Conforme antecipado por esta coluna, tornam-se graves as conseqüências
da tomada de poder pela rebelião em Kiev. Numa tentativa objetiva de
identificar os fatos relevantes, com base em informação divulgada pela imprensa
Ocidental, segue o relato do ocorrido:
Antecedendo, por poucos dias a derrubada do governo, fora
celebrado acordo entre representantes da União Européia, o governo Yanukovych e
a oposição, ficando estabelecido uma trégua e posterior eleições para a
designação de novo governo. Havia, também, o apoio tácito do governo Russo. Contudo,
seguiu-se o descumprindo do acordo; a facção rebelde, liderada por um ex
boxeador, apossou-se do Parlamento levando, pela intimidação, ao
impeachment do então presidente.
Abandonando a postura prudente de exigir o cumprimento do
acordo e a convocação de novas eleições, as nações líderes Ocidentais, no afã de ver seus aliados no
governo de Kiev, reconheceram o governo rebelde, desprezando a consulta prévia ao
povo ucraniano.
Sem pretender defender o governo Yanukovych, fontes de referência confiáveis revelam estar
a Ucrânia a beira de abismo econômico desde 2008, quando seu PIB teve queda de
17%, levando a recessão e o desemprego
às massas trabalhadoras. Prece, assim,
que a demonização do atual presidente deva ser compartilhada com seu
antecessor. Como paliativo o Ocidente oferece 15 bilhões
de dólares, através do FMI, obedecendo sua liberação em parcelas à adoção de
reformas na economia. Já a Russia ofereceu ao governo deposto a mesma quantia, “no strings attached”. Ainda, Moscou oferece
energia a preço muito inferior ao mercado.
Quem ganhará a Ucrânia, é a pergunta que fica. Não no
sentido proprietário, mas no da influência. Pedro o Grande começou e Catarina
II completou a conquista de parte do país incluindo a Criméia. A influência
Russa naquela região terá perto de 400 anos. Nunca a Ucrânia esteve sob a
órbita Ocidental.
Para melhor entender o que ora acontece, é preciso colocá-lo
no contexto da “nova guerra fria”, onde
o enfraquecimento contínuo do poder Russo abre, para o líder Ocidental e seus aliados, acesso a maior área terrestre do planeta, onde
as riquezas são incalculáveis, onde os dividendos geopolíticos são infindáveis.
Ucrânia e Bielorrússia representam a
porta de entrada para a submissão da Rússia, já fragilizada pelas múltiplas
etnias que compõe boa parte de seu território. A repetição das rebeliões, por
minoritárias que sejam, nas diversas sub republicas que povoam a Rússia, favorecerão
a inserção gradual do Ocidente em terras jamais atingidas. Esta estratégia de
longo prazo trará conseqüências tão
longínquas quanto o próprio cerco à China.
Lastreando este objetivo, nota-se na imprensa Ocidental um
verdadeiro tsunami mediático, eivado de informações, avaliações e interpretações
negativas para com a Rússia e seus governantes, e cuja unanimidade faz transparecer
hábil orquestração. Segmentos da opinião
pública, ainda hoje, consideram aquele
país como sendo comunista e ditatorial, apesar de ser capitalista e obedecer um
calendário eleitoral (verificado pela União Européia). Sua imprensa é livre e seus cidadãos gozam de plena liberdade de ir e vir. Porém, é um governo de
tendência autoritária, fruto de história ininterrupta de governos autocráticos,
desde os Tsares aos ditadores Comunistas. São diferentes, sim, porém não mais expansionistas.
Pelo contrário, concederam independência a dezenas de republicas Soviéticas que
antes compunham o império que, com mão de ferro, era regido por Moscou.
Assim assistimos um conflito surdo, nas sombras de objetivos
recônditos. Jogo de profissional. Porém, convêm lembrarmos que o xadrez joga-se
a dois. Acuado o Urso reagirá? Qual a intensidade da provocação tolerada,
qual levará à resposta militar?
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