quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Ainda Ucrânia



Ukraine


Conforme antecipado por esta coluna, tornam-se graves as conseqüências da tomada de poder pela rebelião em Kiev. Numa tentativa objetiva de identificar os fatos relevantes, com base em informação divulgada pela imprensa Ocidental, segue o relato do ocorrido:   

Antecedendo, por poucos dias a derrubada do governo, fora celebrado acordo entre representantes da União Européia, o governo Yanukovych e a oposição, ficando estabelecido uma trégua e posterior eleições para a designação de novo governo. Havia, também, o apoio tácito do governo Russo. Contudo, seguiu-se o descumprindo do acordo; a facção rebelde, liderada por um ex boxeador,  apossou-se  do Parlamento levando, pela intimidação, ao impeachment do então presidente.
Abandonando a postura prudente de exigir o cumprimento do acordo e a convocação de novas eleições, as nações líderes  Ocidentais, no afã de ver seus aliados no governo de Kiev, reconheceram o governo rebelde, desprezando a consulta prévia ao povo ucraniano.

Sem pretender defender o governo Yanukovych,  fontes de referência confiáveis revelam estar a Ucrânia a beira de abismo econômico desde 2008, quando seu PIB teve queda de 17%, levando a  recessão e o desemprego às massas trabalhadoras.  Prece, assim, que a demonização do atual presidente deva ser compartilhada com seu antecessor.   Como paliativo o Ocidente oferece 15 bilhões de dólares, através do FMI, obedecendo sua liberação em parcelas à adoção de reformas na economia. Já a Russia ofereceu ao governo deposto  a mesma quantia,  “no strings attached”. Ainda, Moscou oferece energia a preço muito inferior ao mercado.      

Quem ganhará a Ucrânia, é a pergunta que fica. Não no sentido proprietário, mas no da influência. Pedro o Grande começou e Catarina II completou a conquista de parte do país incluindo a Criméia. A influência Russa naquela região terá perto de 400 anos. Nunca a Ucrânia esteve sob a órbita Ocidental.  

Para melhor entender o que ora acontece, é preciso colocá-lo no contexto  da “nova guerra fria”, onde o enfraquecimento contínuo do poder Russo abre, para o líder  Ocidental e seus aliados,  acesso a maior área terrestre do planeta, onde as riquezas são incalculáveis, onde os dividendos geopolíticos são infindáveis. Ucrânia e Bielorrússia representam  a porta de entrada para a submissão da Rússia, já fragilizada pelas múltiplas etnias que compõe boa parte de seu território. A repetição das rebeliões, por minoritárias que sejam, nas diversas sub republicas que povoam a Rússia, favorecerão a inserção gradual do Ocidente em terras jamais atingidas. Esta estratégia de longo prazo  trará conseqüências tão longínquas quanto o próprio cerco à China.   

Lastreando este objetivo, nota-se na imprensa Ocidental um verdadeiro tsunami mediático, eivado de  informações, avaliações e interpretações negativas para com a Rússia e seus governantes, e cuja unanimidade faz transparecer hábil orquestração.  Segmentos da opinião pública, ainda hoje,  consideram aquele país como sendo comunista e ditatorial, apesar de ser capitalista e obedecer um calendário eleitoral (verificado pela União Européia). Sua imprensa é livre e  seus cidadãos gozam de plena  liberdade de ir e vir. Porém, é um governo de tendência autoritária, fruto de história ininterrupta de governos autocráticos, desde os Tsares aos ditadores Comunistas. São diferentes, sim, porém não mais expansionistas. Pelo contrário, concederam independência a dezenas de republicas Soviéticas que antes compunham o império que, com mão de ferro, era regido por Moscou.  

Assim assistimos um conflito surdo, nas sombras de objetivos recônditos. Jogo de profissional. Porém, convêm lembrarmos que o xadrez joga-se a dois.  Acuado o Urso reagirá?  Qual a intensidade da provocação tolerada, qual levará à resposta militar?

Nenhum comentário: