Ucrânia na Europa |
A rebelião que sacudiu Kiev, alastrando-se depois para
outras cidades do Oeste do país promete um futuro atribulado. Um presidente,
democraticamente eleito foi expelido do poder por violento movimento de rua.
O estopim resultou da negativa do presidente Yanukovych em assinar acordo de estreita colaboração com a União Européia. O fez por considerar que tal cooperação lhe obrigava aceitar leoninas condições impostas pelo FMI. Alegou que as condições levariam à Ucrânia excessivos sacrifícios econômicos por longo período. O governo optou, portanto, por aceitar a oferta Russa, onde a manutenção do custo subsidiado de energia provida por Moscou seria mantida e acompanhada de empréstimo de 15 bilhões de dólares.
Tem-se, assim, a gênese da rebelião. A subseqüente escalada
do protesto, ignorando a mão estendida pelo governo, chegando a oferecer o
cargo de Primeiro Ministro para os rebeldes, não mais pode ser contida. A determinação dos revoltosos, insuflada
pela decisão da União Européia de impor sanções ao governo Yanukovych
por resistir a violenta baderna, reforçou a recusa da oposição a qualquer forma de diálogo.
Acentuando ainda mais a ingerência externa, o presidente Obama usou sua já
conhecida (ainda que algo desmoralizada) “linha vermelha”. Não a cruze,
advertiu e adicionou lenha na fogueira, sem esclarecer exatamente qual o limite desejado. Assim, a rebelião, fortalecida pelo apoio das
potências ocidentais, recusou transigir, negociar. Resultou no repudio ao
processo democrático que deveria de desenrolar dentro do plenário do Congresso
Ucraniano.
Fim de estória, ou término de seu primeiro capítulo? Confrontado
com iminente perigo, o presidente Yanukovych foge para Kharkiv, no outro estremo
do país, onde conta com forte suporte político; qual o próximo passo para o
presidente deposto?
O desenrolar deste conflito esconde outro de maior importância.
Camufla o braço de ferro que ora coloca os Estados Unidos e seus aliados
Europeus num lado, e no outro, a Rússia. A partir do colapso da União Soviética,
a OTAN, braço armado das potencias Ocidentais, criada para contenção do colosso
Soviético, obedece a política emanada de Washington que pretende cercar a Rússia ainda que esta não mais ofereça perigo. Seu objetivo é o de
enfraquecer, continuamente, a Rússia, por possuir ela o armamento nuclear capaz
de lhe contestar as ambições.
Pretender atrair a Ucrânia para a esfera de influência
Ocidental traz sérios riscos, uma vez que a disputa se coloca no campo de
interesse vital para a segurança de Moscou. Age o Ocidente, leia-se os Estados
Unidos, com extrema imprudência. A interferência nesta região cria um desequilíbrio
vicioso nas relações dos dois campos, podendo derivar para o confronto armado. Talvez
o Departamento de Estado americano desdenhe
o fato de ser a Ucrânia o berço da nação Russa; seu profundo peso simbólico não
deve ser ignorado.
Impossível que Washington ignore que a perda da Ucrânia levará
Wladimir Putin a temer destino semelhante para seu vizinho ao Norte . O desaparecimento
destes dois estados-tampão, Ucrânia e Bielorrússia, desmantelará o frágil equilíbrio
nas fronteiras dos dois blocos, negando a importância que, há séculos, a diplomacia internacional
dedica à prudência desta formulação. Oportuno será lembrar o ocorrido na Georgia,
em 2008, onde a presunção de apoio norte-americano estimulou o então presidente Saakashvili a
atacar a Ossétia do Sul, também área de vital interesse Russo. A resposta Russa
foi imediata e armada.
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