quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Um aperto de mão


                                             


Culpe-se o misterioso labirinto do inconsciente. Ao ver a fotografia de Barack Obama (seria o espírito de Mandela?) estender a mão a Raul Castro, que a recebeu com indisfarçável prazer (seria emoção?), veio-me à mente o colapso da represa de Fréjus.

Já lá vão muitos e muitos anos; a represa continha o rio que atravessava a pequena cidade francesa, situada na Occitânia, terra de perfumes, bosques  e montanhas. Em tenebroso dia rompeu-se a barragem, as águas descendo em ondas contínuas, ignorando ou contornando obstáculos, ceifando vidas em seu rumo ao Mediterrâneo. Nada as continha.

Ao contemplar as fisionomias dos dois chefes de Estado imaginei, também,  o rompimento da barragem denominada “Embargo”. Aquela que, por um lado fere Cuba, e por outro dá ao ditador Fidel Castro o pretexto “patriótico” de manter o poder e o rumo destrutivo de sua economia marxista.

Assim como poderosa corrente d’água, impelida e incontida, fluida, procurando sempre o caminho de menor resistência, derrubando obstáculos quando necessário,  assim vejo a força econômica que jorrando, poderosa, contornará, minará os alicerces  do passado e afogará os que se lhe opuserem.

A abertura  das oportunidades, a explosão do comércio, os investimentos incontáveis e o retorno da diáspora Cubana serão as armas mais eficazes para derrubar teorias fracassadas, conceitos ultrapassados e estruturas corroídas. O povo Cubano, dono de razoável educação, de boa saúde, de reconhecida inteligência e operosidade, saberá reinventar-se. Será o retorno do filho pródigo à família hemisférica. Será a redenção econômica e política de um povo sofrido.

A manter-se o Embargo, repete-se, ad infinitum, estratagema inoperante, que nenhum benefício traz a quem o impõe. Inevitável reconhecer que tal bloqueio, iniciado há 53 anos,  não atingiu seu objetivo, o de dobrar Cuba, o de derrubar Fidél Castro, o de repudiar o comunismo. Parece estar na hora de alterar o rumo, de abrir a comportas.


Um comentário:

Edgar Flexa Ribeiro disse...

E o isso se deu no enterro de Mandela, líder que como Gandhi brilha pela vitória conquistada sem sangue ou violência, no sangrento e brutal século XX. Enquanto se confrontaram na raiva e na violência os países perderam, e milhões sofreram os sacrifícios do que fizeram... Quem sabe agora sob a sombra de Mandela, também essa situação melhora?