sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Mais Médicos

Não fosse o estigma “comunista” que acompanha os médicos Cubanos, é provável que a resistência encontrada por parte próspera da sociedade, não existisse.  

Parecem ser duas as questões mestras que regem a avaliação deste projeto:  a primeira se prende à urgente necessidade de prover apoio médico nas áreas, até hoje esquecidas, por este e  governos anteriores; a segunda se refere ao mecanismo engendrado pelo Governo.

A primeira questão parece merecer apoio inconteste, pois não cabe a dúvida que, em muitos municípios deste país continental, o apoio médico ainda é cruelmente inexistente.  A presença de um médico em paupérrimas comunidades, será um alento. Salvará vidas, atenuará sofrimento, ensinará higiene, e será estimulo para comportamento sanitário em benefício de todo o município.
A falta de estrutura nestas inóspitas regiões, não justifica o abandono do programa. Um Médico, com seu estetoscópio e seus conhecimentos, poderá transformar-se em núcleo de gradual aperfeiçoamento.  De qualquer forma, a falta dele será a pior das alternativas.  

A segunda  questão refere-se ao “modus operandi” instituído pelo Governo. Este peca, de início, por falta de transparência em grau que aproxima-se do embuste.  A forma de pagamento aos médicos recrutados em Cuba é, sem dúvida, uma aberração (apesar de serem ignorados os detalhes contratuais).  No caso, a ilha Castrista assume a forma de uma empresa de terceirização; recebe do Brasil R$ 10.000,00 e repassa a seu funcionário/médico a quantia de aproximadamente R$ 2.400,00 mensais (entre recebimento no Brasil e pagamento à sua família em Cuba).  Qual a razão para os R$ 7.600,00, por médico, que chegam aos cofres de Havana, tal qual um absurdo e inexplicado royalty sobre  o trabalho humano?

Ainda, esta fórmula peca na sua essência, pois desconsidera  a conveniência de isonomia contratual  dentre os médicos, Cubanos e de outras nacionalidades, recrutados pelo Programa Mais Médicos.  Resta a dúvida se, ao ser contratado, o jovem Cubano mereceu um relato realista das condições de trabalho que aqui enfrentará, condições estas, em muitos casos, piores do que as que conhece no interior Cubano. Tudo indica que a relutância no cumprimento do contrato aumentará, na medida em que as dificuldades no exercício de sua missão venha a deteriorar a relação custo/benefício.  Num eventual quadro de frustração profissional,   acentuada pelo salário incompleto que recebe,  é razoável prever-se uma crescente deserção.

Contudo, o contencioso cabe aos médicos Cubanos.  De fato não nos diz respeito.  A barreira lingüística será rapidamente superada, pela semelhança dos idiomas;  o nível profissional  parece compatível  com a baixa sofisticação do ambiente; a falta de estrutura  ambulatória ou hospitalar terá o médico como estímulo para sua reversão.  A pergunta que se impõe é: o programa é do interesse de relevante parte da população brasileira? A resposta é um claro Sim.  

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