Culpe-se o misterioso labirinto do inconsciente. Ao ver a
fotografia de Barack Obama (seria o espírito de Mandela?) estender a mão a Raul
Castro, que a recebeu com indisfarçável prazer (seria emoção?), veio-me à mente
o colapso da represa de Fréjus.
Já lá vão muitos e muitos anos; a represa continha o rio que
atravessava a pequena cidade francesa, situada na Occitânia, terra de perfumes,
bosques e montanhas. Em tenebroso dia
rompeu-se a barragem, as águas descendo em ondas contínuas, ignorando ou
contornando obstáculos, ceifando vidas em seu rumo ao Mediterrâneo. Nada as continha.
Ao contemplar as fisionomias dos dois chefes de Estado
imaginei, também, o rompimento da
barragem denominada “Embargo”. Aquela que, por um lado fere Cuba, e por outro dá
ao ditador Fidel Castro o pretexto “patriótico” de manter o poder e o rumo
destrutivo de sua economia marxista.
Assim como poderosa corrente d’água, impelida e incontida,
fluida, procurando sempre o caminho de menor resistência, derrubando obstáculos
quando necessário, assim vejo a força
econômica que jorrando, poderosa, contornará, minará os alicerces do passado e afogará os que se lhe opuserem.
A abertura das
oportunidades, a explosão do comércio, os investimentos incontáveis e o retorno
da diáspora Cubana serão as armas mais eficazes para derrubar teorias
fracassadas, conceitos ultrapassados e estruturas corroídas. O povo Cubano,
dono de razoável educação, de boa saúde, de reconhecida inteligência e
operosidade, saberá reinventar-se. Será o retorno do filho pródigo à família hemisférica.
Será a redenção econômica e política de um povo sofrido.
A manter-se o Embargo, repete-se, ad infinitum, estratagema inoperante, que nenhum benefício traz a
quem o impõe. Inevitável reconhecer que tal bloqueio, iniciado há 53 anos, não atingiu seu objetivo, o de dobrar Cuba, o
de derrubar Fidél Castro, o de repudiar o comunismo. Parece estar na hora de alterar
o rumo, de abrir a comportas.
Um comentário:
E o isso se deu no enterro de Mandela, líder que como Gandhi brilha pela vitória conquistada sem sangue ou violência, no sangrento e brutal século XX. Enquanto se confrontaram na raiva e na violência os países perderam, e milhões sofreram os sacrifícios do que fizeram... Quem sabe agora sob a sombra de Mandela, também essa situação melhora?
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