quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O Homem caleidoscópico


O Brasil atravessa uma fase de revelações, a maioria ligada às fraquezas humanas. O inesgotável  caudal de dinheiro que flui dos cofres públicos para os sôfregos cofres sujos de malicia e avidez parece não ter fim. Vem à luz uma súcia de homens em busca de dinheiro e poder, seja como for, doa a quem doer. Envolvida em manto de justiça social, constata-se estar ele esfarrapado pelas mentiras e artimanhas, sendo as maiores vítimas aquelas que alegam proteger.

Constata-se, portanto, uma crescente indignação em todos os setores e níveis da sociedade brasileira. Nunca tão grande solidariedade foi oferecida a um solitário Juiz, ao grupo de promotores públicos, à Polícia Federal e aos demais segmentos que, unidos, fazem avançar esta revolução moral que promete redimir a Nação.

Resultado de imagem para fotos fernando henrique cardosoInfelizmente, e como dificilmente deixaria de acontecer, no meio de tantas revelações que expõem   a fragilidade ética de políticos, surgem nomes ligados a outros partidos, no caso, os de oposição. Nomes que nos merecem respeito e admiração, estes não gratuitos, mas decorrentes de longa vida honrada no trato da res publica.

Assim vem à mente a tragédia grega, onde o Bem e o Mal, a Força e a Fraqueza, compõem o caleidoscópico que é a personalidade humana. Os seres, já acreditavam os antigos Gregos, fossem eles Deuses ou meros humanos, eram constituídos de forças sublimes e maléficas, onde a intensidade variava no âmago de cada individuo. Mesmo na mais nobre mente ronda o germe do mal, o qual, em determinada circunstância aflora sob a capa do bem.

 O sentimento de lealdade ou de generosidade, por elevado que seja, pode ser dobrado e subvertido por circunstâncias, ao executar a vontade de bem fazer. É quando a moral se submete aos instrumentos que, ao validar a intenção, contamina a sua pureza.

Nada mais triste do que ver Fernando Henrique Cardoso, homem honrado, político exemplar, envolvido neste labirinto de versões, fatos e intenções.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Inglaterra e o Brexit

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Como de hábito, a Inglaterra revela estar além de suas forças abraçar plenamente programas que a faça pertencer ao conceito de Europa ampla, não apenas Europa continental.

Não que lhe falte razões. Albion já sofreu algumas invasões vindas do “Continent”.  Inicialmente, nos primórdios, os Celtas invadiram as ilhas. Em seguida vieram os Romanos, marchando e navegando desde longínqua Roma. Ainda que vitoriosos, retornaram, às suas terras para protegê-las dos bárbaros. Chegou a vez dos Vikings, saídos da gelada Escandia, disputando território com outros invasores, os germânicos Anglos e Saxões. Finalmente, em 1066 os Franceses-Normandos puseram ordem nos trabalhos. Derrotaram o Rei Harald e conquistaram, para sempre, a terra dos Anglos.

Bem mais tarde, três tentativas de invasão seguiram-se, sem que tivessem sucesso; no Século XVI, o Espanhol Felipe II e sua Grande Armada, no Século XVIII, Napoleão, o grande pequeno Corso elevado à Imperador, e, no Século XX, Hitler, o grade carniceiro. Nos três casos, a cada duzentos anos, tanto o grande fosso da Mancha protegido pela supremacia da esquadra inglesa quanto a diplomacia inglesa abortaram aqueles sonhos de conquista.

A adoção de estratégia buscando o “Equilíbrio de Poder” (Balance of Power) na Europa continental e alhures, teve por objetivo impedir, através de alianças e tratados, que qualquer  país alcançasse poder preponderante, retirando à eventual nação inimiga e pretenso invasor as necessária condições de sucesso.

Não será, portanto, surpreendente que, ainda hoje, seja por hábito seja por astúcia, David Cameron e seu partido Conservador procuram conter o poder Europeu. Em artimanha política, visando alterar a regra do jogo que a une  à União Europeia, o Premier Britânico ameaça deixar a União caso não obtenha a concordância desejada.

À audácia política, visando intimidar Bruxelas a conceder-lhe vantagens, seguiram-se  desdobramentos políticos além de sua estimativa. Em tensas negociações obteve concessões, porém aquém daquelas  pleiteadas; assim,  Downing Street** se confronta com forças além de seu controle. 

Instados pelo tíbio sucesso, tanto segmentos partidários quanto extra-partidários como o UKIP “United Kingdom Independence Party”, parecem levantar-se com inesperado vigor, propugnando o abandono da União Europeia no plebiscito a ser votado em junho próximo.

Caso a recusa se constate, terá a Inglaterra desafiado a tendência inexorável de globalização da economia internacional. Além dos substanciais prejuízos que decorreriam da perda do imenso mercado comum europeu, paira a ameaça do fracionamento da Grã Bretanha por ser a Escócia favorável à manutenção dos laços com a Europa. 

*Termo que designa a retirada da Grã Bretanha da União Europeia
** Residência e escritórios do Primeiro Ministro Britânico

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O consumismo energético

Seguindo uma política de valorização deste Blog, publicamos, a seguir, importante mensagem do cientista Joaquim Francisco de Carvalho




A Terra é um raro (talvez único) objeto existente no cosmos, que abriga milhões de organismos vivos, que interferem significativamente nos fluxos superficiais de matéria e energia e promovem uma regulação fina da delgada camada (a biosfera) que há cerca de 540 milhões de anos se mantém em condições climáticas relativamente estáveis, que sustentam a vida.
Entretanto, já há algumas décadas, ficou claro que o clima mundial está mudando rapidamente, na direção de um aquecimento global.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), em 2015, as concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa alcançaram o nível mais elevado dos últimos 800 mil anos. A temperatura média na superfície da Terra e sobre os oceanos aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012.
Com um aquecimento dessa rapidez, a humanidade tem pouco tempo para evitar que o aumento global da temperatura ultrapasse o limite de 2ºC, como ficou acertado na COP-21, em Paris, em dezembro passado, mesmo que este já seja um limite arriscado para estancar-se o aquecimento global.
Diante da gravidade desses problemas, torna-se urgente planejar e pôr em prática medidas destinadas a limitar os impactos das atividades humanas sobre a biosfera.
O primeiro obstáculo para pôr em prática as medidas sugeridas na COP-21 está na própria ambição universal inerente à condição humana, de maximizar a utilidade presente, ou seja, a  voracidade do homem por  ganhos imediatos. De fato, em última análise, as mudanças climáticas são provocadas pela exploração e uso de combustíveis fósseis que, por serem lucrativos em curto prazo, são mais empregados, embora agravem o efeito estufa.
Outro grande obstáculo é de caráter cultural, resultante dos muitos milhares de anos em que a humanidade vem subjugando a natureza, à procura de fontes de energia que lhe tragam mais conforto material.
As primeiras civilizações só apareceram de fato com a cultura irrigada de cereais, há cerca de 6.000 anos, na Mesopotâmia, tendo como fonte de energia a força muscular, complementada pela energia cinética dos cursos de água, além da tração animal e da lenha. O fogo já era usado, de forma controlada.
Na Ucrânia, há mais de 4.000 anos, o emprego de cavalos para tração e montaria viabilizou o transporte de alimentos e madeira de regiões distantes, permitindo que a lenha pudesse ser usada como fonte regular de energia para olarias e fundições primordiais, acarretando profundas transformações econômicas e sociais, que – durante a Idade do Cobre – estenderam-se na direção da Europa Ocidental.
Depois, ao longo dos séculos, a madeira (lenha) foi sendo complementada por outras fontes de energia, tais como os ventos (barcos a vela,  moinhos de vento, etc.), o óleo de baleia, a turfa etc.
A silvicultura como atividade econômica p1anejada teve suas bases científicas formuladas e desenvolvidas na Alemanha, nos séculos dezoito e dezenove.
Toda a tecnologia industrial alemã do século dezoito baseava-se na madeira, a começar pelos processos de mineração e refino de metais, que dependiam de troncos, para suporte das galerias, e de carvão vegetal, para a redução dos minérios e geração de calor.
Na Inglaterra, no século XVIII, as florestas estavam sendo devastadas pela extração de lenha e madeiras, especialmente para a construção de navios para a armada.
Na medida em que ficavam mais problemáticas, as velhas fontes iam sendo complementadas ou, em alguns casos, substituídas por novas fontes, mais eficientes, ou mais lucrativas. Assim, a força muscular foi complementada pela lenha e pela tração animal, que foi complementada pela energia das águas e dos ventos, etc.
Em seguida veio o carvão, que foi complementado pelo petróleo, na indústria, nos transportes e nos modernos sistemas agroindustriais.
Concomitantemente, as matrizes energéticas iam-se ajustando a essas fontes.
No século XIX, ainda nos primórdios da Primeira Revolução Industrial, o carvão era abundante e barato. Por isto, em pouco tempo, passou à frente da madeira como fonte de energia. Com isso, as jazidas carboníferas mais acessíveis foram-se esgotando e a exploração passou ao subsolo, em poços e minas frequentemente inundadas, que tornavam indispensável o bombeamento. Esta necessidade está na origem da tentativa de empreendedores ingleses e escoceses, de empregar a máquina a vapor para o acionamento de bombas em minas de carvão. Posteriormente, a máquina a vapor  foi aperfeiçoada por James Watt e passou a ser empregada em fábricas, locomotivas, navios, etc.  Sem esta máquina, a Primeira Revolução Industrial não teria tomado o rumo que tomou.
* * *
No século XIX, entre os anos de 1.830 e 1.840, o emprego da eletricidade nas comunicações (telégrafo) e na metalurgia (galvanoplastia) despertou o interesse dos empresários industriais. Os grandes impulsos vieram em 1.878, quando Thomas Edison criou a lâmpada incandescente de filamento e Werner Siemens apresentou a primeira locomotiva elétrica.
Um pouco mais tarde, Nikola Tesla desenvolveu o motor de corrente alternada, graças ao qual a eletricidade passou a ser usada nas fábricas, para o acionamento mecânico.  Ao mesmo tempo aperfeiçoava-se a turbina hidráulica, como alternativa para a turbina a vapor até então usada na geração elétrica. Surgiram assim as primeiras hidroelétricas de certo porte – e linhas de transmissão que permitiam o uso da energia cinética dos rios, nas cidades e nas fábricas.
* * *
Na virada dos séculos XIX para XX  começava a “idade do petróleo”.  
Foi o petróleo que consolidou o modelo industrial moderno, caracterizado pela produção em massa, com setores dinâmicos como o automobilístico, o naval, o ferroviário, o de máquinas e equipamentos, etc. forçando o desenvolvimento tecnológico de indústrias satélites, ligadas às respectivas linhas de produção.
Além de o petróleo não ser renovável, sua combustão responde pela maior parcela das emissões de gases de estufa. Isto significa que todo o desenvolvimento subsequente à Primeira Revolução Industrial tem-se apoiado em bases ambientalmente deletérias – e fisicamente insustentáveis.
O petróleo abundante e barato ofereceu as condições básicas para o vertiginoso desenvolvimento da indústria automobilística, com seus fornecedores e sub-fornecedores; e uma poderosa estrutura de comercialização, que se estende por todo o mundo em paralelo à rede de distribuição de combustíveis.
Desde as primeiras décadas do século passado, a indústria automobilística vem exercendo um papel de paradigma para a moderna civilização humana. Transformado em suprema aspiração de posse das famílias, o automóvel condicionou a evolução da sociedade, consagrando o transporte individual, que influencia fortemente a ocupação do território, o urbanismo e a arquitetura das cidades modernas e  acarreta importantes mudanças no modo de vida das pessoas.
Por dependerem diretamente do automóvel, os atuais modelos de ocupação do território e  urbanização constituem mesmo a imagem da “idade do petróleo”.
Entretanto, como foi dito acima, a biosfera vem se aquecendo rapidamente, por força da combustão de petróleo, gás natural e carvão.
Medidas drásticas, destinadas a limitar o uso desses combustíveis, tornam-se urgentes. Parece muito difícil que a civilização humana possa reeducar-se, ou "recivilizar-se" para isto, no escasso tempo disponível para evitar que a biosfera se torne imprópria para a vida.


domingo, 14 de fevereiro de 2016

Dilma face a emergência


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Presidenta e seu ministro

Neste fim de semana pôde-se observar como se comporta o governo Dilma face à gravíssima crise. Show, tudo show para a platéia, par dar-lhe a impressão que medidas sérias estavam em curso para debelar o epidêmico Zika.

Desde o espetáculo deprimente de vislumbrar o presidente do Banco Central, de camiseta, oferecendo à opinião pública a impressão de cego perdido em noite escura, batalhando contra o invisível mosquito com a expressão de quem lê balanço de banco em dificuldades.

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Tombini contra o mosquito
A seguir, a máquina de propaganda oficial mostra a mobilização de algumas centenas de soldados, embarcando em seus caminhões após ordem unida impecável, para combater e derrotar o exército inimigo que ameaça infectar milhões de brasileiros.

E chegamos ao triste epílogo onde a presidenta, discursando ao lado de seu Ministro da Saúde, já notabilizado por sua incapacidade, demonstra notável fragilidade lógica,  deblatera sobre as providências que por sua pretensa eficacia deveriam tranquilizar os brasileiros.

Não passaram desapercebidos os minguados recursos disponibilizados para derrotar uma real ameaça à saúde nacional, à reputação do Brasil como país responsável.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Comentários recebidos

Comentários recebidos sobre o artigo "Carnaval"


Muito bom seu texto, Pedro. É terrível viver num mundo que nega a tristeza, a angústia. Sentimentos que trazem consigo o recolhimento e a reflexão para que as dificuldades sejam detectadas e superadas... A alegria que se vê,beira o desespero...O panorama atual realmente assusta. Parabéns!
Monica

Maravilhoso, Pedro!!!!!!!!!!!
Helio

Certissimo Pedro,seu texto eh atual e mto oportuno. !
Lucia Beatriz

Muito certo!!!
Sandra

Pedro Leitão da Cunha e sua visão do Carnaval tão bem desenhada !
Perfecto, que bom seria , os foliões num protesto equivalente às multidões carnavalescas !!!!!!! Só na nossa cultura Tupinikin que rola tudo isso . País seriedade zero fruto de uma Educação precária e a cultura do silêncio e o berro do Carnaval
Marianne

Tem toda razão, q tristeza este carnaval num país atolado em problemas!!!
Maria do Carmo


Peter, fizestes com sutileza um chamado a razão . Parodiando Vandré: QUEM SABE FAZ A HORA, NÃO ESPERA ACONTECER. É difícil , mas, não impossível Abraços, Cley.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

As primárias norte americanas



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Trump e Sanders
Já a eleição de Barack Obama foi um claro sinal de protesto contra o estabelecimento político  em Washington. No seu caso a revolta do eleitorado, elegendo um improbabilíssimo presidente negro, deveu-se, mais ostensivamente, ao repúdio às aventuras militares de George W Bush, mas também, ao germe da desconfiança nas regras que regem o jogo político.

Passados quase oito anos, o eleitorado norte americano  descortina um novo e imenso protesto. Sim, porque difícil será dizer que os sucessos de Bernie Sanders, improvável candidato socialista, e de Donald Trump, um empresário bufo, possam emergir numa sociedade satisfeita e equilibrada.

Portanto, no caso do eleitorado Democrata, parece razoável concluir-se que somente profunda insatisfação popular, aquela que emana da classe média trabalhadora (e não rentista) , está disposta a descartar os ditames da prudência em busca de novo modelo econômico, onde a atual concentração de renda e redução de oportunidades para o Americano médio não mais prevaleça. Ainda, são os jovens eleitores Democratas e Independentes, clamando por um “level playing field”, que dão ímpeto à revisão das regras do jogo. Tanto em Iowa como em New Hampshire os resultados das primarias parecem dar nova e atual vida ao movimento “Occupy Wall Street” em 2011, contrário à sufocante concentração de renda na “terra das oportunidades”.

Já no campo Republicano, “the Donald”  se rebela contra a realidade política que domina Washington. Seu discurso parece um pot pourri de ofensas pessoais a seus adversários, Republicanos e Democratas, permeado de medidas faraônicas (vide o muro entre o México e os USA) e leoninas, como expulsar todos os imigrantes ilegais e proibir a imigração muçulmana. Acentua a meta de transformar os Estados Unidos numa nação [ainda] mais forte, sugerindo a retomada da política bélica no Oriente Médio. Pretende, também, anular o seguro universal implantado por Barack Obama.

A tal ponto eleva-se o clamor redistributivista, ou anti concentrador, que estes dois candidatos- líderes, por simplistas que sejam, advertem o coletivo que se convenciona  chamar de Wall Street. Ainda que não pareça provável que estes dois fire brands conquistem a designação de seus partidos, a mensagem parece ser clara.

O que hoje se observa no país da “Shining city on the hill”  pode ser interpretado como a reação popular  contrária às crenças do liberalismo mítico, onde a fé nos benefícios aportados pela  Trickle Down Economy e uma distorcida Meritocracia (onde as oportunidades se abrem para poucos) se revela insustentável face a análise empírica das décadas passadas.


Deste exercício eleitoral, talvez a classe política depreenda que uma república preferencialmente dirigida pelos poderosos lobbies e pelos grandes capitalistas como os Koch e os Adelson, garantes do status quo, não mais terão por resultado um dócil eleitorado. 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Carnaval


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Os blocos percorrem as cidades, bumbo, trombone e multidão em coro. Serpenteiam pelas ruas em alegria ébria fazendo crer que a tristeza foi espantada.

Será? Será ela passageira? Por mais que o bumbo marque o ritmo e o trombone a melodia uma crescente angustia se infiltra entre os compassos, entre os passos, entre os traços histriônicos de foliões que abraçam a realidade fantasiada. A coisa é agora, hora de pular, gritar, hora de agarrar uma alegria que logo pode fugir.

É o Brasil histriônico, em imensa epidemia alegre, tudo esquece, tudo troca pelo presente, pelo amor à Baco, tudo abandona o que dele não faz parte. Amanhã?  só daqui a cem anos. Hoje, hoje, agora, tudo mais vai embora. Xô crise.

E aquele desgarrado, afastado do ethos febril, que ainda submisso à realidade vê desmoronar o chão que ora serve de palco...  A que ritmos e acordes obedecer ao constatar a epidemia que grassa, trazendo perigos incontáveis, ameaçando vidas nascidas e por nascer? Ameaçando aquele escolhido pelo implacável acaso um destino de indizível sofrimento causado pelo Guilliam-Barré. Aquele abandonado por um Estado falido onde um Ministro da Saúde recorre ao humor para esconder sua abissal ignorância e incomparável incompetência.

E que marchinha cantará chegando à casa com o pouco dinheiro que lhe resta, carcomido por uma inflação que lhe tira o justo sustento. E quais os refrões, senão aqueles repetidos pelos magos que cercam a fada da “justiça social” que traiu seus seguidores? E aquela estrofe que prometia o emprego já perdido pelo folião? E o sincopado imposto que teve que subir para que os apaniguados  mantenham seus cargos de fantasia e seus conselhos enganadores? E que melodiosa  modinha lhe compensará pelas fortunas roubadas, pelas empresas destruídas graças à imensa quadrilha que se apossou da república?

Melhor seria que este povo, face ao descalabro nunca antes visto, buscasse no mais difícil dos protestos, sua indignação: greve de Carnaval.