segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Ciumes e terrorismo



Qualquer um, de bom juizo, sabe que espionagem é coisa perigosa, sobretudo quando emana  de governo. Mas a agência de espionagem é operada por seres humanos, que com a ajuda tecnológica, adquirem poderes de divindade. O poder da ubiquidade se lhes é oferecido, e o refastelado funcionário não deixará de usar seu poder em beneficio próprio.

Dito e feito; descobre-se agora que empregados da NSA (National Security Agency) espionam maridos e amantes enquanto (não)  buscam terroristas. Prejudicar o concorrente, chantagear o poderoso, vingar-se do inimigo, dar vazão ao preconceito e ao ódio racial é possível. Torna-se esta imensa rede um  perigo real e iminente na medida em que a teia de captura de informação espalha-se através da sociedade.

A frase, "O poder corrompe  e o poder absoluto corrompe de forma absoluta", se aplica seja ao individuo, à grupo e ao próprio Governo. O poder de saber é o maior dos poderes, e saber o pensamento alheio é atingir o saber absoluto.

Pode-se imaginar facilmente onde, não apenas o ciume, mas a cobiça e o ódio, e até a leve antipatia encontram neste novo poder a forma de viabilizar os mais solertes desígnios. Dirse-a que tais abusos não são possíveis, sistemas perfeitos impossibilitam estes desvios. Ledo engano. A possibilidade de descontrole torna-se inevitável realidade. Não ha como controlar sistema que armazena quantidades infindáveis de informação, com a cumplicidade de dezenas (ou centenas?) de empresas, que no seu conjunto empregam dezenas de milhares de indivíduos, cada qual com seu padrão de valores, com suas aspirações, com sua ambição, com seus medos, com seu quadro psicológico. Pois bem, cada uma dessas pessoas pode, em determinado momento, em circunstância favorável, impor sua marca, para o bem ou para o mal. Agrava-se o quadro ao subir o indivíduo  a escala hierárquica (de poder), aumentando, a cada degrau, o perigo da interferência indevida.

Caminha-se, assim, para a "corrupção da inteligência", ou seja,  a continua ampliação de abrangência, alcançando as mais diversas fases da interação humana, buscando a auto-justificativa, distanciando-se dos objetivos originais, porém aumentando o poder de seus dirigentes.  O comando político da nação, acuado pela culpa que lhe será atribuída caso sofra o país qualquer atentado terrorista, torna-se incapaz de assumir o risco político da conter a expansão das "agencias de informação".

Mas, o pior é que  uma crescente rede de espionagem traz o germe que ha de destruir a liberdade individual, sacrificada, como já alertava Hannah Arendt, no altar da "Segurança Nacional".

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