Súbito, aparecem os
defensores da autorização dos jogos de azar em grande escala,
escala empresarial. É bem verdade que o jogo clandestino já existe.
Também, é verdade que se constata o jogo de loteria e similares,
geralmente sob o beneplácito governamental. Porém, compará-los com
a liberação legal do jogo é incorreto.
O jogo clandestino, por
ser o que é, atrai um numero reduzido de viciados, já acostumados
ou impelidos pela emoção se deixam levar pelo lucro episódico e ao
prejuízo inevitável. Quanto às loterias, seu jogo não permite a
febre da aposta contínua e do repique falimentar.
Já, os casinos
propugnados pelos defensores do jogo, a todos oferecendo o modesto
“caça niqueis”, o sofisticado “baccarat”, e a aleatória
roleta, tornam-se antros onde o dia se confunde com a noite, onde
ricos e pobres se misturam, atraídos pela ânsia do dinheiro fácil,
e, na sua grande maioria, punidos, após longas horas, com a perda de
economias e do trabalho que as criou. Estabelece-se o ambiente
propício ao vicio, que, qual droga, leva à ruína e ao desespero.
Ainda, o soerguimento
do jogo institucionalizado cria, pari passu com prejuízo
social, um caldo de cultura onde germina a corrupção. Capitais
cinzentos, ligados ao jogo marginal e ao tráfico de entorpecentes,
hão de se precipitar em busca de sua quota na empreitada, não só
rentável pela equação que favorece a “casa”, mas pela
singularidade dos dinheiros que lá circulam. Sua específica
anonimidade e fungibilidade transmuta-se em incontáveis riachos que
alimentam a poça turva do dinheiro lavado, livre de seu pecado
original.
Os defensores de tal
legalização apelam para o dúbio benefício da oferta de emprego, a
atração de turistas, a liberdade de empreender. Ainda, exibem como
argumento a existência de casinos nos Estados Unidos, Europa e
alhures.
Quanto ao emprego,
trata-se de uma gota d'água num mar de desemprego, gota esta que
anulará seus benefícios ao criar os custos aumentados pela repressão
à mais uma fonte de criminalidade. Quanto à atração de turistas,
difícil será vislumbrar-se a vinda de estrangeiros para jogar no
Brasil. Se o acaso os trouxer à roleta, será exatamente isto, um
acaso. No que se refere ao exemplo estrangeiro convém lembrar que
ser estrangeiro não constitui diploma de qualidade. Tais
comparações devem submeter-se ao exame das diferenciadas condições
sociais e de riqueza, sem o que fica prejudicada uma comparação
justa e confiável.
A questão de
oportunidade surge forte no trato desta matéria. O país encontra-se
num dos mais preocupantes momentos de sua história face à avalanche
de corrupção que macula a sociedade brasileira. A legalização do
jogo, mesclada à ubíqua lavagem de dinheiro em benefício do crime
generalizado que ora ameaça a estabilidade social e política do
país, tornará mais árdua a tarefa de corrigir o curso e trazer o criminoso à Justiça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário