Não fosse o estigma “comunista” que acompanha os médicos Cubanos,
é provável que a resistência encontrada por parte próspera da sociedade,
não existisse.
Parecem ser duas as
questões mestras que regem a avaliação deste projeto: a primeira se prende à urgente necessidade de
prover apoio médico nas áreas, até hoje esquecidas, por este e governos anteriores; a segunda se refere ao mecanismo
engendrado pelo Governo.
A primeira questão parece merecer apoio inconteste, pois não
cabe a dúvida que, em muitos municípios deste país continental, o apoio médico
ainda é cruelmente inexistente. A presença
de um médico em paupérrimas comunidades, será um alento. Salvará vidas, atenuará
sofrimento, ensinará higiene, e será estimulo para comportamento sanitário em
benefício de todo o município.
A falta de estrutura nestas inóspitas regiões, não justifica
o abandono do programa. Um Médico, com seu estetoscópio e seus conhecimentos, poderá
transformar-se em núcleo de gradual aperfeiçoamento. De qualquer forma, a falta dele será a pior
das alternativas.
A segunda questão refere-se
ao “modus operandi” instituído pelo Governo. Este peca, de início, por falta de
transparência em grau que aproxima-se do embuste. A forma de pagamento aos médicos recrutados
em Cuba é, sem dúvida, uma aberração (apesar de serem ignorados os detalhes contratuais). No caso, a ilha Castrista assume a forma de
uma empresa de terceirização; recebe do Brasil R$ 10.000,00 e repassa a seu
funcionário/médico a quantia de aproximadamente R$ 2.400,00 mensais (entre recebimento
no Brasil e pagamento à sua família em Cuba). Qual a razão para os R$ 7.600,00, por médico, que
chegam aos cofres de Havana, tal qual um absurdo e inexplicado royalty
sobre o trabalho humano?
Ainda, esta fórmula peca na sua essência, pois desconsidera a conveniência de isonomia contratual dentre os médicos, Cubanos e de outras
nacionalidades, recrutados pelo Programa Mais Médicos. Resta a dúvida se, ao ser contratado, o jovem
Cubano mereceu um relato realista das condições de trabalho que aqui enfrentará,
condições estas, em muitos casos, piores do que as que conhece no interior
Cubano. Tudo indica que a relutância no cumprimento do contrato aumentará, na
medida em que as dificuldades no exercício de sua missão venha a deteriorar a relação
custo/benefício. Num eventual quadro de
frustração profissional, acentuada pelo salário incompleto que recebe, é razoável prever-se uma crescente deserção.
Contudo, o contencioso cabe aos médicos Cubanos. De fato não nos diz respeito. A barreira lingüística será rapidamente
superada, pela semelhança dos idiomas; o
nível profissional parece
compatível com a baixa sofisticação do ambiente;
a falta de estrutura ambulatória ou hospitalar
terá o médico como estímulo para sua reversão. A pergunta que se impõe é: o programa é do
interesse de relevante parte da população brasileira? A resposta é um claro
Sim.
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