sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Carnaval


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Os blocos percorrem as cidades, bumbo, trombone e multidão em coro. Serpenteiam pelas ruas em alegria ébria fazendo crer que a tristeza foi espantada.

Será? Será ela passageira? Por mais que o bumbo marque o ritmo e o trombone a melodia uma crescente angustia se infiltra entre os compassos, entre os passos, entre os traços histriônicos de foliões que abraçam a realidade fantasiada. A coisa é agora, hora de pular, gritar, hora de agarrar uma alegria que logo pode fugir.

É o Brasil histriônico, em imensa epidemia alegre, tudo esquece, tudo troca pelo presente, pelo amor à Baco, tudo abandona o que dele não faz parte. Amanhã?  só daqui a cem anos. Hoje, hoje, agora, tudo mais vai embora. Xô crise.

E aquele desgarrado, afastado do ethos febril, que ainda submisso à realidade vê desmoronar o chão que ora serve de palco...  A que ritmos e acordes obedecer ao constatar a epidemia que grassa, trazendo perigos incontáveis, ameaçando vidas nascidas e por nascer? Ameaçando aquele escolhido pelo implacável acaso um destino de indizível sofrimento causado pelo Guilliam-Barré. Aquele abandonado por um Estado falido onde um Ministro da Saúde recorre ao humor para esconder sua abissal ignorância e incomparável incompetência.

E que marchinha cantará chegando à casa com o pouco dinheiro que lhe resta, carcomido por uma inflação que lhe tira o justo sustento. E quais os refrões, senão aqueles repetidos pelos magos que cercam a fada da “justiça social” que traiu seus seguidores? E aquela estrofe que prometia o emprego já perdido pelo folião? E o sincopado imposto que teve que subir para que os apaniguados  mantenham seus cargos de fantasia e seus conselhos enganadores? E que melodiosa  modinha lhe compensará pelas fortunas roubadas, pelas empresas destruídas graças à imensa quadrilha que se apossou da república?

Melhor seria que este povo, face ao descalabro nunca antes visto, buscasse no mais difícil dos protestos, sua indignação: greve de Carnaval.




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