Trump e Sanders |
Já a eleição de Barack Obama foi um claro sinal de protesto
contra o estabelecimento político em
Washington. No seu caso a revolta do eleitorado, elegendo um improbabilíssimo
presidente negro, deveu-se, mais ostensivamente, ao repúdio às aventuras
militares de George W Bush, mas também, ao germe da desconfiança nas regras que
regem o jogo político.
Passados quase oito anos, o eleitorado norte americano descortina um novo e imenso protesto. Sim,
porque difícil será dizer que os sucessos de Bernie Sanders, improvável candidato
socialista, e de Donald Trump, um empresário bufo, possam emergir numa
sociedade satisfeita e equilibrada.
Portanto, no caso do eleitorado Democrata, parece razoável
concluir-se que somente profunda insatisfação popular, aquela que emana da
classe média trabalhadora (e não rentista) , está disposta a descartar os
ditames da prudência em busca de novo modelo econômico, onde a atual
concentração de renda e redução de oportunidades para o Americano médio não
mais prevaleça. Ainda, são os jovens eleitores Democratas e Independentes,
clamando por um “level playing field”, que dão ímpeto à revisão das regras do
jogo. Tanto em Iowa como em New Hampshire os resultados das primarias parecem
dar nova e atual vida ao movimento “Occupy Wall Street” em 2011, contrário à
sufocante concentração de renda na “terra das oportunidades”.
Já no campo Republicano, “the Donald” se rebela contra a realidade política que
domina Washington. Seu discurso parece um pot
pourri de ofensas pessoais a seus adversários, Republicanos e Democratas,
permeado de medidas faraônicas (vide o muro entre o México e os USA) e
leoninas, como expulsar todos os imigrantes ilegais e proibir a imigração
muçulmana. Acentua a meta de transformar os Estados Unidos numa nação [ainda] mais
forte, sugerindo a retomada da política bélica no Oriente Médio. Pretende,
também, anular o seguro universal implantado por Barack Obama.
A tal ponto eleva-se o clamor redistributivista, ou anti
concentrador, que estes dois candidatos- líderes, por simplistas que sejam, advertem
o coletivo que se convenciona chamar de
Wall Street. Ainda que não pareça provável que estes dois fire brands conquistem a designação de seus partidos, a mensagem
parece ser clara.
O que hoje se observa no país da “Shining city on the hill” pode ser interpretado como a reação
popular contrária às crenças do liberalismo
mítico, onde a fé nos benefícios aportados pela
Trickle Down Economy e uma distorcida
Meritocracia (onde as oportunidades se abrem para poucos) se revela
insustentável face a análise empírica das décadas passadas.
Deste exercício eleitoral, talvez a classe política depreenda
que uma república preferencialmente dirigida pelos poderosos lobbies e pelos
grandes capitalistas como os Koch e os Adelson, garantes do status quo, não mais terão por resultado
um dócil eleitorado.
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