Como de hábito, a Inglaterra revela estar além de suas forças abraçar plenamente programas que a faça pertencer ao conceito de Europa ampla, não apenas Europa continental.
Não que lhe falte razões. Albion já sofreu algumas invasões
vindas do “Continent”. Inicialmente, nos
primórdios, os Celtas invadiram as ilhas. Em seguida vieram os Romanos, marchando e navegando desde longínqua Roma. Ainda que vitoriosos, retornaram, às
suas terras para protegê-las dos bárbaros. Chegou a vez dos Vikings, saídos da
gelada Escandia, disputando território com outros invasores, os germânicos Anglos e Saxões.
Finalmente, em 1066 os Franceses-Normandos puseram ordem nos trabalhos. Derrotaram
o Rei Harald e conquistaram, para sempre, a terra dos Anglos.
Bem mais tarde, três tentativas de invasão seguiram-se, sem
que tivessem sucesso; no Século XVI, o Espanhol Felipe II e sua Grande Armada, no
Século XVIII, Napoleão, o grande pequeno Corso elevado à Imperador, e, no
Século XX, Hitler, o grade carniceiro. Nos três casos, a cada duzentos anos,
tanto o grande fosso da Mancha protegido pela supremacia da esquadra inglesa quanto
a diplomacia inglesa abortaram aqueles sonhos de conquista.
A adoção de estratégia buscando o “Equilíbrio de Poder” (Balance of Power) na Europa continental
e alhures, teve por objetivo impedir, através de alianças e tratados, que
qualquer país alcançasse poder preponderante,
retirando à eventual nação inimiga e pretenso invasor as necessária condições
de sucesso.
Não será, portanto, surpreendente que, ainda hoje, seja por
hábito seja por astúcia, David Cameron e seu partido Conservador procuram
conter o poder Europeu. Em artimanha política, visando alterar a regra do jogo
que a une à União Europeia, o Premier
Britânico ameaça deixar a União caso não obtenha a concordância desejada.
À audácia política, visando intimidar Bruxelas a
conceder-lhe vantagens, seguiram-se desdobramentos políticos além de sua
estimativa. Em tensas negociações obteve concessões, porém aquém daquelas pleiteadas; assim, Downing Street** se confronta com forças além
de seu controle.
Instados pelo tíbio sucesso, tanto segmentos partidários
quanto extra-partidários como o UKIP “United
Kingdom Independence Party”, parecem levantar-se com inesperado vigor, propugnando
o abandono da União Europeia no plebiscito a ser votado em junho próximo.
Caso a recusa se constate, terá a Inglaterra desafiado a
tendência inexorável de globalização da economia internacional. Além dos substanciais
prejuízos que decorreriam da perda do imenso mercado comum europeu, paira a ameaça
do fracionamento da Grã Bretanha por ser a Escócia favorável à manutenção dos
laços com a Europa.
*Termo que designa a retirada da Grã Bretanha da União
Europeia
** Residência e escritórios do Primeiro Ministro
Britânico
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