Normal será
considerar-se o homem de esquerda como mais humanista do que seu
oposto, o homem capitalista. Afinal, o socialista deveria passar boa
parte de seu tempo pensando na redistribuição de renda, nos pobres
cuja redenção é responsabilidade da sociedade, enquanto seu
contrário dedica quase todo tempo pautado por Darwin, bem mais
preocupado com a sobrevivência e a opulência do mais forte,
deixando para as classes necessitadas os benefícios putativos da já
desmoralizada “trickle down economy”. Pelo menos, esta é a
impressão geral que predomina.
Ainda, como bônus, o
homem de esquerda goza de certo charme junto ao sexo oposto,
sobretudo quando transita nos meios mais frívolos da vida abastada.
Uma frase dirigida à bela companhia, em convescote banhado em
champagne, declarando-se preocupado com a indigência das crianças
Sírias, trará na interlocutora um suspiro surpreso, encantado, e
um pensamento recôndito cheio de promessas, “Oh, c'est un homme intéressant, c'est
un homme de gauche..“ .
Difícil será saber se
o escolhido paladino de virtudes humanas revela tais pensamentos por
convicção ou por conveniência. De forma muito mais contundente e
de dúvida muito mais justificada, tem-se o comportamento dos
partidos políticos.
No Brasil, o Partido
dos Trabalhadores nos dá um retrato indelével daquele que tem o
discurso solidário e generoso não mais como sincera manifestação
de seus princípios, mas sim como instrumento de conquista e
permanência no poder. Não serão poucos seus integrantes que, de
fato, creem na missão de dar aos pobres condições que lhes
permitam ascender a íngreme trilha que leva à vida digna; outros bem menos sinceros, são levados e arregimentados
pelas lideranças de máquina azeitada pela hipocrisia, reforçada
pelo dinheiro sujo, tendo por missão sua perpetuação.
Ao julgar-se os
resultados de tal empreitada constata-se, não a libertação das
classes sofridas, mas sim o agravamento de sua condição.
Maltratadas pela sequência de casuísmos e malabarismos visando o
domínio político, condenam os atuais governantes àqueles sob sua
guarda às mais terríveis das sentenças; a inflação e o
desemprego.
Não, o socialismo,
como certos bons vinhos, não viaja bem. Criado por Marx, humanizado
pela sociedade Fabiana, atingiu seu ponto de equilíbrio nos paralelos
setentrionais, vide escandinavos. Cortando o Equador, o sol e calor
derretem a disciplina essencial ao Estado Socialista, onde os
sacrifícios impostos recebem a justa contrapartida do bem estar
social.
Conquanto o rigor e a
penúria do gelado inverno ensina a previsão, a prudência, a
organização e a solidariedade, o calor traz no seu bojo a
impunidade pela generosa riqueza que oferece. Assim, em repúdio ao
moralismo de La Fontaine e sua exemplar formiga, nas
terras meridionais viceja o individualismo, a imprevidência, a
improvisação e a irresponsabilidade.
Somente um alto e
disseminado grau de compreensão cívica, filha da educação
universal, poderá oferecer ao Brasil as condições minimas para que
uma ampla e eficaz justiça sócio-econômica
torne-se realidade.