderes ao egresso da União Europeia.   A estes juntaram-se forças nacionalistas e eleitores frustrados pelas atuais dificuldades econômicas, levando o resultado da consulta popular à imprevisibilidade.

Destacadas e respeitáveis fontes, nos campos  político  e econômico, tanto na Grã Bretanha  como alhures,  avaliam o rompimento com o Continente como sendo contrário aos  interesses do país. 
Ainda que vençam as forças do “Fico”, o desgaste político decorrente de tão audaciosa e arriscada iniciativa possivelmente custará  à  David Cameron  seu futuro político. Sofrerá, também,  o Reino Unido, visto como pouco confiável “team player” no maior projeto civilizatório oferecido ao planeta desde o Império Romano.

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