segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Energia no Brasil

É importante para os leitores deste Blog receber a valiosa colaboração de brasileiros, tais como Joaquim Francisco de Carvalho, Doutor em energia e Mestre em engenharia nuclear. Seu conhecimento na área de energia e de sua irmã gêmea, a preservação ambiental, oferece à tão importante assunto singular perspectiva.



Se os importantes potenciais hidrelétrico, eólico, fotovoltaico e bioenergético disponíveis no Brasil fossem usados judiciosamente, toda a energia consumida no país poderia vir de fontes renováveis e não poluidoras. No entanto os governantes brasileiros pouco ou nada fazem para aproveitar esta extraordinária vantagem.

As vazões dos rios brasileiros vêm caindo ano a ano, e o racionamento de eletricidade só tem sido evitado pela queda da demanda, provocada pela recessão econômica. Mas isto não evitará futuros apagões, porque as mudanças climáticas comprometem ainda mais as vazões dos rios e cerca de 70% da energia elétrica brasileira vêm de usinas hidrelétricas. E não se vê nenhum dignitário falar do desastre anunciado, que será a perda do potencial hidrelétrico.
As bacias do São Francisco, Paraíba, Tietê, Paraná, Iguaçu e até a bacia amazônica, estão sendo devastadas pela pecuária e pelas "plantations" de soja e cana e pelas serrarias.
No caso do São Francisco a situação é gravíssima. Sua nascente, na Serra da Canastra, M.G. está devastada, assim como as matas que margeavam os rios da região que. É por isto as vazões desses rios estão caindo.
Para agravar o quadro, o governo e as empreiteiras insistem no insensato projeto de transposição de águas do São Francisco. Atualmente, o fluxo médio desse rio, ao longo do ano, é da ordem de 2.900 m3/s (metros cúbicos por segundo) mas durante a estação seca é de apenas 1.000 m3/s. Assim, durante esta estação, quando o projeto estiver pronto, a transposição "sangrará" cerca 25% do fluxo do moribundo São Francisco.
Esta é uma das causas da escassez de água, que já aflige algumas cidades.
Em vez de agir no sentido de preservar as bacias hidrográficas, mediante estímulos ao reflorestamento das nascentes e margens dos rios, o governo propõe a implantação de centrais nucleares, precisamente quando esta opção é abandonada por países da vanguarda tecnológica, como a Alemanha, a Bélgica, a Suíça e o Japão, que reativou apenas 2 centrais nucleares, das mais de 40 que operava antes da catástrofe de Fukushima.
A França, que em termos relativos é o país mais nuclearizado do mundo, também deverá ir reduzindo a parte da fissão nuclear em sua matriz energética. A Assembleia Nacional francesa promulgou recentemente a lei da transição energética, lançando uma contagem regressiva para menor dependência da energia nuclear, em favor dos parques eólicos e sistemas fotovoltaicos.
Os defensores das centrais nucleares apontam a intermitência dos ventos e das radiações solares como desvantagem das fontes renováveis.

Ocorre que o aproveitamento das fontes renováveis pode ser muito aperfeiçoado. Por exemplo, a implantação de malhas inteligentes (smart grids) para interligar o sistema hidrelétrico com os parques eólicos e sistemas fotovoltaicos, contribuiria para aumentar muito o fator de capacidade do conjunto e para compensar a intermitência dos ventos e  radiações solares, por meio do chamado "efeito portfólio", pelo qual, à semelhança de uma carteira de ações na bolsa de valores, a produção conjunta de todos os parques varia menos do que as produções de cada parque, isoladamente. E ainda se pode aumentar a eficiência das turbinas eólicas e dos painéis solares.

De outro lado, grandes desperdícios de energia podem ser evitados nas malhas das empresas de distribuição como a Light e a Eletropaulo, nas quais os emaranhados de cabos nos postes induzem correntes reativas que provocam perdas descomunais.

Por fim, se houvesse planejamento energético e se os institutos de pesquisa investissem no desenvolvimento de sistemas de armazenamento de energia em larga escala, um grande impulso seria dado ao emprego das fontes eólica e fotovoltaica.

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